quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Pedido de renúncia

Presidentes das 27 federações estaduais pedem que Caboclo renuncie à presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Dirigentes enviam carta ao presidente afastado um dia após Comissão de Ética recomendar punição considerada branda por denúncia de assédio.

Presidentes das 27 federações estaduais de futebol enviaram nesta quarta-feira (25) uma carta aberta a Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF, na qual pedem a ele que renuncie ao cargo.

O documento foi entregue a Caboclo um dia depois de a Comissão de Ética da CBF sugerir uma punição ao dirigente de 15 meses de suspensão da entidade, uma pena considerada frouxa pelas federações estaduais, por permitir que ele volte à cadeira de presidente com meses de mandato por cumprir.

Duas horas depois da divulgação da carta, Rogério Caboclo emitiu nota oficial na qual descartou renunciar e afirmou que alguns presidentes de federações foram vítimas de "coação irresistível" para assinar o documento (leia a íntegra da nota de Caboclo no fim desta reportagem).

Na carta enviada a Caboclo nesta quarta-feira, os presidentes das federações destacam texto do Código de Ética e Conduta do Futebol Brasileiro: "Todos os segmentos do futebol devem estar comprometidos com o repúdio ao racismo, à xenofobia e a quaisquer outras formas de discriminação e intolerância social, política, sexual, religiosa e socioeconômica".

A decisão da Comissão de Ética desqualificou as denúncias de assédio sexual e moral e recomendou sua punição por "comportamento inapropriado". 

A suspensão tem que ser ratificada pela Assembleia Geral da CBF, composta pelas 27 federações.

O fato de os 27 presidentes terem assinado a carta que pede a renúncia de Rogério Caboclo é um forte indício de que a próxima Assembleia Geral vai concordar com a suspensão proposta pela Comissão de Ética.

Existe entre a CBF e as federações estaduais a expectativa de que outras denúncias sejam julgadas pela Comissão de Ética, o que resultaria numa punição mais longa ao dirigente.

Três vítimas: No total são três mulheres que afirmam ter sido assediadas por Rogério Caboclo. 

Os três casos foram revelados pelo globo esporte.

No dia 4 de junho, uma funcionária o acusou de assédio sexual e assédio moral. 

O segundo caso foi revelado no dia 9 de agosto, quando uma ex-funcionária, em depoimento ao Ministério Público, afirmou ter sofrido assédio. 

O terceiro caso foi publicado no dia 20 de agosto, e incluiu também acusações de agressão.

Rogério Caboclo nega todas as acusações e afirma ser vítima de um complô liderado por Marco Polo Del Nero, seu ex-aliado, com quem rompeu após a crise desatada pelas denúncias de assédio.

O parecer da Comissão de Ética divulgado na terça diz respeito apenas à primeira denúncia. 

Entre os fatos narrados pela funcionária da CBF, estão constrangimentos sofridos por ela em viagens e reuniões com Caboclo, na presença de diretores da CBF.

Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se "masturbava", o áudio desta conversa foi revelado pelo Fantástico em 6 de junho. 

Entre outros episódios, segundo a funcionária, Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de "cadela".

Dois dias depois da denúncia, em 6 de junho, Caboclo foi afastado da presidência da CBF por 30 dias, por determinação da Comissão de Ética do Futebol. 

Na ocasião, a entidade informou que o processo seguiria em sigilo. 

O presidente afastado nega as acusações. 

Em 3 de julho, a Comissão renovou o afastamento de Caboclo por 60 dias, até o fim da investigação, cujo parecer foi divulgado na terça.

Leia a íntegra da carta dos presidentes das federações a Caboclo:

"Sr. Presidente,

As 27 federações estaduais de futebol, legítimas filiadas da Confederação Brasileira de Futebol, por seus Presidentes ou representantes legais abaixo assinados, vêm, respeitosamente, manifestar sua visão unânime e consensual sobre o grave momento por que passa o futebol brasileiro.

Nos termos do Código de Ética e Conduta do Futebol Brasileiro, "todos os segmentos do futebol devem estar comprometidos com o repúdio ao racismo, à xenofobia e a quaisquer outras formas de discriminação e intolerância social, política, sexual, religiosa e socioeconômica". 

Assim, o ambiente do futebol deve ser inclusivo e seguro a todos que nele atuam.

Além disso, são diretrizes fundamentais de conduta, previstas no Código, o respeito à vida, ao bem estar no trabalho, à saúde, à segurança das pessoas, observados os interesses das Federações, das Ligas, dos clubes, patrocinadores e demais entidades, bem como a organização, administração, divulgação e fomento do futebol brasileiro.

Nós, como responsáveis pela condução dos rumos do futebol em cada uma das unidades da Federação, temos o dever de garantir que esses valores sejam preservados e protegidos.

Pela história e representatividade social do futebol brasileiro, temos convicção que atos isolados não podem prejudicar a manutenção da estabilidade do nosso esporte, dos milhares de empregos gerados e do seu papel na construção da cidadania em nosso país.

O momento exige de todos grandeza. 

O bem do futebol brasileiro deve estar acima de quaisquer questões individuais.

Diante de todo o exposto, vimos, pelo presidente, fazer um apelo ao Sr. Rogério Caboclo, que tenha a sensibilidade de reconhecer o momento e, em prol do futebol brasileiro, renunciar ao cargo de presidente da CBF."

Leia a íntegra da nota de Caboclo:

"Ednaldo Rodrigues não é presidente da CBF nem de fato nem de direito. 

A indicação para o ocupante interino do cargo cabe exclusivamente ao presidente afastado, de acordo com o estatuto da entidade.

Rogério Caboclo é inocente da acusação que lhe foi imputada e não renunciará por nenhuma hipótese e não cederá a nenhuma apelação ou desvirtuação estatutária, tendo em vista sua eleição por 96,4% dos votos e por 100% das federações.

Sobre a carta assinada por presidentes de federações que estavam hospedados no Windsor Marapendi, no Rio de Janeiro, que frequentemente é usado pelos capangas de Marco Polo Del Nero como curral eleitoral, sabe-se que até os mais fervorosos defensores do presidente Rogério Caboclo justificaram ter assinado a carta como resultado de uma “coação irresistível”.

Eles foram praticamente obrigados a endossar o documento que, em tese, já teria uma maioria de apoiadores para, assim, não ficarem de fora e sofrerem retaliações.

Todos esses presidentes dizem que o documento de nada vale até o julgamento final que será realizado em assembleia geral, em data ainda a ser definida.

Trata-se de mais um golpe eleitoreiro de Del Nero e seus de vices para tentar ilegitimamente apossar-se da presidência."

Diante da decisão de ontem, que afastou a acusação de assédio contra Caboclo, e o reconduzirá a presidência seja pela assembleia, seja por recurso a ser interposto ou seja pelo cumprimento da pena (com seu retorno em 12 meses), nenhuma eleição poderá ser determinada.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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