segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Briga nos tribunais

Flamengo arriscou paralisar de vez o futebol no Brasil, avaliam dirigentes da Série A e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).


Cartolas temeram início de guerra judicial caso não houvesse jogo contra o Palmeiras.

É grande a bronca de dirigentes dos demais clubes da Série A do Campeonato Brasileiro com o Flamengo. 

Grande a ponto de transformar o conteúdo de conversas reservadas em posts nas redes sociais e entrevistas gravadas.

Os presidentes de Corinthians e Atlético-MG foram os mais enfáticos, mas há muitos outros insatisfeitos. 

Até a Federação Paulista de Futebol soltou uma nota oficial para criticar o Flamengo, publicar o texto foi uma iniciativa do presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Reinaldo Carneiro Bastos, mas é seguro afirmar que ali está refletido o que pensam os quatro grandes clubes paulistas.

É uma constatação unânime: se não houvesse o jogo no Allianz Parque, vários outros clubes fariam pedidos semelhantes à Justiça (desportiva ou não) sempre que tivessem um desfalque importante. 

Segundo essa avaliação, o Campeonato Brasileiro seria o primeiro a ser inviabilizado, outros torneios inevitavelmente viriam na sequência. 

A atuação do Flamengo em todo o episódio foi descrita como "irresponsável" por diversos dirigentes.

Na avaliação dos cartolas dos demais clubes, da CBF e de federações estaduais, o Flamengo pôs em risco a sobrevivência da indústria ao tentar não jogar contra o Palmeiras no domingo (27). 

Primeiro diretamente, via STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). 

Depois, por meio de ações de sindicatos.

Até minutos antes do jogo, duas liminares do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro impediam a realização da partida. 

As liminares terminaram derrubadas por uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho, garantindo a realização do jogo, que terminou em empate por 1 a 1.

O clima de animosidade entre os demais clubes e o Flamengo começou na quinta-feira (24), quando uma reunião para discutir a volta do público aos estádios. 

O encontro terminou em bate-boca entre o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, e o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

Registre-se que não houve, ali, nenhum problema com o representante do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap. 

A bronca foi com o fato de o presidente da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) (falando em nome do Rubro-Negro) tentar forçar a presença de torcida apenas nos jogos no Rio, sem a isonomia defendida pelos demais clubes e federações estaduais.

As tentativas de anulação do jogo contra o Palmeiras só pioraram a situação. 

No sábado (26), uma segunda reunião entre CBF e clubes terminou num consenso que não seria possível voltar com público aos estádios agora, e um novo encontro para avaliar a situação foi marcado para dali a 15 dias.

Flamengo e FERJ foram os únicos convidados a não participar do evento no sábado – o que deixou evidente que existem dois blocos: um formado por estas duas entidades, e outro formado pelos 19 clubes, a CBF e as demais federações estaduais. 

O Rubro-Negro e a entidade, inclusive, divergiram sobre a convocação da reunião, e a CBF negou a versão do Flamengo.

Apesar da insatisfação com a postura do Flamengo, nunca houve por parte de clubes e CBF uma discussão séria sobre paralisar o campeonato. 

Ao contrário: todo o esforço era justamente para forçar o Flamengo a entrar em campo no domingo (27), o que acabou ocorrendo por força de uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho, e assim evitar uma chuva de ações na Justiça. 

Nas palavras de um dirigente que participou das movimentações para a realização do jogo no domingo (27): "Parar é quebrar".

Tampouco se cogitou, na CBF, alguma tentativa de enquadrar o Flamengo no artigo 231 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que prevê punição de exclusão do campeonato para quem "pleitear, antes de esgotadas todas as instâncias da Justiça Desportiva, matéria referente à disciplina e competições perante o Poder Judiciário, ou beneficiar-se de medidas obtidas pelos mesmos meios por terceiro".

Era o que sugeria o presidente do Atlético-MG, Sergio Sette Câmara. 

Esse discurso não encontrou eco na CBF, que direcionou os esforços para garantir a realização do jogo entre Flamengo e Palmeiras e a continuidade do Campeonato Brasileiro.

Passada a crise do domingo, os clubes agora tentam aparar arestas e não deixar que o episódio atrapalhe o esforço para aprovar a Medida Provisória 984, que ficou conhecida como "Lei do Mandante" , que altera a maneira como direitos de transmissão são negociados no Brasil, e tem no Flamengo seu maior entusiasta. 

Entre clubes que estão na bronca com o Rubro-Negro, a avaliação é de que se trata de "uma causa maior", que não pode ser sabotada por problemas pontuais.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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