sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Desde do começo

Um passo atrás para, quem sabe, voltar a andar para a frente.

Frequentes decepções dos campeões da Taça Libertadores da América no Mundial de Clubes levantam o debate: os sul-americanos ainda merecem vaga direta na semifinal? 

Talvez uma mudança no formato possa ser benéfica ao continente.

Desde que o futebol sul-americano conquistou pela última vez o título mundial de clubes, com o Corinthians, em 2012, foram realizadas dez edições do torneio da FIFA (Federação Internacional de Futebol), incluindo a atual, que vale pela temporada 2022. 

Em metade delas, o campeão da Libertadores não chegou à final, decepção hoje vivida pela torcida do Flamengo.

Perder a semifinal do Mundial de Clubes será sempre decepcionante, mas cada vez menos pode ser chamado de surpresa. 

Atlético-MG (2013), Atlético Nacional (2016), River Plate (2018), Palmeiras (2020) e, agora, Flamengo (2022) conheceram na pele a nova ordem de um futebol cada vez mais eurocentrista, em que todo mundo que não está no Velho Continente vira periferia (incluindo os antigos rivais da América do Sul). 

Lembrando, ainda, da primeira grande surpresa, a derrota do Internacional para o Mazembe, na semifinal de 2010.

Flamengo e Palmeiras, por exemplo, dominam a Taça Libertadores da América há quatro anos, dois títulos para cada, ainda com um vice para o rubro-negro e uma semifinal alviverde no período. 

No Mundial, as duas potências continentais tiveram seu choque de realidade, com derrotas muito bem distribuídas globalmente: para times da Concacaf (Confederação de Futebol da Amperica do Norte, Central e do Caribe - Tigres sobre o Palmeiras na semi de 2020), da África (Al Ahly, na disputa do terceiro lugar, também sobre o time paulista) e do Oriente Médio (Al Hilal sobre o Flamengo nesta edição).

Também tivemos vitórias africanas sobre o Internacional (Mazembe) e Atlético-MG (Raja Casablanca), da Ásia (Kashima Antlers sobre Atlético Nacional) e outra do Oriente Médio (Al Ain sobre o River Plate). 

Tirando a Oceania, todas as outras confederações continentais já tiraram sua onda com a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Decepções sul-americanas na semifinal do Mundial de Clubes:

ANO RESULTADO

2010 Mazembe (Congo) 2 X 0 Internacional-RS (Brasil)

2013 Raja Casablanca (Marrocos) 3 x 1 Atlético-MG (Brasil)

2016 Kashima Antlers (Japão) 3 X 0 Atlético Nacional (Colômbia)

2018 Al Ain (Emirados Árabes Unidos) 2 X 2 River Plate (Argentina), 5 X 4 nos pênaltis.

2020 Tigres (México) 1 X 0 Palmeiras-SP (Brasil)

2022 Al Hilal (Arábia Saudita) 3 X 2 Flamengo-RJ (Brasil)

No antigo Mundial Interclubes, vantagem sul-americana: Hoje, já se discute se os campeões da Taça Libertadores da América merecem entrar diretamente na semifinal, um privilégio que, não há dúvida, é fruto de um tempo em que América do Sul e Europa realmente disputavam de igual para igual o trono do mundo do futebol (em clubes e seleções).

Nas 43 edições do antigo Mundial Interclubes, jogado apenas entre os campeões da Taça Libertadores da América e da Copa da Europa/Liga dos Campeões, entre 1960 e 2004, os sul-americanos levantaram 22 vezes o troféu, contra 21 vitórias europeias.

No Mundial da FIFA (Federação Internacional de Futebol), Europa 18 X 4 América do Sul: Mas a virada do século trouxe uma nova ordem, e nós sul-americanos estamos comendo poeira: das 18 edições do Mundial da FIFA até 2021, somente quatro foram vencidas por equipes da Conmebol, todas do Brasil por sinal: São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2000 e 2012). 

Os europeus abocanharam os outros 14 títulos, incluindo os últimos nove, podendo chegar a dez neste sábado (11). 

Mas imagina se o Al Hilal conseguir a proeza de derrotar o Real Madrid na decisão? 

A pressão sobre uma readequação do formato do Mundial poderia ficar ainda maior.

Entrar nas quartas quebra o gelo e permite correções: Ok, será realmente um baque se a FIFA decidir que o representante sul-americano não terá mais vaga direta na semifinal. 

Mas seria necessariamente ruim? 

Talvez, não.

Voltar um passo na hierarquia mundial, tendo de jogar, quem sabe, uma fase anterior da competição da FIFA, pode ajudar os times sul-americanos dentro e fora de campo. 

O primeiro ponto, nos bastidores, é humildemente reconhecer que o futebol mudou e tentar se reinventar para recuperar seu antigo status.

Nas quatro linhas, está claro que entrar na semifinal já se tornou quase um trauma. 

E quem vem das quartas de final leva duas vantagens. 

Uma delas é psicológica: diminuir a ansiedade, quebrando o gelo da estreia contra um rival em tese não tão forte e que provavelmente também estará estreando no torneio. 

A outra é prática: ter uma chance de analisar os erros e acertos do seu time para corrigir o rumo na semifinal.

Al Hilal da semi não foi o mesmo das quartas: A vitória do Al Hilal contra o Flamengo é um bom exemplo. 

Nas quartas, o time da Arábia Saudita não jogou bem contra o Wydad Casablanca, foi dominado e perdia até os 42 minutos do segundo tempo, quando conseguiu o pênalti que levou o jogo à prorrogação, permitindo ao time saudita chegar à vitória nos pênaltis.

Um jogo que serviu para o técnico Ramón Díaz tirar conclusões sobre o seu time. 

Destaque na semifinal contra o Flamengo, o argentino Luciano Vietto foi reserva nas quartas, só entrou no fim do tempo normal, no lugar de Michael, que não teve boa atuação. 

Salem Al Dawsari, o craque do time, também foi discreto nas quartas, assim como o atacante Moussa Marega.

O que vimos nas quartas? 

Aldawsari e Marega com posicionamentos diferentes em campo, Michael no banco e Vietto na equipe titular, comandando o meio. 

Se jogasse contra o Flamengo com a escalação das quartas, talvez o Al Hilal não tivesse tido uma atuação tão boa. 

Fica a dica: estreando nas quartas, o campeão da Taça Libertadores da América pode ter a chance de ganhar ritmo de competição e corrigir eventuais problemas.

E se perder nas quartas? 

Faz parte do jogo também. 

No futebol, nada é garantido. 

Quem não quer correr o risco, é simples: não vence a Taça Libertadores da América.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário