O 8 de março é político e de reflexão sobre papel na busca por igualdade dentro e fora do esporte.
Ambiente esportivo ainda é marcado por discriminação e desigualdade; homens também têm importância na busca por direitos e oportunidades iguais para todos.
Campanha Dia da Mulher Santos-SP e América-RN. (Foto: Globoesporte.globo.com) |
No Dia Internacional da Mulher, é comum receber mensagens nos comparando a flores e nos parabenizando por nossa beleza e delicadeza.
Apropriada pela cultura machista, a data sofre um esvaziamento completo de seu sentido político.
Dia 8 de março é dia de luta nos mais diversos setores da sociedade, incluindo o esporte, ambiente ainda tão marcado pela discriminação e desigualdade.
Na Era Vargas, o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941 proibia mulheres de “desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.
Usando estereótipos de um ideal feminino criado a partir de papéis de gênero, a ordem impedia mulheres de praticarem esportes considerados masculinos, ou condenava as mais inconformadas à marginalização da ilegalidade.
A proibição durou cerca de 40 anos.
Pensando especificamente no futebol, as mulheres passaram a ter direito de praticar o esporte em um momento em que a seleção brasileira masculina já havia disputado 11 Copas do Mundo, e vencido três delas.
Um abismo entre os desenvolvimentos das modalidades que mostra seus reflexos até hoje.
Com um histórico recente de tanta desigualdade, há quem pense que temos motivos para comemorar.
Em 2019, pela primeira vez na história, teremos uma Copa do Mundo de futebol feminino sendo exibida na TV aberta.
Hoje, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) só permite que clubes disputem a Taça Libertadores da América masculina caso tenham equipes de futebol feminino.
O Campeonato Brasileiro tem duas divisões na categoria feminina. São avanços. Mas ainda estamos longe do ideal.
O esporte feminino ainda tem menor visibilidade nos debates e nas páginas do jornalismo esportivo.
Atletas ainda são condenadas ao rótulo de “musa”, como se seus corpos, suas ferramentas de trabalho que carregam todo esforço de suas trajetórias, fossem resumidos a objeto de entretenimento masculino.
Mulheres ainda são raridade na função de comentarista.
Ainda somos minoria nas redações de esporte.
Quando o recorte de gênero também abraça a questão racial, o panorama é ainda mais dramático.
A desigualdade de gênero no esporte é reflexo do que acontece na sociedade.
De acordo com dados divulgados nesta sexta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mulheres receberam em média 20,5% a menos que os homens em 2018.
Segundo levantamento do G1, um terço dos assassinatos de mulheres registrados em 2018 são feminicídio.
A cada pouco mais de sete horas, uma mulher é assassinada por crime de ódio motivado pela condição de gênero.
No Brasil, 536 mulheres foram agredidas por hora em 2018, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública de 2018.
Ou seja, uma mulher é agredida a cada sete segundos.
Sempre vale destacar que feminismo não é o contrário de machismo.
O feminismo luta pela igualdade de oportunidades e direitos entre os gêneros.
Afinal de contas, como homens podem contribuir para a igualdade gênero respeitando o protagonismo feminino?
O primeiro passo é o respeito. Mulheres não são propriedade masculina.
A mulher é sujeito do seu próprio destino, capaz de vestir, usar, falar e fazer o que quiser.
O corpo feminino não é propriedade masculina.
Tudo começa pelo respeito: Mulheres relembram preconceitos e obstáculos para poderem praticar os esportes que amam
Qualquer tipo de violência, seja física, psicológica, emocional, sexual ou patrimonial, não pode ser tolerado (o 180 é o telefone para atendimento a mulheres em situação de violência).
Apesar de tratarmos de situações mais graves, existem atitudes que são vistas como pequenas, mas que colaboram muito com o machismo.
Com foco na temática esportiva, algumas mudanças de comportamento são importantes para que homens também atuem pela igualdade de gênero.
É importante ouvir as mulheres e repreender o machismo entre os homens.
Não deixe aquele seu colega que sequer acompanha ou conhece a história do futebol feminino criticar a modalidade.
Não se cale quando aquele conhecido objetificar uma atleta.
Não faça mansplanning (quando o homem explica algo à mulher sem ela ter pedido ou perguntado, e, na maioria das vezes, já sabe o que vai ser dito) quando encontrar uma torcedora.
Não trate a mulher no estádio como se aquele lugar não pertencesse a ela, porque lugar de mulher é na arquibancada e onde ela quiser.
E não tente submeter as mulheres a mais um dos intermináveis momentos em que homens acreditam que nós temos que provar que somos realmente torcedoras.
Não pergunte se ela sabe o que é impedimento ou a escalação do time, é ridículo tentar diminuir a capacidade da mulher a isso.
E, afinal de contas, você faz esse tipo de pergunta quando conhece um homem torcedor do time X, Y ou Z?
Nós, mulheres, avançamos em determinadas pautas, mas ainda estamos muito longe da igualdade.
Você, homem, tem feito sua parte nesse processo?
Você, mulher, tem lutado pela igualdade não somente de gênero, mas de raça e classe, mesmo que não faça parte dos grupos mais afetados?
O 8 de março não é dia para dar flores ou agradecer por elas.
É dia para refletir qual o seu papel na promoção da igualdade de gênero e lutar por ela.
*As opiniões da autora não necessariamente correspondem às ideias do site.
Confira vídeos e imagens no site globoesporte.globo.com: goo.gl/paZ5Kq
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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