Vítima de Chernobyl é estrela das Paralimpíadas de Paris: "O esporte salvou minha vida".
De abusos em orfanatos na Ucrânia à autoaceitação nos Estados Unidos, Oksana Masters chega aos Jogos pela sétima vez em busca da décima oitava medalha e de legado: "Abrir portas".
Em Paris, Oksana Masters vai disputar as Paralimpíadas pela sétima vez.
Entre Jogos de Inverno e Verão, a americana de 35 anos despontou como uma estrela, conquistando 17 medalhas, sete delas de ouro, em quatro esportes (biatlo, esqui cross-country, ciclismo e remo).
Na França, busca novos ouros no ciclismo.
Um feito que não imaginava ser capaz quando criança, vivendo entre orfanatos da Ucrânia, lidando em seu corpo com os efeitos do acidente nuclear de Chernobyl.
"O esporte salvou minha vida e minha mãe (adotiva) salvou minha vida. Essas foram duas coisas importantes para mim quando eu tinha 13 anos. Suprimi muitas coisas que vivi na Ucrânia, nos orfanatos. Eu não sabia como verbalizar e como dizer. Eu estava com medo de falar sobre isso porque isso tornava tudo mais real", disse Masters ao Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos (USOPC).
Os efeitos da radiação e do abandono: Oksana nasceu em Khmelnytskyi, na Ucrânia, em 1989, 3 anos depois da catástrofe de Chernobyl.
A radiação que escapou da usina no acidente nuclear causou má-formação congênita.
Nasceu com 5 dedos nas mãos, mas sem polegares.
6 dedos em cada pé.
Perna esquerda cerca de 15cm mais curta que a direita.
Ainda bebê foi entregue para adoção e passou por três orfanatos ucranianos.
Especialmente no terceiro orfanato sentiu os efeitos do abandono.
Além da fome, sofreu com frequentes abusos físicos e sexuais.
Mudança para os Estados Unidos e cirurgias: Com 7 anos, Oksana foi adotada pela professora americana Gay Masters.
A ucraniana se mudou para Buffalo e depois para Louisville, nos Estados Unidos.
Aos anos, teve a perna esquerda amputada acima do joelho.
Os ossos frágeis não aguentavam carregar o peso do corpo.
Aos 14 anos, a perna direita também foi amputada.
Ainda passou por várias cirurgias reconstrutivas nas mãos para que um de seus dedos tivesse função similar à dos polegares.
"Minha mãe salvou minha vida, literalmente, da Ucrânia porque disseram a ela que eu não deveria viver além dos 10 anos. E então ela salvou de novo ao me apresentar o mundo dos esportes. E o esporte foi realmente a terceira coisa que realmente salvou minha vida, porque foi onde comecei a aprender a jornada e o caminho de me amar, me aceitar", disse Masters, em entrevista ao podcast oficial dos Jogos de Paris 2024.
O início no esporte: Pouco antes da segunda amputação da perna, Oksana foi encorajada pela mãe a praticar esportes e logo se apaixonou pelo remo.
Virou uma terapia.
A adaptação no início foi difícil.
Ouviu de um técnico que suas aspirações eram irreais e que jamais seria uma atleta de elite, ficando fora da delegação dos Estados Unidos para os Jogos de Pequim 2008.
Não desistiu e estreou com um bronze no remo das Paralimpíadas de Londres, em 2012.
"Eu nunca me senti mais em casa por finalmente ter aquele lugar onde pertencia. Esse foi meu primeiro passo para realmente me curar e aprender sobre mim mesma. Tive que voltar e consertar essas feridas e trabalhar nessas feridas mentalmente. O esporte era uma terapia. E eu aprendi a amar dessa forma primeiro em vez de vencer e definir metas e tentar ser a melhor do mundo e tentar representar os EUA. Eu não sabia que era possível fazer isso, especialmente para mim", disse Oksana.
Estrela paralímpica: Uma lesão nas costas fez Oksana trocar o remo pelo esqui cross-country e pelo ciclismo.
Começou a se dividir entre os esportes de inverno e de verão e marcou presença em todas as edições de Jogos Paralímpicos desde então, de inverno e verão: Sochi 2014, Rio 2016, PyeongChang 2018, Tóquio 2020 e Pequim 2022.
Incluiu o biatlo entre seus esportes e colecionou pódios.
Das 17 medalhas que conquistou, 14 foram em Jogos de Inverno e três nos de verão: a de bronze no remo em 2012 e duas de ouro no ciclismo em Tóquio 2020.
Ela se tornou uma das caras do esporte paralímpico americano.
Em Paris, Oksana vai defender o título das provas de estrada H5 e de contrarrelógio em estrada H4-5, categorias para atletas que "pedalam" com as mãos por terem comprometimento motor nos membros inferiores.
Ela compete nos dias 4 e 5 de setembro.
Aceitação e espelho: O esporte teve papel fundamental para a autoaceitação de Oksana.
Ela afirma que demorou 28 anos para se sentir confortável com seu corpo e exibir suas próteses.
Conta com orgulho de uma mensagem que recebeu nas redes sociais de uma mãe: a filha de 13 anos viu a história da medalhista paralímpica e no dia seguinte se encorajou para ir à escola com sua prótese na perna à vista.
Oksana se tornou espelho.
"Acho que o que me anima em ser tão sortuda de ter o sucesso que consegui alcançar até agora é que minha voz pode, esperançosamente, ajudar a abrir portas e torná-la melhor para a próxima geração, e também em geral para o esporte paralímpico nos EUA, e também globalmente e internacionalmente. O quadro geral é fazer o Movimento Paralímpico crescer e garantir que o esporte e o movimento paralímpico sejam melhores do que eram quando entrei para a próxima geração", disse Masters.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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