quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Depois de 9 meses...

Pivô da seleção envolvida em doping com laser é liberada para jogar após 9 meses: "Êxtase".


Elaine Gomes, pivô da seleção brasileira de handebol, teve recurso julgado e pode voltar a jogar em 14 de setembro: "Arrumar as malas, comer uma salada e deixar o baião de dois para lá".

Elaine Gomes, pivô da seleção brasileira de handebol, está liberada para voltar a jogar após 9 meses de suspensão por doping. 

A atleta campeã mundial em 2013 estava prestes a disputar o Mundial do Japão, em novembro passado, quando ela e todas as jogadoras do time no qual atuava na Romênia, o Corona Brasov, foram punidas por terem feito um tratamento a laser no sangue recomendado pelo médico do clube. 

Desde então, Elaine não podia nem sequer treinar. 

O caso foi a julgamento na Romênia e, no dia dez de junho, saíram as sentenças. 

As jogadoras pegaram entre 15 e 20 meses de suspensão. 

A brasileiro pegou 16 meses, agora reduzidos para 9 meses e meio. 

O ex-presidente do clube pegou dois anos e seis meses. 

A diretora técnica, dois anos de pena, e o médico, Marius Capra, quatro anos. 

Eles não tiveram redução. 

Nesta quinta-feira (27), foi anunciado o congelamento da pena de oito das 16 atletas. 

Então Elaine pode voltar a jogar a partir de 14 de setembro.

"Saiu hoje essa notícia. E a minha empresária já me mandou um áudio. Entrou em contato falando de três equipes. Não sei quando vou sair, mas eu estou em êxtase, pensando aqui em arrumar minhas malas. Começar a comer uma salada e deixar o baião de dois para lá. Estou muito feliz mesmo", disse Elaine ao globo esporte.

As malas são para deixar o Ceará, onde passou toda a quarentena, e voltar para a Europa. 

A pivô tem propostas de clubes, inclusive da Romênia, mas não quis revelar os nomes. 

Ela também tem a expectativa de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, que seriam os seus primeiros. 

Ela é bicampeã do Pan com a seleção e não disputaria as Olimpíadas caso elas fossem realizadas em 2020 em razão da suspensão por doping. 

O congelamento da pena, que iria até março de 2021, faz com que a atleta tenha chance de reintegrar a seleção nacional.

"Rumo a Tóquio, se Deus permitir", afirma Elaine.

A temporada européia de handebol será retomada ainda neste segundo semestre do ano. 

O congelamento da pena foi autorizado pela WADA (Agência Mundial Antidoping) em resposta à ANAD (a Agência Nacional Antidoping do Governo da Romênia).

No fim de outubro, as jogadoras do Corova Brasov passaram por um tratamento, proibido segundo regras mundiais antidopagem, com aplicação de laser intravenoso para melhor recuperação física. 

O presidente e o médico do clube, porém, dizem que não sabiam que a terapia no sangue é considerada doping. 

O tratamento foi apresentado como uma técnica de recuperação física, como a imersão em banheiras de gelo ou as bandagens neuromusculares, essas tiras coladas ao corpo que estamos acostumados a ver nos atletas. 

Mas, nesse caso, o diferencial tecnológico é a aplicação de um raio laser de baixa intensidade direto na corrente sanguínea. 

A promessa é de que a exposição do sangue ao laser acelere o equilíbrio funcional do corpo.

"Isso não é necessariamente novo, a biomodulação com raio laser, com as ondas do laser, começou a ser estudada em 1964 e desde 1981 é saúde pública na Rússia. O emprego de terapias com laser, então, não é necessariamente novo. Na lista de proibições da Wada, de 2013, há esse questionamento e temos uma seção de perguntas e respostas relacionados ao que é proibido. Lá já aparece desde 2013 uma pergunta especificamente sobre isso, o laser intravenoso é proibido? Sim, ele é considerado uma manipulação intravascular do sangue. Então qualquer manipulação intravascular do sangue é proibida ou método proibido", explicou o médico Cristian Trajano, gerente de Educação e Prevenção ao Doping do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).

"O código mundial antidoping, vigente desde 2003/2004, tem um critério bastante duro pros atletas que é largamente difundido, chamado responsabilidade objetiva. O atleta é responsável por tudo aquilo que entra no organismo dele e não consegue dividir essa responsabilidade com qualquer outra pessoa. Independentemente de ter uma prescrição médica, independentemente do médico ser do COB, do Comitê Olímpico Internacional ou de qualquer outra instituição ou organização esportiva, o atleta segue sendo responsável por aquilo que entra no seu organismo - completou.

Elaine e as 16 outras atletas seguiram suas rotinas. 

Até que a jogadora romena Cristina Laslo postou uma foto do tratamento em uma rede social. 

E foi só ai que o doping veio a público.

"Porque uma delas colocou um Stories no Instagram, tu acha que se a gente soubesse que era doping a gente ia postar alguma coisa? Ou a gente ia fazer alguma coisa? Eu não acredito que eles não sabiam que isso era doping só que eles não imaginariam que a gente ia postar na Internet, porque se talvez a gente não postasse ninguém nunca ia saber", afirmou Elaine em reportagem exibida pelo Esporte Espetacular em julho.

"Então, apareceu, ele tem culpa. O que a gente vai verificar é se essa culpa pode ser branda, o que no código a menção correta é ausência de culpa significativa, ou se nos podemos dizer que o atleta não teve culpa nenhuma, o que acontece em hipóteses remotíssimas, por exemplo, quando o atleta não poderia fazer nada para evitar aquele resultado. Então se o atleta tivesse desacordado e tivessem ministrado aquele tratamento, ela não poderia fazer nada para evitar. Então o que o tribunal tem que fazer, nesse caso concreto, é avaliar a conduta tanto de quem levou os atletas, tanto do médico e dos próprios atletas e estabelecer uma graduação desse nível de culpa", explicou o advogado Marcelo Frankin, especialista em casos de doping no esporte.

O médico Marius Capra alega que também não sabia da proibição do tratamento a que submeteu toda a equipe, mesmo com a informação disponível no site da Wada, a agência mundial anti-doping.

Elaine, que pegou 16 meses de suspensão, passou os últimos no Ceará com sua família, sem salário e sem jogar desde novembro. 

Manteve uma rotina dividida entre exercícios e tarefas de casa. 

Ela e as outras jogadoras do Corona Brasov recorreram de suas sentenças com novas provas mostrando que questionaram o médico antes do tratamento.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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