26% dos treinadores da Série A do Brasileirão estão no grupo de risco da Covid-19.
Profissionais do futebol com mais de 60 anos podem ter que trabalhar remotamente quando competições recomeçarem.
Auxiliares técnicos mais jovens ficariam no trabalho de campo.
Em todo o mundo os dirigentes do futebol estudam a melhor maneira de recolocar a bola em jogo.
No Brasil, embora não exista consenso, discute-se a possibilidade de retomada de jogos entre o final de maio e junho.
Um aspecto importante deve ser levado em consideração quando e se houver retomada: cerca de 26% dos treinadores da Série A do Campeonato Brasileiro estão na faixa do grupo de risco da Covid-19, com 60 anos ou mais.
O número exato é 26,31%.
Tomei como base para chegar a este dado 19 treinadores confirmados até o momento nos clubes da principal divisão do futebol nacional.
Jesualdo Ferreira, técnico do Santos tem 72 anos. (Foto: Globoesporte.globo.com) |
O Atlético-GO está sem treinador confirmado quando escrevo este texto.
Eduardo Souza é interino, segundo o clube.
A faixa de idade entre 50 e 59 anos é composta por 21,05% dos treinadores da Série A.
O grupo que compõe a maioria, 42,10%, está na faixa entre 40 e 49 anos.
Apenas 10,52% dos técnicos têm idades entre 30 e 39 anos.
O treinador mais velho do Brasileirão é o português Jesualdo Ferreira, do Santos, com 73 anos.
Vanderlei Luxemburgo, do Palmeiras, tem 67 anos, Jorge Jesus, do Flamengo, tem 65 anos, e Paulo Autuori, do Botafogo, 63 anos.
Jorge Sampaoli, do Atlético-MG, tem 60 anos.
Como lidar com esses profissionais quando e como os jogos recomeçarem?
Há limites seguros para a atuação em treinamentos, vestiários, hotéis, palestras, deslocamentos, viagens?
Além dos treinadores, temos preparadores físicos, médicos, assistentes que estão com idades de grupo de risco.
Haverá protocolo específico em relação a eles?
Vou mais longe: eles devem ir a campo trabalhar?
Será mais seguro que eles tenham atuação remota, orientando pelo telefone ou rádio, sentados isolados em uma sala no estádio?
Basta que todos estejam testados para que possam sentar lado a lado no banco de reservas?
Ou que o treinador se levante para reclamar do quarto árbitro, dar uma bronca em seu zagueiro, cobrar seu atacante?
Presidente da Comissão Médica da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o neurocirurgião Jorge Pagura explicou ao blog quais os procedimentos que devem ser adotados quando forem reiniciadas as competições.
"A flexibilização depende das prioridades elencadas dentro do que não for atividade essencial. Essa determinação será dada pelos prefeitos das cidades com mais de cem mil habitantes. Se a curva epidemiológica estiver baixa e houver recomendação para pessoas de mais de 60 anos deixarem o isolamento social, elas poderão trabalhar tomando as devidas precauções, como máscaras etc. Mas enquanto não for liberada essa flexibilização, as pessoas com mais de 60 anos terão que trabalhar por videoconferência. No caso dos treinadores de futebol, passando as instruções para os auxiliares técnicos de menor idade, que fariam o trabalho de campo", disse Pagura.
Qual a posição dos treinadores com 60 anos ou mais em relação a esta retomada?
O técnico do Botafogo, Paulo Autuori, de 63 anos, respondeu à pergunta do blog:
"Eu acho uma grande sandice nesse momento, diante de tantas mortes e sofrimento, falar de retorno aos treinos de futebol. Não é porque eu tenha mais de 60 anos, nada disso. Pensam que é só juntar os jogadores e botar para treinar. Essas pessoas que são a favor e têm responsabilidade não têm a menor noção de quão complexa é uma sessão de treino, quantas pessoas estão envolvidas. Os funcionários mais humildes que vão de transporte público. Depois, se acontecer algo, vão jogar na conta dos clubes? É uma tremenda falta de sensibilidade".
Além disso, não basta que CBF e Federações decidam que é hora de voltar com o futebol.
Será preciso que os governadores dos estados e os prefeitos das cidades envolvidas autorizem a retomada das atividades na qual o treinamento e a prática do futebol se enquadrem.
Mais um capítulo dos desafios impostos pela pandemia ao esporte profissional.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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