Divisão entre cariocas, coesão entre paulistas e a história da gripe espanhola se repete 101 anos depois.
Mauricio Galiotte e Andrés Sanchez. (Foto: Anselmo Caparica) |
Em 1918, Campeonato Carioca se apressou para continuar jogando e teve até morte de jogador do Fluminense.
Enquanto isso, paulistas paralisaram campeonato e só houve campeão por duas razões: bom senso e consenso.
Parece o feitiço do tempo.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, debruçou-se sobre os livros e sobre os estudos que sua comissão de medicina lhe enviou, logo que percebeu a gravidade da crise do coronavírus.
Nas páginas de cem anos atrás, descobriu que Belo Horizonte foi a primeira cidade brasileira a propor o confinamento durante a gripe espanhola, que matou 35 mil brasileiros entre 1918 e 1919.
Sua providência foi a mesma.
A capital mineira foi a primeira capital com social no último dia 18 de março, seis dias antes de São Paulo e Rio de Janeiro.
Como fechou antes e teve sucesso na estratégia de informar a população sobre os riscos e as estratégias para combater a doença, Belo Horizonte já consegue flexibilizar suas decisões.
O Rio de Janeiro e São Paulo estão longe disso, talvez não apenas pelo fracasso do confinamento quanto pela densidade demográfica.
Mais habitantes por quilômetro quadrado.
Há 101 anos, mais ainda.
O livro "Metrópole à Beira Mar", de Ruy Castro, conta que houve 12.700 mortes num Rio de Janeiro de pouco mais de um milhão de habitantes.
São Paulo tinha pouco menos de metade da população e teve em torno de 5 mil mortes, na gripe espanhola.
Paradoxalmente, o Campeonato Paulista ficou parado por quase três meses e o Carioca não foi paralisado.
O número de mortes entre os cariocas disparou, não pelo futebol, mas pelo contágio rápido.
O jogador do Fluminense, Archiband French, faleceu durante a epidemia.
Em São Paulo, o campeão só existiu, porque houve bom senso, e consenso.
A unidade de ação dos paulistas desta vez lembra o que houve daquela vez. Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos combinam treinar todos juntos, quando houver autorização explícita das autoridades da saúde.
Isto pode começar a acontecer na semana que vem, dependendo das decisões do governador João Dória e do prefeito Bruno Covas.
Os cariocas, ao contrário, dividem-se entre os que não admitem voltar aos treinos, Botafogo e Fluminense, e os que entram no gramado mesmo sem autorização explícita, caso do Flamengo na semana passada.
Agora há autorização do prefeito Marcelo Crivella para treinos individuais.
Em 1918, o Campeonato Paulista terminou e o Paulistano foi campeão, porque os clubes entenderam que só seria possível realizar as partidas que definissem o campeão.
O Paulistano venceu atuando 17 vezes, o Corinthians foi vice com 18 jogos e o Santos, quarto colocado, só teve doze atuações.
Não se sai de uma crise deste tamanho sem bom senso nem sem consenso.
Neste momento, paulistas, gaúchos e mineiros parecem muito mais próximos de um desfecho favorável do que os cariocas.
Reportagem: Blog do PVC
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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