"Momento crucial": com projeto a longo prazo, FPF (Federação Portuguesa de Futebol) age para manter crescimento do futebol feminino em Portugal.
Mónica Jorge, diretora de futebol feminino da FPF. (Foto: Divulgação) |
Na edição desta semana do podcast Dona do Campinho, diretora Mónica Jorge detalha processo mantido durante a pandemia e diz que o começo é nas escolas.
Dirigente relata importância da UEFA (União das Associações Europeias de Futebol) no projeto.
A Federação Portuguesa de Futebol trilha um caminho sólido em busca do desenvolvimento do futebol feminino no país.
Um dos pontos chave desse processo colocado em prática quando o presidente Fernando Gomes assumiu foi chamar Mónica Jorge, experiente treinadora da seleção nacional do país, para comandar como diretora essa reformulação na busca pelo crescimento da modalidade.
A agora dirigente detalhou ao Dona do Campinho (escute o podcast acima) como está sendo esse caminho na construção de um esporte sustentável e o estímulo a que mais clubes entrem no jogo, atualmente somente Braga, Benfica e Sporting são times profissionais e o restante amadores, e também mais atletas desejem seguir essa carreira, são 11 mil mulheres praticantes entre futebol e futsal.
Nem a pandemia do coronavírus interrompeu esse ciclo.
Em busca de um socorro e sempre com canal aberto com os clubes, a FPF decidiu aumentar a Série A da próxima temporada de 12 para 20 clubes.
Tudo isso incluso em um plano estratégico que pensa a longo prazo e não no retorno imediato.
A seleção portuguesa era quadragésima no ranking da FIFA em 2015.
Mesmo com o pouco tempo de trabalho, a Federação já figura em trigésimo segundo.
"Nossa Federação entendeu que era o momento complicado, crucial até porque há muito pouco tempo o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal teve seu investimento em 3, 4, 5 anos com plano estratégico de desenvolvimento do futebol feminino e está tudo no começo. Então houve aqui uma preocupação do projeto não ficar diminuído com essa pandemia. O que começa a acontecer: temos que ter medidas de contenção com o objetivo de todos os clubes poderem continuar o projeto de desenvolvimento do futebol feminino. É muito recente aqui em Portugal. Muitos clubes aderiram ao futebol feminino, alguns clubes que estão inseridos nas ligas profissionais masculinas aderiram ao futebol feminino há um ano, dois anos, três anos no máximo. O projeto é muito recente. Nossa federação entendeu que era preciso provavelmente dar um passo mais largo não tão rápido, mas um pouco mais demorado e avaliando as consequências dessa epidemia que pode ser complicada para todos e não só para o futebol feminino, mas também para a formação e outras modalidades", afirmou Mónica Jorge.
Mas o foco não está na ponta e sim no começo: as escolas. É o que detalha Mónica Jorge.
"Nós temos dois projetos com as escolas. Muito diferente dos Estados Unidos. Lá digamos que é uma maravilha. Aqui tivemos que nos organizar em função da nossa realidade. Além de ter competições de futsal na escola com sub-13 e sub-15 não há campos também de futebol nas escolas. É difícil criar futebol ou futsal de 11 nas escolas também. Optamos então pelas competições nas escolas serem só futsal, futsal de cinco. Depois criamos competições regionais onde as escolas se juntam e os clubes também no próprio município. Chamamos de a festa do futebol feminino sub-13 e sub-15. Numa primeira fase há equipes regionais, competição regional e depois uma competição nacional que é a nossa final da taça, onde juntamos todos os campeões a disputar em um dia inteiro as finais de cada categoria. Depois todos vão assistir à Taça de Portugal feminina. Uma festa muito bonita que começa na parceria da escola, municípios e entidades regionais. Tem sido muito positivo".
CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
PROJETO DE FORMAÇÃO NA BASE
"Pode ser uma estratégia de cada clube. Investir um pouco mais nessa formação e dar oportunidades às atletas da formação. É uma estratégia saudável. Agora, depende muito também do clube em si, da questão financeira. O financeiro, o que os clubes vão ter nos próximos dois anos vai ser crucial para esse investimento. Todos nós sabemos que esse retorno financeiro depende muitas vezes mais do mercado masculino, das questões televisivas no futebol profissional e que teve impacto na formação seja masculino ou feminino. Portanto vão ser dois anos que esse mercado vai ser muito importante da formação. De acordo com esse caminho, a federação continua seus projetos. Ainda agora provavelmente vai ser criada mais uma taça sub-17. Temos todas as categorias no feminino com competições nacionais e não vamos deixar de ter. Portanto, continuamos a investir na formação, em criar competições para todos os escalões femininos nesse caso sub-13, sub-15, sub-17 e sub-19 para dar continuidade até a essa formação para ser sustentada. Essa crise não coloca em dúvida o envolvimento que a federação está acreditando em construir".
CONTRATOS DE TRABALHO: AINDA UM PONTO A MELHORAR
"Há uma proximidade principalmente agora, nestes últimos meses, entre os clubes femininos e a federação portuguesa de futebol. E muitas destas questões dos contratos profissionais e do que queremos para a liga melhor e mais competitiva. Essas questões são colocadas em cima da mesa e discutidas com os clubes. Não é um campeonato profissional, digamos, é um campeonato amador, mas já há algumas jogadoras com contrato profissional. Mas aqui o sindicato dos jogadores, que defende também as jogadoras, também começa a ter um papel importante na defesa das jogadoras e há também nosso trabalho da federação e acabamos por defender também questões de igual parceria, de condições iguais. Temos essas preocupações para o futuro apesar de ainda ser um número baixo de atletas com contrato profissional. Comparativamente, a outras ligas competitivas e com mais anos de desenvolvimento".
TETO SALARIAL NA PRIMEIRA DIVISÃO?
"Sim, é uma questão que está sendo discutida ainda com os clubes. Nada é feito sem parceira dos clubes. Nada é feito sem opinião, aval desses clubes. É feito de uma forma equilibrada e que todos possam crescer de igual forma".
PROJETO A LONGO PRAZO – DE CINCO ANOS
"Criamos com essa nova direção quando entramos um planejamento estratégico para o futebol feminino. Foi nosso primeiro plano estratégico de desenvolvimento de cinco anos para o futebol feminino que vai acabar nesta temporada e mais outra. E este plano de desenvolvimento registra um grande crescimento em número de jogadoras e equipes mesmo com algumas condições difíceis como a cultura desportiva assim como no Brasil que o futebol era para homens e pouco aberto para mulheres. Temos culturas muito próximas nesse sentido. Esse plano estratégico foi todo trabalhado, todo feito com os clubes, atletas, demorou um ano a ser planejado, com entrevistas com agentes do futebol envolvidos. Depois delineou várias vertentes, projetos de desenvolvimento em várias áreas do desporto escolar, até a formação, competições nacionais com os municípios. Tudo envolvido num projeto. Durante 4, 5 anos tivemos muitos projetos nesse sentido, daí tivemos um crescimento bastante forte. Agora estamos entrando em outra fase de desenvolvimento e provavelmente vamos ter que adaptar esse plano estratégico por causa da epidemia e vai mudar um pouco toda a estratégia que estava desenhada para a próxima temporada. Temos que nos adaptar a uma realidade que vai aparecendo sem nunca perder o aumento de praticantes que era o foco estratégico desse projeto e que todas as equipes de Portugal tenham futebol feminino. Esses eram os dois focos mais importantes da Federação Portuguesa de Futebol. Não vai deixar de ir atrás e conseguir esses objetivos independente da crise que está acontecendo. Portanto, há um plano delineado. Foram enquadrados em vários departamentos também na nossa federação e que visa três a quatro áreas, escolar, formação, clubes secções distritais do futebol, que se chamam regionais, são 22. Foco de ligas melhores, mais desenvolvidas. Neste momento temos todas as seleções também. Desde sub-15 até a seleção A (principal). São cinco seleções já. Foi criada agora também uma equipe B, uma seleção B e portanto continuamos a trabalhar neste plano estratégico para ser desenvolvido independentemente da crise que nos possa aparecer e dar uma lentidão no processo de desenvolvimento".
PAPEL DA UEFA
"A UEFA tem sido importante porque sempre nos projetos todos que nós queremos começar ela dá suporte. Por exemplo, essa festa do futebol feminino, inicialmente até teve o projeto da FIFA, apoio da FIFA, depois da UEFA. Depois a nossa federação assumiu essa totalidade do projeto. UEFA e FIFA também é sempre aquela entidade que nos ajuda quando há um ou outro projeto que queremos arrancar e investir. Tem sido fantástica nisso. Nessa questão da equipe B, a UEFA já tinha estado com várias federações perguntando se gostaríamos de ter equipe sub-23 e portanto iniciou também nessa comunicação. E chegamos à conclusão que muitas equipes como França, Espanha já estão nesse trabalho de equipe B e tem sido muito importante esse trabalho da UEFA.
APOIO IMPORTANTE DO PRESIDENTE DA FPF
"Tem sido fantástico. A partir do momento que teve a coragem de convidar uma mulher para ser a primeira mulher na direção executiva da Federação Portuguesa e essa coragem é mais-valia. Quando fui convidada depois de ficar vários anos como treinadora e técnica das seleções esse convite foi feito e já mostrou a importância da modalidade quando se candidatou à presidência da nossa federação. Quando ganhou as eleições logo o primeiro investimento, uma das primeiras etapas que ele queria desenvolver era o futebol feminino. A partir daí nos deu o apoio total para nosso plano estratégico do futebol feminino e tem sido constantemente exigente nesse envolvimento. Nesse momento estamos pensando em vários projetos e é um dos primeiros incentivadores e quer ver cada vez mais atletas jogando futebol feminino. É uma pessoa muito atenta e não quer que a Federação Portuguesa fuja aos patamares de outras federações em relação ao futebol feminino. Tem sido fantástico o envolvimento dele".
Reportagem: Dona do Campinho
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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