Clubes brasileiros precisam romper isolamento digital.
Ranking digital dos clubes brasileiros em maio de 2020. (Foto: Reprodução/Ibope Repucom) |
Com pouca representatividade, grandes times nacionais perdem terreno para gigantes europeus na disputa pelos fãs nas redes sociais.
Os grandes clubes do futebol brasileiro precisam, urgentemente, romper o isolamento digital em relação ao mercado planetário.
As redes sociais aproximam torcedores e criam conexões inclusive entre aqueles fãs que jamais assistirão a um jogo de seu clube favorito no estádio.
Embora seja o maior ganhador de Copas e abasteça de talento grandes equipes do futebol internacional, o Brasil nunca explorou de forma condizente o potencial interno e externo de seus clubes de futebol.
Poucos times tiveram tanta exposição internacional como Santos e Botafogo nos anos 1960.
Ainda hoje são nomes reconhecidos em todos os quadrantes do planeta bola.
No entanto, suas marcas não refletem a importância de seus nomes.
Ainda que tenha ocorrido uma importante evolução nos últimos 20 anos em termos de organização e receitas, o futebol jogado no Brasil não atrai a atenção dos fãs de futebol pelo mundo como poderia, ou deveria.
O Brasil conta com alguns dos maiores clubes do mundo, mas está alijado do que podemos chamar de comunidade internacional do futebol.
A seleção brasileira goza de grande prestígio nesse quesito, o que jamais foi transferido para os clubes em termos de marketing.
Em levantamento divulgado pela Sporting Intelligence em dezembro de 2019, nenhum clube de futebol do Brasil aparece entre as 30 equipes esportivas com mais seguidores nas principais redes sociais (Twitter, Instagram e Facebook).
Os dez primeiros são clubes de futebol.
O Los Angeles Lakers, da NBA, aparece em décimo primeiro.
O rei dos seguidores é o Real Madrid, com um total de 223,8 milhões de seguidores, à frente do Barcelona, com 213,5 milhões; e Manchester United, com 125 milhões.
Este levantamento ignora os clubes brasileiros de futebol.
No Brasil, de acordo com o ranking Ibope Repucom de maio de 2020, o Flamengo lidera com 30,3 milhões de seguidores.
Os quatro clubes mais populares do Brasil nas redes digitais, Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, somam 80 milhões de seguidores.
Praticamente um terço do Real Madrid.
Nessa conta não estão incluídas redes sociais mais recentes e de grande crescimento entre jovens, como Tik Tok e Se Waibo, o Facebook chinês.
Outro levantamento, chamado Global Digital Football Benchmark, publicado em janeiro de 2019, mostrava a mesma composição entre os três primeiros: Real, Barça e United.
Mas neste os clubes sul-americanos estavam inseridos e havia um total de 15 plataformas digitais alocadas no estudo.
O Corinthians surgia como décimo quinto, com quase 21,9 milhões de seguidores, e o Flamengo em décimo sexto, com 21,7 milhões.
Entre os 40 primeiros ainda apareciam o São Paulo, em vigésimo sexto, o Palmeiras, na posição 33, Santos na trigésima sexta, Grêmio na trigésima sétima e Cruzeiro na quadragésima posição.
É fácil afirmar que entre os milhões de torcedores ou simpatizantes digitais de Barcelona e Real Madrid estejam milhares ou milhões de brasileiros.
Difícil é acreditar que tenhamos milhares de espanhóis, chineses, norte-americanos seguindo gigantes nacionais nas redes.
O mesmo raciocínio vale para competições como Champions League, Premier League e La Liga e o Brasileirão.
Nem ouso imaginar que fãs chineses, japoneses, alemães, canadenses peguem um avião para vir ao Rio acompanhar um Fla-Flu, ou um Corinthians-SP X Palmeiras em São Paulo, o Gre-Nal em Porto Alegre.
Seria sonhar muito alto. Fiquemos nas plataformas digitais por hora.
Em vez de se unirem em busca da valorização de seus produtos, os campeonatos, os clubes brasileiros racharam com o fim do Clube dos 13, o que favoreceu as equipes mais populares em todas as negociações.
Como a CBF está mais preocupada em faturar com a seleção brasileira do que com o Brasileirão, perdeu-se uma grande oportunidade de catapultar a importância internacional da Liga Brasileira, que é muito atraente, mas ainda pouco explorada.
Está na hora de nossos cartolas decidirem o que pretendem para o futuro.
Valorizar o Campeonato Brasileiro, transformá-lo em um produto de interesse internacional e disputar o mercado, principalmente o asiático, com os gigantes europeus, ou ficar eternamente preso à bolha do público interno?
Hoje o torcedor não é apenas aquele que vai ao estádio. Real Madrid e Barcelona contam com apoiadores que jamais pisarão no Bernabeu ou no Camp Nou, mas se consideram tão torcedores quanto os que vão aos estádios.
Assistem a jogos em vídeo, consomem produtos oficiais, alimentam as redes sociais e, inclusive, canais exclusivos de streaming dos clubes.
Atualmente, nossos grandes clubes nem sequer conseguem superar Boca Juniors e River Plate como grandes marcas sul-americanas.
Pensar em produtos digitais voltados para o mercado internacional, em especial o chinês, deveria ser prioridade.
O desafio dos clubes e dos campeonatos brasileiros é romper o isolamento internacional e entrar na disputa por uma fatia dos fãs internacionais.
Faço aqui um exercício que não é uma comparação entre jogadores, suas capacidades técnicas e popularidade.
Apenas um exemplo de como um jogador pode catapultar o interesse internacional por um clube.
Quando a Juventus contratou Cristiano Ronaldo, os perfis de redes sociais da Velha Senhora ganharam mais de 2 milhões de seguidores em 24 horas.
Apenas no Sina Weibo, a Juve subiu de 200 mil seguidores para 2,3 milhões quando anunciou CR7.
O Flamengo tem projetos ousados de internacionalização de sua marca.
Para isso, pode contar com o carisma de Gabigol.
Na Taça Libertadores da América e na Supercopa ele demonstrou que pode ser capaz de buscar fãs digitais e de redes sociais para o Rubro-Negro na América do Sul e no Mundo.
Sem ousar fazer comparações entre sua qualidade e sua popularidade com a de um ídolo global como CR7.
O marketing digital bem planejado e executado é o primeiro passo para romper o isolamento social internacional de nossos grandes clubes.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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