Análise: Futebol nacional colhe frutos de suas escolhas.
Incapacidade de diálogo com a Globo é fruto das escolhas feitas pelos nossos dirigentes ao longo da última década.
Futebol e negócios ligados dentro do mercado financeiro. (Foto: Jrmcoaching.com.br) |
Não adianta, agora, o clube se indignar com a Globo.
A decisão da emissora de não pagar por aquilo que ela não tem a transmitir tem lógica do ponto de vista legal, apesar de ser perfeitamente condenável do ponto de vista moral.
Propagadora do conceito de que é uma "defensora do futebol", a emissora deveria chamar clubes e entidades para conversar e achar um meio-termo em meio à paralisação de todas as nossas atividades como nunca antes nos aconteceu.
Pela primeira vez, a crise que nos atinge não é apenas de um segmento.
O mundo todo, em todas as áreas, está em recessão.
Por conta disso, é preciso sentar e conversar.
Virtualmente.
Mas é preciso um ajudar o outro.
Junto e isolado.
Não deixando o outro definhar sem dinheiro, mas também não ficando sem verba para isso.
Só que a incapacidade de existir um diálogo minimamente decente entre clubes e Globo é fruto das escolhas que o futebol brasileiro decidiu ter na última década.
Ao adotar o modelo de "cada um por si", nós simplesmente acabamos com qualquer chance de diálogo para encontrar soluções conjuntas.
Na hora da fartura de dinheiro, isso é fácil de se fazer.
Mas e na hora do aperto?
É essa a maior reinvenção que a pandemia vai nos proporcionar.
O futebol entender que é coletivo nos bastidores.
Como os clubes poderão reivindicar algo à Globo se eles nunca pediram nada em conjunto?
Pelo contrário.
Cada um olhou para o próprio umbigo na hora de negociar.
Para piorar a situação, os clubes nunca foram os donos de seus conteúdos.
Achavam que isso não era problema deles.
Agora, sem ter o que produzir porque o futebol parou, não há arquivo para se recorrer.
Na Europa e nos Estados Unidos, as ligas e os times estão deitando e rolando com as reprises, relembrando jogos históricos, ídolos, ocupando a mente dos torcedores e fazendo um baita trabalho de banco de dados.
E por aqui?
Se o torcedor quiser ver algum evento antigo, é preciso ligar no SporTV.
Nos canais dos clubes, que se orgulharam de dizer que tinham projetos de streaming, estamos vendo mais do mesmo.
Dicas de como ficar em casa, desafios infantis com fotos estáticas de atletas, atividades do cotidiano do atleta que já fez isso ou aquilo em sua rede social...
A crise evidencia o quanto o futebol depende da Globo e se iludiu de achar que peitar a emissora numa negociação individual de direitos significava "quebrar o sistema".
A única saída, agora, é todos se unirem para não permitir o fim de muitos clubes.
E, finalmente, tomar para si a produção do conteúdo, entendendo de uma vez por todas que a mídia é só o meio, não o fim.
Reportagem: Maquinadoesporte.uol.com.br
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Riberio
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