Clubes, ligas e jogadores discutem reduções salariais na Europa: veja situação nos principais países.
Cristiano Ronaldo marcado no clássico Juventus x Internazionale: caminho difícil na Itália. (Foto: Globoesporte.globo.com) |
Desemprego parcial, suspensão nos pagamentos por alguns meses e cortes de até 70% nos rendimentos dos atletas são alguns dos acordos fechados ou ainda em negociação.
Nem os clubes de maior faturamento do mundo estão imunes financeiramente durante a pandemia do novo coronavírus.
Enquanto tentam se replanejar sem algumas receitas previstas desde a interrupção do calendário de jogos, há quase um mês, negociam independentemente a redução nos salários dos jogadores.
Para os que conseguem arrecadar menos, dependendo da lei de cada país, a saída foi colocar os atletas em situação de desemprego parcial, dispositivo que divide a conta salarial com o governo.
Em outros casos, ainda, as ligas e associações de jogadores profissionais negociam acordos coletivos. Confira o panorama geral nos principais países da Europa.
Inglaterra: A Premier League propôs uma redução de 30% no salário dos atletas para os próximos 12 meses para proteger o pagamento de funcionários que ganham menos nas equipes.
No entanto, a primeira proposta dos clubes feita aos jogadores foi recusada.
As conversas entre a liga e a associação de jogadores (EFA) continuam.
"A dedução salarial proposta de 30% ao longo de um período de 12 meses equivale a mais de 500 milhões de libras em reduções salariais e uma perda nas contribuições fiscais de mais de 200 milhões de libras ao governo", afirmou o comunicado da associação dos jogadores.
A decisão de alguns times de colocar os funcionários em licença remunerada gerou muitas críticas. Algumas delas de políticos, como o deputado Julian Knight, que pede ao Ministro das Finanças para taxar clubes que não forem solidários com seus empregados.
O Tottenham, Bournemouth, Norwich e o Newcastle, por exemplo, reduziram os salários de funcionários, conforme a lei do país permite, mas continuam a pagar os atletas.
O Liverpool, por outro lado, tinha colocado 200 funcionários em licença remunerada, mas mudou de ideia depois de críticas de torcedores, jornalistas e ex-atletas.
Espanha: A Liga Espanhola emitiu um comunicado incentivando os clubes a adotar um ERTE (Expediente Temporal de Regulação de Emprego), opção constitucional adotada por alguns clubes da primeira e segunda divisões.
Com isso, os atletas são postos no regime de desemprego parcial durante a pandemia: o tempo de trabalho diminui e, como consequência, a remuneração é afetada.
Outras equipes, como o Barcelona, optaram pela redução dos salários dos atletas em acordo com o próprio elenco.
No caso do clube catalão, a dedução foi de 70%.
O Atlético de Madrid seguiu o mesmo caminho.
Por meio do presidente Javier Tebas, a La Liga propõe uma redução coletiva de 20% dos salários, para proteger o setor que representa 1,37% do PIB (Produto Interno Bruto) espanhol.
No entanto, a associação de jogadores (AFE) quer uma redução na base de 8 a 10%.
Na última sexta-feira (3), uma reunião das partes com os 20 capitães da primeira divisão terminou sem acordo.
A La Liga calcula um prejuízo de € 957 milhões (mais de R$ 5,5 bilhões) se não houver mais jogos esta temporada.
A entidade quer também que os jogadores arquem com 47% desse montante caso essa situação ocorra.
Se o campeonato terminar com portões fechados, esse valor cai para € 303 milhões (R$ 1,7 bilhões) e, caso as partidas tenham público, o prejuízo seria de € 156 milhões (R$ 898 milhões).
Se houver jogos sem público, a porcentagem proposta pela La Liga aos atletas pagarem é de 46%, e se os confrontos tiverem torcedores, 49%.
No entanto, as conversas para essa decisão com a associação de jogadores também não tiveram um consenso.
França: Depois de quase todos os clubes da primeira divisão do país adotarem a medida de desemprego parcial para combater a falta de receitas, a Ligue 1 chegou a um acordo global na última terça envolvendo todos os clubes da elite francesa.
A decisão é um corte progressivo nos salários, tomada com base na remuneração dos atletas.
Aqueles com 70% do salário bruto até € 10 mil mensais não sofrem corte nos pagamentos.
Se esse valor varia de € 10 mil a € 20 mil, a baixa será de 20%.
Atletas que recebem de € 20 mil a € 50 mil mensais, terão 30% de redução.
Até € 100 mil mensais, o corte é de 40%.
Acima desse valor, a redução será de 50% dos vencimentos até o fim da pandemia.
No entanto, os jogadores terão a palavra final sobre aceitar ou não essa decisão, mas o sindicato dos jogadores não acredita que haverá resistência à medida.
Itália: No país europeu com mais mortes por coronavírus, a Lega Serie A, que organiza a primeira divisão local, firmou um acordo comum para todos os clubes: se houver a retomada dos jogos, as equipes vão cortar um sexto do pagamento anual, ou seja, dois meses de trabalho.
Caso as partidas não consigam ser retomadas, a redução será maior: um terço, equivalente a quatro meses de salários.
A proposta não foi bem aceita pela Associação Italiana de Jogadores.
O ex-jogador Tommasi, presidente da entidade, considerou a sugestão "vergonhosa e inadmissível".
A única exceção a esse acordo é a Juventus, que já havia negociado separadamente com seus atletas.
A Velha Senhora vai interromper os pagamentos de março a junho se não houver jogos nesse período.
O clube estima uma economia de € 90 milhões (cerca de R$ 510 milhões) por causa desse acordo.
Alemanha: No país, não houve um acordo coletivo como na França e na Itália.
No entanto, os clubes foram os primeiros a tomar ações individuais para a diminuição de suas folhas de pagamento, e a situação é a mais estável entre os principais campeonatos europeus.
Os atletas do Bayern de Munique e do Borussia Dortmund aceitaram uma redução de 20% dos pagamentos.
Alguns dos outros clubes que chegaram a um acordo com jogadores e comissão técnica para baixar os salários foram o Borussia Mönchengladbach, Werder Bremen, Bayer Leverkusen e Schalke 04, por exemplo.
Portugal: O sindicato de jogadores do país (SJPF) criticou a decisão que alguns clubes tiveram de pôr jogadores sob licença.
Em Portugal, a prática é constitucional em períodos excepcionais, como a crise causada pelo novo coronavírus.
O sindicato está em negociação com o a liga para conseguir um acordo global, e disse que a decisão unilateral dos clubes prejudica o andamento das conversas.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto; Ana Cristina Ribeiro
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