terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Retrospectiva do Cruzeiro

Ronaldo supera incertezas e polêmicas e ergue clube com 2022 animador.

Ano foi o primeiro de Fenômeno à frente da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do clube e acabou coroado com título da Série B.

Depois de três anos de puro sofrimento, o torcedor do Cruzeiro, enfim, pode respirar aliviado em 2022. 

Um ano movimentado, que começou com surpresas, recheado de incertezas, mas terminou com resultado além das expectativas. 

Todo esse enredo com um protagonista bem definido: Ronaldo Fenômeno.

A chegada dele foi ainda nos dias finais de 2021. 

Mais especificamente em 18 de dezembro, com divulgação da assinatura da intenção de compra. 

A temporada já tinha acabado, e o início de 2022 era planejado a total vapor. 

Por isso, os 13 dias finais do ano passado são tão importantes para contar como foi este ano de pioneirismo da Sociedade Anônima do Futebol no Brasil.

Reformulação no futebol: No momento em que Ronaldo assumiu o clube, o Cruzeiro tinha acertado com Alexandre Mattos para ser o diretor de futebol. 

Ele inclusive estava trabalhando em contratações desde a reta final da Série B, além de ter confirmado a renovação do contrato de Vanderlei Luxemburgo. 

Os dois, muito experientes, seriam as figuras centrais do departamento.

Mas a gestão de Fenômeno optou pelo desligamento dos dois profissionais. 

Visando reduzir custos e mudar o perfil de atuação no mercado em busca de contratações, confirmou Pedro Martins como diretor executivo e Paulo Pezzolano como treinador, no dia 3 de janeiro. 

Dois profissionais jovens, pouco falados no futebol brasileiro.

A reapresentação do Cruzeiro estava marcada para o dia seguinte, na Toca da Raposa. 

Ronaldo, com Covid-19, não pôde estar presente. 

E a incerteza sobre o elenco pairava no ar. 

Com a mudança de filosofia após chegada da SAF, 23 jogadores estiveram presentes na apresentação de Pezzolano, alguns sem permanência garantida.

Entre as ausências estavam atletas contratados e anunciados pelo Cruzeiro em dezembro, com aval de Mattos e Luxemburgo: o goleiro Jailson, o lateral-direito Pará e o meia Fernando Neto. 

Jogadores que tinham contrato também não se apresentaram, e depois acabaram tendo saída confirmada, como Ramon e Raul Cáceres.

Polêmica com ídolo e a primeira crise: Um jogador que saiu, pegou a todos de surpresa e causou o primeiro atrito entre parte da torcida e Ronaldo: Fábio, ídolo do clube e jogador com mais jogos na história cruzeirense, não teve o contrato renovado. 

O goleiro, que tinha apalavrado prorrogação contratual com a gestão de Sérgio Rodrigues, não aceitou a proposta da SAF para se despedir no decorrer do Mineiro e deixou a Toca da Raposa tecendo críticas à nova gestão.

A confirmação foi feita pelo jogador, um dia após o início da pré-temporada. 

Alguns torcedores se revoltaram com a opção da diretoria em não renovar e foram à porta da Toca da Raposa protestar contra Ronaldo e Paulo André, braço direito do ex-atacante.

Além dos xingamentos contra a dupla, gritos de “o Cruzeiro é nosso” e “se o Fábio não voltar, o pau vai quebrar”. 

A primeira crise da SAF no futebol brasileiro parecia se instaurar. 

A justificativa da gestão foi a responsabilidade financeira. 

O torcedor pedia que as raízes do clube fossem respeitadas.

Dívidas pagas e início da reconciliação: No decorrer de janeiro, o Cruzeiro foi reforçando o elenco, sempre mantendo as premissas financeiras de Ronaldo para colocar a casa em ordem. 

Para ocupar o lugar deixado por Fábio, por exemplo, chegou Rafael Cabral, campeão da Taça Libertadores da América pelo Santos e que estava na Inglaterra.

Mas, além de buscar jogadores, era necessário desembolsar mais de R$ 20 milhões para quitar dívidas na FIFA (Federação Internacional de Futebol) e conseguir inscrever as contratações. 

O que foi feito. Mesmo sem ainda assinar de fato a compra das ações do Cruzeiro, a empresa de Fenômeno desembolsou o valor para que Pezzolano conseguisse ter jogadores em campo.

Esse ato ajudou o torcedor a entender a realidade do clube, e a estreia do Mineiro, diante da URT, mostrou que o atrito por Fábio tinha sido superado. 

Ronaldo foi ovacionado no Independência, em seu primeiro contato com a torcida.

No decorrer dos jogos do Campeonato Mineiro e do início da Copa do Brasil, os resultados e a forma de atuar também deram respaldo às escolhas da gestão de Ronaldo. 

Paulo Pezzolano caiu rapidamente nas graças da torcida, e o time voltou à final do Estadual e às oitavas da copa nacional após dois anos.

Ronaldo fica ou sai?

Em campo as coisas caminhavam bem, mas os bastidores do clube voltaram a fervilhar. 

Ia se aproximando o fim do prazo para Ronaldo assinar a compra das ações do Cruzeiro, quando a equipe de Fenômeno sugeriu mudanças no contrato. 

A empresa aceitaria assumir dívidas com a União, mas em troca queria as propriedades das Tocas I e II.

A situação gerou atrito no Conselho Deliberativo do Cruzeiro, e o contrato proposto pela equipe de Ronaldo acabou sendo divulgado, mesmo com cláusulas de confidencialidade. 

Figuras políticas importantes do clube se mostraram contrárias aos moldes propostos e judicializaram a situação na tentativa de atrapalhar a votação do acordo.

Ainda que internamente houvesse otimismo quanto à resolução das questões, o acordo ficou sob dúvida. 

Em 4 de abril, no entanto, após “batalha judicial”, a assembleia com os conselheiros foi realizada, e a venda das ações da SAF para Ronaldo foi aprovada. 

O contrato foi assinado no dia oito daquele mês, dez dias antes do prazo final.

Elenco renovado: As mudanças no elenco foram grandes desde que Ronaldo chegou, mas seguiram durante e depois do Campeonato Mineiro. Maicon, Sidnei e Gabriel Dias, recém-contratados, foram liberados para outros clubes. 

E, claro, outros jogadores fizeram o caminho inverso. Logo após o Estadual, chegaram Wagner, Zé Ivaldo, Léo Pais, Jajá, Rafa Silva, Luvannor e Rodolfo. 

Todos se mostrariam importantes em algum momento da competição.

No meio do ano - quando a Série B caminhava para o fim do primeiro turno, ainda chegaram nomes que para Pezzolano foram importantes. 

Foram contratados Wesley Gasolina, Marquinhos Cipriano, Luís Felipe, Pablo Siles, Chay, Bruno Rodrigues, Lincoln e Juan Christian, além de Stênio, retornando de empréstimo ao Torino.

"Passeio" na Série B e lua de mel com a torcida: Com os bastidores mais tranquilos, as atenções se voltaram completamente para o campo, onde o Cruzeiro ainda teria pela frente o seu principal objetivo: a Série B do Campeonato Brasileiro, em uma edição considerada por muitos como a mais difícil da história.

O Cruzeiro começou patinando, com derrota para o Bahia, vitória suada sobre o Brusque e empate com o Tombense no apagar das luzes. 

As boas atuações ainda não apareciam, e o torcedor ficava apreensivo em relação à competição. 

Mas a situação rapidamente mudou.

Paulo Pezzolano mais uma vez mostrou que a escolha da equipe de Ronaldo por ele foi certeira. 

Alterou o esquema de jogo, passou a atuar com três zagueiros e iniciou a escalada para o topo da tabela. 

Engrenou quatro vitórias consecutivas e conseguiu chegar à liderança da Série B, após 83 rodadas disputadas, considerando os fracassos de 2020 e 2021.

Isso aconteceu na sétima rodada de 2022, após triunfo para o Náutico. 

A partir daquele momento, ninguém mais tiraria o time do lugar mais nobre da competição. 

Foram 37 jogos sem ninguém pela frente. 

O Cruzeiro bateu recorde de acesso e título mais rápidos da história do torneio, fechando o ano com chave, troféu e medalha de ouro.

Toda essa trajetória foi construída com papel fundamental do torcedor, que também bateu recorde. 

Foram mais de 43 mil presentes, em média, por jogo na Série B. 

O maior número da história da competição. 

A torcida do Cruzeiro, machucada pelos últimos anos, caminhou junto do time até o retorno à Série A. 

São quase 70 mil sócios e uma das maiores arrecadações do país no quesito.

Com todos esses ingredientes de 2022, o Cruzeiro de Ronaldo encerra o ano com um cenário bem mais animador para 2023. 

O objetivo principal é se manter na Série A e criar raízes onde esteve por 99 anos de sua história.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário