Brasileiros querem retorno seguro do Italiano, e Dalbert alerta: "A vida vale mais do que voltar a jogar nesse momento".
O brasileiro Dalbert em jogo da Fiorentina. (Foto: Twitter/Fiorentina) |
Lateral da Fiorentina é um dos seis jogadores ouvidos pelo GloboEsporte.com sobre a volta aos treinos na Itália e a possibilidade de retomada do campeonato.
O futebol italiano deu início esta semana a um movimento de retorno gradual às atividades, com a permissão pelo governo para os clubes da primeira divisão reabrirem seus centros de treinamento aos jogadores, respeitando as medidas sanitárias e de distanciamento ainda necessárias no país.
Com 213 mil casos e 29 mil mortes pelo Covid-19 registrados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a Itália foi o primeiro grande epicentro da doença na Europa e ainda segue como um dos países mais afetados no mundo.
Enquanto o governo debate a possível retomada das competições esportivas, o GLOBOESPORTE.COM ouviu seis jogadores brasileiros que atuam na Série A sobre o que pensam da volta aos treinos e suas expectativas para o futuro do campeonato.
Outros jogadores procurados não quiseram responder ou alegaram um veto do clube a entrevistas nesse momento.
Quatro dos seis brasileiros ouvidos disseram que já se sentem relativamente seguros para treinar no Centro de Treinamento, devido às rigorosas medidas sanitárias aplicadas.
Outros dois, o lateral-esquerdo Dalbert e o zagueiro Igor Julio, ambos da Fiorentina, permanecem treinando em suas casas, já que o clube só reabrirá o centro de treinamentos no dia 18 de maio.
Quando o assunto é a volta do campeonato, a opinião é praticamente unânime: o prosseguimento da Série A só deve acontecer se e quando houver absoluta garantia de segurança, para os jogadores e os demais envolvidos na competição.
"É claro que nós jogadores temos o sonho de voltar a jogar e treinar, mas eu creio que a vida de um ser humano vale mais do que voltar a jogar nesse momento tão difícil", afirmou Dalbert.
"O mais importante é todos estarmos em segurança, tanto a população quanto os atletas. Sobre a questão da volta do campeonato, não temos certeza se vai acontecer. Não vale a pena forçar a volta de um campeonato em meio a uma pandemia. Temos que voltar com bastante cautela e nos proteger bem. Independentemente dos exames, vamos estar em viagens, hotéis e em contato com outras pessoas. Agora, é importante termos respeito pelas milhares de pessoas que perderam suas vidas e pelos entes queridos delas", completou.
Dalbert ressalta que os jogadores estão mantendo a forma em casa, onde estão "em segurança".
"Em relação aos treinos, é claro que treinar em um campo de futebol, com maior espaço e ambiente propicio, é importante e ajuda bastante o atleta. Mas nós, jogadores, também estamos treinando em casa. Não estamos de férias. É desgastante fisicamente e mentalmente. É difícil, mas pelo menos estamos em segurança. Nesse momento acho um pouco precipitada essa volta, mas estamos à disposição para fazer o nosso trabalho".
Seu companheiro na Fiorentina vai ainda mais longe: para Igor Julio, o Italiano não deveria ser retomado nesta temporada.
O campeonato foi interrompido faltando 12 rodadas para o fim, com apenas um ponto separando a líder Juventus da Lazio.
"Como atleta, eu sempre quero jogar e fazer o que eu amo. Mas, pela situação em que a gente se encontra, pela quantidade de casos que tivemos, quantidade de mortes, na minha opinião essa temporada não deveria voltar. Se quando for decretado que tiver de voltar, a gente já puder ter mais segurança, uma queda grande de casos, alguma cura, por exemplo, aí tudo bem", afirmou.
"Se for para voltar nesse momento, eu optaria por não voltar. Não é porque somos jogadores que estamos imunes ao vírus", opinou Igor Julio.
Falta de vacina e cura traz insegurança: Um dos jogadores ouvidos pelo GloboEsporte.com, que pediu para não ser identificado, disse que ainda não se sente totalmente seguro, "pelo fato de ainda estarmos tendo casos e não existir uma vacina que traga prevenção ou mesmo a cura para aqueles que estão com coronavírus".
Apesar da preocupação, ele não vê problema na volta aos treinos, desde que acompanhada das medidas necessárias de prevenção.
"Sou a favor de voltar (os treinos), mas seguindo todos os cuidados possíveis, ou seja, tendo menos contato possível com as pessoas. A respeito do campeonato, acho que tem que voltar sim, mas também com todo o cuidado possível, seguindo todas as medidas restritivas, para que a competição e a diversão não venham gerar uma gravidade maior, ou seja, deixar de ser uma diversão e se tornar realmente um problema", disse ele.
O goleiro Gabriel, do Lecce, aprovou a volta aos treinos no clube, sem esconder o estranhamento inicial com o ambiente controlado e o grupo reduzido.
"A gente ficou uns 50 dias aqui de quarentena, e a sensação de voltar foi um pouco estranha, com todas aquelas medidas de distanciamento. Mas é melhor do que estar em casa. Por mais que tenha sido só trabalho físico, parece que você já está dando um passo, de poder sair de casa e ir lá correr e tudo mais", disse ele, dando mais detalhes sobre a atividade.
"A gente voltou a treinar usando o próprio material, sem usar os vestiários, o treinador a gente viu à distância, o preparador de goleiros a gente viu à distância, ele com luvas e com máscara. A cada 45 minutos, cinco jogadores (treinam). Fazemos somente um trabalho de corrida, mantendo sempre a distância, nada de contato com bola ou com os outros atletas. Eu corri com o outro goleiro do time, em volta do campo, e a situação está assim, vamos ver como vai ser o desenrolar".
O zagueiro Ibañez, da Roma, voltou ao clube na terça-feira (6) para a primeira sessão de treinos.
O elenco foi dividido em três grupos, e nesta quinta-feira (8) todos irão pela primeira vez ao Centro de Treinamento no mesmo dia, mas em turnos diferentes.
"Na terça-feira (6), eu fiquei no clube por volta de uma hora e 20 minutos. Fizemos exames médicos de rotina, teste de força no ginásio e treino no campo, só corrida e alguma condução de bola e passes. Só eu de jogador, sempre acompanhado por um preparador. Aqui na Roma eles tomaram todas as providências que precisavam ser tomadas, um quarto para cada um, com as coisas separadas, procuraram fazer tudo".
"Quando o jogador chega no clube tem o controle de temperatura do corpo, se alguém estiver com a temperatura mais alta, vai ser isolado. Aqui na Roma eu me sinto seguro de voltar a treinar - afirmou o zagueiro".
Ibañez compartilha com os demais brasileiros a opinião sobre a possível volta do Italiano:
"O mais certo seria voltar o campeonato somente quando tiver total segurança sobre a doença. É difícil fazer uma previsão, é complicado. O certo é que voltaremos com portões fechados, e futebol sem torcida não é a mesma coisa, é bom ter o apoio da torcida, e até sentir a pressão da torcida adversária. Infelizmente, vai ter que ser assim".
O zagueiro Rodrigo Becão, da Udinese, também não vê problema em voltar aos treinos, mas mantém a cautela sobre os jogos.
"Acredito que, se os clubes podem oferecer uma estrutura de treinamento adequada que não gere riscos para a saúde de ninguém, o retorno é válido sim. De qualquer forma temos que ter em mente que é uma doença muito séria e perigosa, por isso todo o cuidado é pouco. Aqui na Itália a situação foi bem pior do que em outros países europeus. Por isso acho muito difícil termos o retorno das competições", observou Rodrigo Becão.
"Por enquanto, não foi decidido nada ainda em relação ao retorno dos jogos, mas acho que vai demorar um pouco mais ainda para voltar. E, se voltar, espero que tudo seja feito com cuidado e na hora certa para não prejudicar a saúde de ninguém", finalizou.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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