segunda-feira, 1 de junho de 2020

Brasileiros na Alemanha

Confinamento em hotel e muitos testes: brasileiros relatam como Bundesliga prepara para voltar.
Matheus Cunha e sua família passaram todo isolamento em hotel de Berlim. (Foto: Reprodução/Instagram)
Jogadores explicam detalhes das medidas de prevenção aplicadas no futebol do país e como foram treinos no período: "Estamos quase seguros 100%", diz atacante Raffael.

O último jogo disputado no Campeonato Alemão foi o empate por 1 a 1 entre Mainz e Fortuna Düsseldorf no dia 8 de março. 

No próximo dia 16 de maio, este sábado, Borussia Dortmund e Schalke 04 vão marcar o retorno da competição. 

Nesse intervalo de mais de dois meses houve isolamento, treinos individuais, muitos testes e um rígido combate ao coronavírus imposto pelo governo alemão que faz com que haja pouca insegurança antes de a bola rolar. 

Quem garante são os jogadores. 

No país desde 2008, o meia Raffael, de 35 anos, resume:

"O campeonato vai voltar de uma forma segura para todos, equipes e jogadores. Não tenho motivos para me preocupar, para ter receio com a volta do futebol e a volta do contato físico"

Desses dois meses sem bola rolando, um foi inteiramente de confinamento e o seguinte com um regime diferenciado de treinos. 

Antes da reestreia, todos os times passaram por três sessões de testes na última semana. 

O protocolo ainda prevê concentração e isolamento das delegações em hotéis por sete dias até a data do jogo de cada equipe.

O GloboEsporte.com conversou com alguns dos 11 brasileiros que atuam na Bundesliga, para saber como foi esse período e qual a expectativa para a volta do Campeonato Alemão. 

Eles estão convivendo com o que deve ser a nova realidade do esporte por muito tempo.

"Uma situação totalmente nova e que temos que nos adaptar ainda. Treinos em grupos pequenos, não poder usar o vestiário, não almoçar no clube... nós jogadores gostamos do ambiente interno. Do vestiário, da resenha. Um período de adaptações e aprendizados", comentou o atacante Matheus Cunha, do Hertha Berlin.

Recém-chegado do Red Bull Leipzig e um dos destaques do Brasil no Pré-Olímpico, ele enfrentou a quarentena em um hotel da capital alemã, junto da família. 

No início de abril os treinos eram individuais e foram assim mantidos nas primeiras atividades no Centro de Treinamento do Herta.

À medida em que o governo alemão flexibilizava as regras de isolamento social, graças à efetividade das ações sanitárias e o comportamento colaborativo da população, os trabalhos dos times da Bundesliga também evoluíam. 

Troca de roupa, banho e refeição, só em casa.

"É muito complicado. Mas acredito que não podemos reclamar. Estamos tendo a possibilidade de voltar a fazer o que a gente ama e, pela situação do país, de maneira segura".

Com 16,5 mil manequins vendidos, clube alemão anuncia até espaço para torcida visitante em mosaico.

Um novo ambiente para treinar: A Liga de Futebol Alemã (DFL) realizou até o início de maio 1.724 testes de Covid-19 em atletas, treinadores, fisioterapeutas e outros profissionais envolvidos nos treinamentos dos times da Bundesliga 1 e 2. 

Apenas 10 pessoas tiveram resultado positivo - incidência de menos de 0,6% do total.

O lateral-esquerdo Wendell, do Bayer Leverkusen, fez três exames, todos negativos. 

Ele retomou as atividades com todo o grupo há duas semanas, em trabalhos com campo reduzido e outros normais.

"Quando chegávamos ao clube para treinar, todas as portas estavam abertas para não ter que usar o nosso cartão com o chip e precisar abrir as portas, o que evita que você encoste a mão onde outra pessoa encostou. Além disso, pegávamos a roupa na área da zona mista, onde é mais aberto, e nos trocávamos separados. Usávamos quatro vestiários e não podia ter aglomeração. Os cuidados são, basicamente, tudo o que os órgãos de saúde têm pedido à população mundial", destacou Wendell.

"Estamos quase 100% seguros": O sinal verde do governo da Alemanha sobre a retomada da Bundesliga foi aceso no dia 6 de maio. 

Todos os jogos ocorrerão com portões fechados. 

Segundo a DFL, cada partida contará no máximo com 300 pessoas envolvidas, entre funcionários dos clubes e dos estádios, além de jornalistas e equipes de transmissão. 

O governo alemão exigiu que, para que o campeonato seja iniciado, os atletas fiquem em isolamento total por pelo menos uma semana.

Porém, nesse meio-tempo, também foi ligado o sinal de alerta, com os casos positivos para Covid-19 no Colônia, no Dresden, que provocou o adiamento de sua reestreia na Bundesliga 2, e no Borussia Mönchengladbach, do meia Raffael. 

O brasileiro não se mostrou preocupado e disse confiar no controle sanitário imposto pelas autoridades alemãs.

"Estamos seguros quase 100%, porque o controle está sendo rígido. Acho que, para jogar futebol, neste momento, esse controle está sendo fundamental para evitar mais contágios. A sensação no grupo é muito boa, todo mundo está querendo voltar a jogar. Vejo um grupo bem animado. Que bom que vai ser possível ir até o final do campeonato", comentou Raffael, que está no Gladbach desde 2013.

A Bundesliga foi paralisada no dia 8 de março, ao fim da vigésima quinta rodada. 

"Desde o começo, o governo alemão sempre foi muito transparente e passou bastante informação e tranquilidade para a população. Se eles não tivessem plena consciência de que há segurança para o futebol ser praticado, acho que não iriam permitir".

O lateral-direito William, ex-Internacional e em sua terceira temporada no Wolfsburg, vive uma experiência diferente. 

Com grave lesão no joelho e afastado dos gramados desde fevereiro, ele retornou ao Brasil antes do agravamento da pandemia. 

O jogador não deve voltar à Alemanha, e dificilmente atuará no restante da temporada. 

Pelo que percebe e ouve dos colegas de clube, a sensação é de tranquilidade. 

No entanto, ressalta: será difícil nunca mais ter receio de contágio.

"Os jogadores estão um pouco mais aliviados. O índice de mortes está baixo na Alemanha, e também estão vendo os cuidados que estão tendo para voltar o campeonato", diz o jogador, de 25 anos, complementando:

"Estão mais tranquilos, mas o medo continua. É tudo muito novo, tudo aconteceu muito rápido, então o medo continua. Mas a partir do momento que as autoridades estão fazendo tudo para que isso melhore, os jogadores ficam um pouco mais tranquilos também".

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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