Análise financeira de banco aponta erros e vê São Paulo vivendo como "há dez mil anos".
Leco preside o São Paulo desde 2015. (Foto: Marcos Ribolli) |
Relatório cita queda de receitas e investimentos acima da capacidade para ilustrar crise do clube.
Relatório de análise financeira dos clubes brasileiros, publicado nesta terça-feira pelo banco Itaú BBA, apontou um cenário problemático no São Paulo, um clube que vive como "há dez mil anos", como afirma o documento.
A relação com a música de Raul Seixas se dá principalmente pelas escolhas de 2019, quando o clube, de acordo com os analistas, cometeu erros das "velhas gestões do futebol brasileiro".
As receitas caíram, houve estagnação das receitas recorrentes (aquelas que se repetem ano a ano e, portanto, exclui-se a venda de atletas, sempre incertas), o que se arrecada com publicidade continua abaixo do potencial do clube e os investimentos feitos foram além do que o São Paulo pode pagar.
A análise publicada nesta terça-feira é baseada no balanço financeiro do clube de 2019, quando houve queda de receitas totais pelo segundo ano seguido: era de R$ 497 milhões em 2017, passou para R$ 416 milhões em 2018 e para R$ 374 milhões no ano passado.
A dívida total do São Paulo chegou a R$ 526 milhões em 2019, a maior variação de um ano a outro entre os 24 clubes analisados, aumentou R$ 214 milhões.
Sem títulos desde 2012, quando venceu a Copa Sul-Americana, o São Paulo é um dos clubes que mais investem na formação de elenco. Em 2019, foram R$ 130 milhões. Nos últimos cinco anos, foram R$ 416 milhões – só Flamengo (R$ 526 milhões) e Palmeiras (R$ 738 milhões) gastaram mais.
Ao contrário dos rivais, que no período venceram campeonatos importantes como o Brasileiro e a Libertadores, o São Paulo continuou sem erguer uma nova taça.
Com a pandemia de Covid-19 que paralisou o futebol por quase quatro meses, as perspectivas para 2020 são de números ainda piores. A análise estima nova queda de receitas totais, para R$ 367,6 milhões, apesar de prever um aumento substancial com venda de atletas, que passariam dos R$ 97,2 milhões de 2019 para R$ 165,2 milhões neste ano.
Os reflexos da crise financeira apareceram antes dos impactos da pandemia, porém. O São Paulo chegou a atrasar o salários dos atletas logo no começo da temporada. Com a paralisação, se viu obrigado a impor cortes altos nos vencimentos dos jogadores mesmo sem acordo com o elenco.
Conseguiu acertar parte das pendências apenas neste mês, ao receber a primeira parcela da venda de Antony ao Ajax.
Os números caóticos serão protagonistas da campanha eleitoral no clube, já em curso, para a escolha de um novo presidente, em dezembro.
O atual, Carlos Augusto de Barros e Silva, no cargo desde 2015, deixará a cadeira e tem, como única chance de conquistar um título em sua gestão, o Campeonato Paulista, que nesta semana inicia a fase final, o São Paulo enfrenta o Mirassol, quarta, no Morumbi.
A análise do banco Itaú BBA sobre o São Paulo é concluída com uma ironia:
"Sem paciência, planejamento, gastos controlados e eficientes, tecnologia, inovação, o São Paulo seguirá se achando na vanguarda, operando uma calculadora Facit (um modelo antigo) enquanto os adversários já usam inteligência artificial. O São Paulo precisa deixar o passado e entender que o futuro é hoje".
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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