quarta-feira, 29 de julho de 2020

Caminho até a final

Chegou a hora: o caminho e os atalhos de cada time para chegar à semifinal do Paulistão.

Paralisação e regulamento reduzem diferenças entre os classificados. 

Do esfacelado Mirassol ao líder Bragantino, todos podem oferecer resistência aos gigantes.

Apenas um jogo. 

Estádios sem torcida. 

Disputas de pênaltis em casos de empate. 

O time de melhor campanha longe de casa. 

A fórmula e as circunstâncias das quartas de final do Paulistão reduzem a distância entre os grandes e os menores, os mais e menos organizados.

A pausa de 127 dias entre as 10 primeiras rodadas e as duas últimas da fase inicial ofereceu múltiplas consequências aos classificados, os quais não podemos chamar de “melhores”, já que o regulamento permitiu à Ponte Preta avançar com 13 pontos e ao Novorizontino ficar fora com 19 pontos.

São Paulo-SP X Mirassol-SP: Antes de o campeonato ser suspenso, o São Paulo praticava o futebol mais interessante e agradável. 

A saída de Antony, porém, expôs grave carência do elenco. 

Ele era o único jogador veloz cujo nível técnico podia se nivelar ao dos companheiros mais experientes.

Fernando Diniz elegeu Pablo como substituto. 

Ganha presença de área, perde capacidade de quebrar linhas de marcação com o drible ou de arrastar adversários e gerar espaços para os meio-campistas trocarem passes. 

O São Paulo é muito compacto com a bola. Tenta infiltrar na defesa rival com tabelas, triangulações, movimentações.

Seus melhores momentos no Paulistão ocorreram quando o adversário acreditou que poderia lhe roubar a bola durante a iniciação das jogadas. 

Bem treinado, o time do Morumbi ultrapassava os obstáculos e ganhava campo aberto para evoluir e impor a técnica de jogadores como Daniel Alves, Igor Gomes, Vitor Bueno, Pato e companhia.

Não deverá ser tão convidativo o cenário nesta quarta-feira (29). 

O Mirassol perdeu 16 jogadores, dos quais sete eram titulares frequentes. 

É provável que Ricardo Catalá posicione seu time no Morumbi em bloco baixo, fechadinho, tirando espaços de infiltração do São Paulo.

O Mirassol é recordista de gols de contra-ataque no Paulistão. 

A debandada levou qualidade para puxá-los, mas velocidade ainda há. 

O Tricolor, por sua vez, fez cinco gols de fora da área, lidera este quesito que poderá ser importante para furar o muro amarelo.

Palmeiras-SP X Santo André-SP: Outro confronto poderia soar o mais equilibrado deste meio de semana a quem vê somente a pontuação. 

O Palmeiras só conseguiu ultrapassar o Santo André e se tornar líder de seu grupo na última rodada.

A questão é: como a equipe do ABC conseguiu sustentar a melhor campanha por tanto tempo sendo o time que menos finaliza, o que menos troca passes e o de menor posse de bola entre os 16 do Paulistão?

Eficiência! 

O nome dela era Ronaldo. 

Num determinado momento do torneio, o centroavante tinha cinco gols em 11 finalizações. 

Para se ter uma ideia do aproveitamento, quem mais chutou a gol na primeira fase foi Pablo, do São Paulo: 39 para marcar os mesmos cinco gols.

Só que Ronaldo partiu, rumo ao Sport. 

E antes mesmo dessa transferência, o Ramalhão passara a sofrer da falta de repertório. 

Agressividade na defesa e competência na bola parada, marcou cinco gols assim, são os trunfos contra um Palmeiras que precisa de ritmo.

Dudu era o diferencial. 

O cara capaz de desatar nós estratégicos. 

Vanderlei Luxemburgo tem um elenco acima da média que ainda não encontrou seu ritmo. 

A superioridade técnica dá ao Verdão a posse de bola, e, com ela, a verticalidade por vezes se torna desenfreada, com jogadores de transição, como Rony, encontrando dificuldades para atuar na construção.

Talvez em busca desse equilíbrio, Luxa tenha escalado dois meias no fim de semana: Lucas Lima e Raphael Veiga. 

Faltou profundidade. 

A virada veio na reta final, o que não se pode considerar novidade. 

O Palmeiras fez 14 gols no segundo tempo e só três no primeiro. 

Demora a encontrar o caminho, mas não desiste e parece ter uma preparação física que dá suporte.

Santos-SP X Ponte Preta-SP: As campanhas de Peixe e Macaca não estão entre as oito melhores do Paulistão, mas ambos podem ser campeões. 

Marinho se lesionou na estreia, em janeiro, e seu retorno é a melhor notícia pelos lados da Vila Belmiro. 

Sua presença no lado direito do ataque oferece força nas jogadas individuais, coragem e boa pontaria nas finalizações, e permite a Soteldo ficar no lado esquerdo.

Com Jesualdo Ferreira, o venezuelano flutuou muito mais pelo campo do que nos tempos de Sampaoli. 

A performance provou: seu lugar é mesmo na esquerda, onde pode usar sua leveza e habilidade incríveis, cortar para dentro e revelar chutes e cruzamentos surpreendentes.

O problema é que o meio-campo tem funcionado em ritmo lento e, com isso, proporcionado menos chances de Soteldo receber a bola com apenas um marcador, sem cobertura. 

Quanto mais devagar a bola gira, mais rapidamente a marcação dobra. 

No Santos de 2020, os setores do campo não conversam. 

O centroavante muitas vezes assiste ao jogo como uma peça avulsa.

Claro que ainda é cedo para impor rótulos ao time do português, mas num jogo único, até a Ponte Preta, que há 72 horas era o pior time do Paulista, na zona de rebaixamento, pode sonhar. 

Invicta e sem sofrer gols pós-quarentena, a equipe teve o ajuste de posicionamento de atletas mais leves, como Vinicius Zanocelo, mais recuado, e Alisson Safira, centralizado.

Bragantino-SP X Corinthians-SP: Por fim, a missão mais árdua de um gigante. 

O tricampeão Corinthians classificou-se no último suspiro e terá de enfrentar um Bragantino com bons motivos para acreditar que fincará raízes no grupo que disputa anualmente o título estadual. 

Com salários e elenco intactos durante a pandemia, apoiado na parceria com a Red Bull, o time de melhor campanha tem a linha defensiva entrosada, toda ela campeã da Série B nacional de 2019.

Dali em diante, reforços importantes: Matheus Jesus é o volante que constrói e finaliza de média distância. 

Artur, canhoto pelo lado direito, seria titular na maioria dos clubes da Série A do Brasileirão. 

Ele aproveita muito bem a liberdade oferecida pelo lateral Aderllan, responsável por alargar o campo, e posiciona-se mais perto dos demais atacantes, sempre em condição de finalizar ou encontrar o último passe para Ytalo, artilheiro do torneio.

Tiago Nunes, claramente, ligou o modo emergência para afastar qualquer possibilidade de rebaixamento e ainda classificar o Corinthians. 

O futebol praticado ficou muito distante daquele que parece agradar ao técnico. 

Como deu certo, o tempo é escasso e o adversário forte, este não parece ser o momento para voltar a buscar algo mais vistoso.

Jô deve “estrear” no lugar do contundido Boselli. 

O brasileiro é melhor jogador, mas não atua desde dezembro de 2019. 

Sua missão seria tornar o setor mais móvel ao lado de Luan. 

Conseguirá compensar a óbvia necessidade de ritmo? 

A possível volta de Cantillo, felizmente curado da covid-19, também incrementa a construção de um meio-campo de pouca aproximação e pode tornar o Timão menos dependente da bola parada.

Saudade: Os detalhes dos jogos, das semifinais, as entrevistas, os gols e melhores momentos, estarão no Troca de Passes, no SporTV. 

Sem Rodrigo Rodrigues. 

Sem sua alegria contagiante, a leveza que cativava, a energia, seu astral único, o sorriso tão espontâneo que permitia a todos se sentirem seus amigos. 

Até quem não o conhecia.

Rodrigo, talentoso, versátil, criativo. 

Sua herança é a felicidade.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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