domingo, 19 de julho de 2020

Fazer se representar

Por representatividade, Damiris deixa de alisar cabelo: “Entendi importância do meu posicionamento”.

Jogadora apoia ações da WNBA (Women's National Basketball Association ou é a liga profissional de basquete feminino dos Estados Unidos) contra o racismo e se diz acolhida nesse ambiente.
Damiris em ação antes da pandemia. (Foto: NBAE/Getty Images)
“Tô cansada disso tudo. Tô cansada dos olhares. Tô cansada dessa realidade. Ontem foi João, George Floyd e amanhã pode ser meu pai, meu primo, pode ser eu, pode ser você, minhas amigas e amigos pretos. Todo dia morre um preto, simplesmente porque é preto. E por isso precisamos estar juntos! Contagiar e erguer uns aos outros.”. O desabafo foi escrito por Damiris Dantas, jogadora do Minnesota Lynx na WNBA, em suas redes sociais.

Única brasileira a atuar na principal liga de basquete do mundo, ela sente cada vez mais a necessidade de se posicionar contra o racismo. 

Hoje com 27 anos, Damiris sabe que é um modelo para outras pessoas que, assim como ela, sofrem na pele (e por causa da pele) as injustiças sociais. 

Por isso, ela acha que precisa ficar atenta até ao que parece detalhe.

"A minha causa é a minha luta e eu não vou parar enquanto não melhorar. Eu vou estar sempre me posicionando. Eu entendi a importância do meu posicionamento pela visibilidade que eu tenho agora. Eu tenho recebido muitas mensagens. Por exemplo, muitas meninas me olham e falam “depois que você parou de alisar seu cabelo, eu parei também. Eu me senti representada.” 

Então é muito bom receber essas mensagens e eu estou vendo o quanto eu me posicionar é importante por causa dessa visibilidade que eu tenho.

Nos Estados Unidos, protestos contra o racismo explodiram depois que Geoge Floyd foi covardemente assassinato por um policial no meio da rua. Com isso, as próprias grandes organizações se sentiram na obrigação de se manifestar. 

No caso da NBA e da WNBA, ações contra o racismo foram tomadas. Inclusive, os atletas poderão fazer protestos durante o restante dos jogos da temporada que acontecerão no complexo da Disney. 

Segundo Damiris, o posicionamento da WNBA contra o racismo é essencial.

"Eu me sinto acolhida, me sinto protegida. Quando você tem alguém do seu lado, quando a liga está te apoiando, você se sente acolhida e com mais força e com mais vontade de falar. No Brasil, a gente tem alguns grupos e eu conto tudo para elas o que acontece aqui. Querendo ou não, é uma ajudando a outra. E juntas somos mais fortes. É muito louco, quando eu cheguei aqui bem novinha, eu ficava muito perdida e sem entender muita coisa. E hoje eu tenho outro papel de ficar mais atenta, de querer falar mais. É uma causa minha também. Me sinto privilegiada de estar jogando nessa liga".

Damiris fala sempre no feminino. 

Isso porque paralelamente à luta contra o racismo, ela, como todas as outras mulheres, precisa enfrentar as desigualdades de gênero. 

Por isso, para ela é bastante representativo, e importante, estar numa equipe em que a técnica é uma mulher e suas três assistentes também.

"É muito impactante e muito bom quando você olha pra comissão e ela é só formada por mulheres e mulheres fantásticas né? Pra não falar outra coisa (risos). Eu me sinto muito privilegiada. A gente conversa bastante sobre isso".

A WNBA volta no dia 25 de julho, mas Damiris entra em quadra no sábado, dia 26 de julho. 

O Minnessota enfrenta o Connecticut Sun na retomada da competição que ficou paralisada por cinco meses por conta da pandemia do coronavírus.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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