Apresentadora do Globo Esporte Rio Grande do Sul se recupera de um câncer e, com otimismo contagiante, inspira o público a estranha mania de ter fé na vida.
Momentos Alice Bastos. (Foto: Arquivo Pessoal) |
Eu sou carequinha.
Ela está carequinha.
Ambos estão carecas de saber que não saber é pior.
Conheço Alice Bastos Neves há um tempão.
Repórter gaúcha, sempre mostrou segurança e simpatia no vídeo.
Há alguns anos apresenta o Globo Esporte do Rio Grande.
Eis que, no dia 20 de janeiro de 2020, o ano mais insano de nossas vidas, Alice descobre que está com câncer de mama.
“Sim, um câncer de mama. Um nódulo de 1,7 cm na mama direita que descobri em um exame de rotina. A ecografia mamária, que faço desde 2011. Talvez, uma tijolada na cabeça seja uma boa definição para simbolizar o desnorteamento que a descoberta gerou em mim. A sensação nos primeiros dias era de que o mundo andava em uma velocidade e eu em outra. Era e é tanta coisa para absorver e entender. Em tão pouco tempo. E eu ali me sentindo aos pedaços, mas ainda inteira em todas as minhas versões.”
E o que faz Alice?
Militante de várias campanhas de prevenção, ela pega o tijolo que caiu na sua cabeça e começa a construir uma trincheira contra a tristeza.
Conta para a família, conversa com o pequeno Martin, de 5 anos, e parte para o tratamento.
Dá tudo certo!
Está curada.
E ponto e vírgula.
assim como a prevenção, o lidar com o câncer necessita de cuidado pós-tratamento.
Alice precisaria fazer quimioterapia.
Mais precisamente 16 sessões. Seriam necessários apoio, paciência e perseverança.
E o que faz Alice?
Adiciona coragem nesta equação.
No fim de fevereiro, no encerramento de um Globo Esporte, ela abre o jogo com o público do programa, e ao vivo conta do câncer e da necessidade do delicado tratamento.
Avisa que algumas vezes terá que se ausentar, mas não abandonará o vídeo.
E esta foi a parte fundamental do tratamento.
O velho normal.
Foram cinco meses de quimio.
Os cabelos castanhos foram caindo e a vaidade atingida.
E o que faz Alice?
Compra três perucas.
Duas castanhas e uma rosa!
Nas redes sociais, ela divide sua rotina com um astral absurdo.
O filho Martin ajuda.
É Alice careca sorrindo, é Alice de cabelo rosa gargalhando e encarnando Natalie Portman no filme “Closer”, é Alice de cabelo marrom não contando os dias para a quimioterapia acabar.
Ela preferiu viver os dias.
Aí você pensa…. deve ter sido complicado se expor nas redes sociais.
Os "haters", sempre eles, tóxicos e covardes, seriam um perigo.
Que nada!
A força interior, o brilho nos olhos, a energia positiva emanada da moça foi o tijolo final daquela trincheira que começou a ser construída no início deste texto.
Mas tem certeza, Alice?
Nem um "haterzinho"?
Um palavrãozinho amigo?
“Incrivelmente, não! Fiquei realmente impressionada, porque achei que poderia vir aquele "hater" de sempre dizendo que estava me expondo, ou usando da doença para aparecer, ou me vitimizando. Sei lá o que mais que esse povo pode pensar. Tudo passou pela minha cabeça antes, mas decidi que seria mais verdadeira comigo mesma poder falar sobre isso com as pessoas. E foi muito lindo! Não tenho um episódio, uma mensagem, nada de ruim pra relatar.”
Alice sabe que não há país das maravilhas.
Mas nos últimos cinco meses foi uma dessas Mulheres-Maravilhas do nosso país.
A quimioterapia acabou.
Ganhou, no ar, mensagens-surpresa de apoio do jogador D´Alessandro, do Internacional, e do treinador do Grêmio, Renato Gaúcho.
Só que o jogo não acabou.
Agora é hora da radioterapia.
E o que faz Alice?
Está pensando em comprar uma peruca verde.
Reportagem: Globoesporte.globo.com/blogs/garamblog
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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