Entenda como funciona a remuneração variável do Flamengo em parceria com banco.
Clube divide lucros de novo banco digital com o BRB (Banco Regional de Brasília), mas metas são consideradas difíceis. Especialista acredita que frutos só serão possíveis a longo prazo.
Rodolfo Landim, presidente do Flamengo. (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo) |
Celebrada como uma nova modalidade de negócios, a parceria entre Flamengo e o banco BRB tem um modelo agressivo de negócios para buscar uma remuneração variável ao clube.
O contrato, que está em votação no Conselho Deliberativo para poder ser assinado, prevê uma série de condições para que o Flamengo receba mais do que os R$ 32 milhões estabelecidos como mínimo garantido por ano.
A parceria prevê a criação de um banco digital, com Flamengo e BRB dividindo os lucros meio a meio.
A plataforma, a ser lançada no dia 15 de julho, irá oferecer contas digitais e cartões de débito e crédito, além de investimentos, produtos previdenciários e de capitalização.
Vem daí a expectativa de receita, o BRB estima movimentar R$ 5 bilhões em transações financeiras no primeiro ano de parceria.
Um detalhe: clientes do banco residentes em Brasília que migrarem para a nova plataforma não serão contabilizados nos lucros da operação.
Lucro precisa ser maior que R$ 64 milhões: Como tem R$ 32 milhões garantidos anualmente, o Flamengo só terá direito a um valor adicional caso os lucros superem R$ 64 milhões no período.
Por outro lado, caso o montante seja menor, a diferença entre os 50% do clube e os R$ 32 milhões garantidos passaria para o próximo ano, o que aumentaria o lucro necessário para a bonificação.
O contrato entre Flamengo e BRB é de três anos, com possibilidade de renovação por mais dois.
Para o consultor de finanças César Grafietti, o projeto tem mais chance de dar certo no longo prazo. Há uma série de questões a serem resolvidas antes que um banco digital consiga começar a colher os frutos do projeto.
Ele estima que, para alcançar os R$ 64 milhões de lucro, o novo banco digital precisará formar uma carteira de crédito, entre empréstimos e investimentos, da ordem de R$ 1,5 bilhão.
Atualmente, o próprio BRB tem uma carteira de crédito de cerca de R$ 12 bilhões.
"Fazendo uma conta com base nos últimos dados do BRB, a estrutura precisa formar uma carteira de crédito da ordem de R$ 1,5 bilhão para poder gerar os R$ 64 milhões de lucro, isso pagando todos os custos da operação do banco, que é a estrutura física, funcionários, provisões, imposto de renda. Ainda assim contratando serviços de seguros, usando cartões de crédito e tudo mais".
"Isso significa, por exemplo, 500 mil pessoas com financiamento médio de R$ 3 mil. Trata-se de um processo de longo prazo, e se as partes tiverem paciência e a depender das condições contratuais, talvez, em três ou quatro anos seja capaz de atingir esses números. Mas precisa conhecer o business plan e as particularidades da plataforma do BRB para entender se é factível ou não. Parece agressivo", explicou o especialista.
Entre os pareceres das comissões do Conselho Deliberativo, a ideia foi semelhante.
O Conselho Fiscal, por exemplo, considerou "bastante desafiante" a meta estabelecida e lembrou que o clube não conseguiu grandes resultados em parcerias anteriores, como o banco BS2 e a empresa de bebidas Carabao.
A Comissão de Marketing, por outro lado, preferiu "não fomentar expectativas" com relação aos valores variáveis. Todos, porém, elogiaram o valor mínimo garantido.
Para Grafietti, é necessário que o Flamengo se engaje completamente na captação de clientes para o banco digital para que o projeto funcione.
Uma postura ativa no mercado pode ser o diferencial.
"Neste modelo de divisão de lucros, tradicionalmente conhecido pelo inglês profit sharing, a estrutura precisa operar como um banco, ou seja, abrir contas, comprar produtos como cartões de crédito, seguros, tomar empréstimos. É isso que gera lucro num banco, ainda mais em bancos digitais que vendem a ideia de que não cobram serviço. Então, nesses modelos o banco espera que o clube traga o torcedor para a base como cliente, trocando seu banco de relacionamento por uma estrutura nova. Para atrair torcedores que viram clientes é preciso ações de abertura de conta, de venda eficiente de produtos, com taxas melhores que os concorrentes. Ou seja, operar no mercado financeiro", explicou Grafietti.
Modelo ainda não decolou no futebol brasileiro: Muitos clubes brasileiros experimentaram parcerias do tipo nos últimos anos.
Grafietti aponta como mais bem-sucedido o modelo entre o banco Inter e o São Paulo.
Mas nenhum deu grandes frutos até o momento.
"Os modelos são diferentes entre os clubes, e vão de patrocínios simples a situações onde clubes e bancos dividem lucros da operação digital. De todos eles o que parece ter dado mais resultado foi a parceria entre São Paulo e Banco Inter, porque era mais simples e as métricas de desempenho não incluíam divisão de lucros".
Com o BS2, por exemplo, o Flamengo tinha direito a R$ 10 por cada conta aberta no novo banco digital, até um limite de receita de R$ 10 milhões.
O contrato entre as partes foi rescindido em junho, e o banco BRB irá assumir o espaço master na camisa rubro-negra.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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