segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Saiu maior

Vinícius Júnior é um personagem muito maior do que a Bola de Ouro.

No evento ocorrido nesta segunda-feira (28), o atacante do Real Madrid ficou em segundo lugar, enquanto o meio-campista espanhol Rodri, do Manchester City, foi eleito o melhor do mundo.

É impossível fugir do óbvio para abrir este texto: a não premiação de Vinícius Júnior como melhor jogador do mundo na Bola de Ouro é mais uma forma de tentar punir o brasileiro por sua combativa postura nas questões raciais, dentro e fora do campo. 

No evento ocorrido nesta segunda-feira, o atacante do Real Madrid ficou em segundo lugar, enquanto o meio-campista espanhol Rodri, do Manchester City, foi eleito o melhor do mundo. 

O prêmio é concedido pela revista France Football.

Vinícius Júnior vem de uma temporada em que conquistou, na condição de máximo protagonista, a Champions League, o Campeonato Espanhol e a Supercopa da Espanha. 

Com a camisa do clube mais rico e vencedor do mundo, foram 39 jogos, com 24 gols e 9 assistências, a melhor temporada de uma carreira já espetacular. 

Mesmo com desempenho oscilante pela Seleção Brasileira, ninguém no mundo jogou mais futebol do que ele na última temporada. 

Ninguém brilhou mais. 

Ninguém foi mais decisivo.

E ninguém, também, é tão indigesto para o status quo do futebol europeu. 

Porque o atacante de 24 anos, nascido em São Gonçalo-RJ, está pagando justamente por ser um personagem que conquistou relevância além das quatro linhas. 

Muito além do próprio ambiente do futebol. 

É praticamente uma afronta que um rapaz negro, brasileiro e sul-americano aponte para arquibancadas espanholas e exponha, sem desvios ou meias palavras: "aqui existe racismo".

Obviamente, Rodri é um jogador de qualidade indiscutível, mas não há como desconsiderar a questão racial quando se avalia a forma como Vinícius Júnior é percebido no futebol espanhol e europeu, como mostra não apenas a Bola de Ouro de hoje, mas também premiações passadas. 

É como se o brasileiro precisasse fazer muito mais do que seus concorrentes para obter reconhecimento, uma conta que lhe cobram pela ativa postura antirracista, por não se comportar como se espera que ele se comporte. 

Como certa vez disse Muhammad Ali, lenda do boxe e ícone na luta racial, nada provoca mais incômodo do que um homem negro independente.

É claro que causa decepção não ver Vinícius Júnior oficializado como melhor do mundo, até porque o Brasil não recebe o prêmio desde 2007, quando Kaká venceu. 

Mas o que Vinícius Júnior representa hoje para o futebol e para a sociedade tem muito mais relevância do que a Bola de Ouro, um prêmio muito leve para quem vem carregando o mundo nas costas, que ele provavelmente vai conquistar nos próximos anos.

Quando soube que seu atacante não venceria a premiação, o Real Madrid cancelou a presença de sua delegação no evento. 

Mesmo sem concordar, é possível entender a irritação do clube espanhol, mas na verdade é uma pena: é sempre uma recompensa poder ver sob os holofotes a figura de Vinícius Júnior, não apenas o melhor jogador em atividade no planeta, mas um homem que tenta transformar o mundo ao seu redor.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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