Copa do Mundo de 2026 pode ter dez países da África e nove da Ásia por garantia de votos em futuras eleições da FIFA (Federação Internacional de Futebol).
Nas Copas do Mundo com 16 seleções, dez eram da Europa e crescimento de vagas de africanos e asiáticos começou na eleição de João Havelange, em 1974.
A FIFA montou uma arapuca em que ela mesma caiu.
Será muito difícil fazer uma Copa do Mundo na América do Norte, daqui a três anos e meio, com o mesmo nível técnico do Catar, por causa das viagens, do calor, do final da temporada europeia, mas principalmente pelo excesso de vagas para seleções de baixo nível técnico.
A armadilha inclui a dificuldade de dividir 48 seleções, para que cheguem aos mata-matas agrupadas duas a duas, como aconteceu nas sete Copas com 32 times.
A África terá direito a nove vagas e a Ásia, oito. Mas os dois continentes poderão contar com mais um representante, a ser definido num playoff entre um repescagem de cada Confederação continental, sul-americana, africana, asiática, da Oceania e duas da Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe).
A UEFA (União das Associações Europeias de Futebol), dona de 16 lugares, não participará da repescagem.
O crescimento da Copa do Mundo sempre foi político, mas desta vez a FIFA fez uma pegadinha contra si própria.
A proposta de 48 seleções divididas em 16 chaves de três seleções cada permitirá resultados arranjados na terceira rodada, como aconteceu no jogo da vergonha entre Áustria e Alemanha, em 1982, ou no empate proposto pela Iugoslávia contra o Brasil, em 1954.
Os dois exemplos indicam que grupos de quatro também permitem arranjos.
Com três seleções e duas classificadas, mais fácil.
Imagine o cenário em que Brasil, Marrocos e Croácia estejam na mesma chave.
Imagine o Brasil estreando com empate por 0 a 0 contra a Croácia e o resultado repetido na segunda rodada entre croatas e marroquinos.
Uma terceira igualdade, mas por 1 a 1 entre Brasil e Croácia classificaria as duas seleções e eliminaria o Marrocos.
Esta é a razão de Gianni Infantino dizer que a FIFA fará novos estudos, para depois divulgar a fórmula de disputa.
Se forem 12 grupos de quatro seleções cada, a classificação dos dois melhores fará com que restem 24 times, o que torna impossível o formato de oitavas de final, quartas de final, semifinal e final.
Seria necessário classificar oito terceiros colocados, fórmula fracassada das Copas do Mundo de 1986, 1990 e 1994.
O crescimento do número de seleções sempre foi político.
Começou com João Havelange, eleito em 1974, depois de trazer políticos da África, Ásia e Concacaf para a Minicopa da Independência, em 1972, e prometer aumento das vagas para estes continentes.
Foi esta a razão de o número de participantes saltar de 16 seleções para 24 países, em 1982. África e Concacaf passaram a ter duas, em vez de uma vaga, a Ásia passou a ter uma segunda possibilidade, na repescagem contra a Oceania, Nova Zelândia eliminou a China.
Quando subiu de 24 países para 32 seleções, em 1998, a conta ficou mais fácil.
De um lado, aumentavam as vagas para africanos (5 países) e asiáticos (4 países), pelo aspecto político, mas do ponto de vista técnico a tabela ficou mais perfeita, porque dos oito grupos de quatro equipes cada, caía-se para 16 classificados separados em oitavas, quartas, semifinal e final.
Daquela vez, ao aumentar o número de países, a Copa do Mundo desinchou.
Desta vez, será impossível manter a qualidade técnica.
Vai ser só política mesmo.
Mas destruir o interesse na Copa do Mundo não parece ser uma boa maneira de conseguir votos no futuro.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário