sábado, 31 de dezembro de 2022

A história do primeiro clube

Clube onde Pelé deu seus primeiros chutes virou supermercado.

Endividado, Bauru Atlético Clube vendeu seu terreno a uma rede de varejo. 

No local restam apenas dois murais com fotos da antiga sede social.

Parte da história do maior jogador de futebol de todos os tempos praticamente não existe mais na cidade onde ele passou toda a infância. 

O Bauru Atlético Clube, de onde Pelé despontou até fazer fama no Santos, foi reduzido a pó em 2006, dando lugar a um supermercado.

Quem passa pelo local, na região central de Bauru, pode nem perceber as menções ao clube que funcionava ali. 

Nas paredes da loja, há apenas dois murais com fotos antigas daquela que um dia foi a casa de um rei.

Fundado em 1º de maio de 1919, o BAC (Bauru Atlético Clube), como era conhecido, sempre foi uma das referências da sociedade bauruense. 

A área, com piscinas, campos e outros setores de lazer, vivia abarrotada na primeira metade do século passado. Fazer parte do clube era sinal de status.

Mas foi no futebol que o Bauru Atlético Clube ganhou fama. 

Em 1946, a equipe azul e branca se sagrou campeã do interior do estado, tendo no elenco um centroavante poderoso, de nome Dondinho. 

A aptidão do atacante para o jogo aéreo lhe valeu o apelido de “O Maleável”, pela forma como se curvava para alcançar a bola.

Dondinho trouxe de Minas Gerais nada menos que um rei. 

O menino Edson acompanhava o pai em todos os jogos e, claro, não demorou a arriscar os primeiros dribles. 

Pelo talento extraordinário, aos 13 anos foi chamado para fazer parte da equipe juvenil, que reúne garotos até 17 anos.

Em 1954, menino ainda, comandou um dos títulos mais marcantes da história do clube. 

O BAC venceu a Liga Bauruense da categoria com seis rodadas de antecipação.

No ano seguinte, o clube contratou o ex-jogador Waldemar de Brito para realizar um trabalho na tentativa de encontrar novos talentos. 

O treinador não demorou a ver o incrível dom do meio-campista e convenceu a família a deixá-lo ir para o Santos.

Edson virou Pelé, e o clube não resistiu. 

A equipe enfrentava a concorrência do rival Noroeste, criado e patrocinado pela empresa que controlava as ferrovias no estado. 

Os azuis suportaram a disputa da Segunda Divisão estadual até 1954, quando abandonaram o futebol profissional. 

De 1963 a 1968, tentaram um retorno na Terceira Divisão. 

Sem sucesso.

"Bauru, apesar de estar em crescimento, não tinha condições de possuir duas equipes. O BAC foi se enfraquecendo com os anos, e o futebol acabou. Foi uma pena", contou o historiador Luciano Dias Pires, editor do jornal Bauru Ilustrado, em entrevista ao Globo Esporte em 2010.

Longe dos gramados, o BAC investiu em outros esportes, como vôlei e basquete. 

O clube passou também a se concentrar na presença de associados para a área social. 

Com o passar dos anos, contudo, o setor foi perdendo espaço para os prédios e condomínios com áreas de lazer próprio.

Em 2006, o Conselho do clube não teve outra solução a não ser vendê-lo. 

Com dívidas e um quadro de sócios reduzido, toda a área foi negociada com uma rede de supermercados de Marília. 

O estádio Lusitana, onde Dondinho e Pelé jogaram, foi demolido, assim como qualquer outra lembrança.

"O BAC estava falido, com muitas dívidas. O jeito foi vender tudo. Confesso que derramei lágrimas e me emocionei quando o clube acabou", acrescentou o historiador.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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