Interesse em Jô, negociações e finanças do Corinthians: falamos com Duílio Monteiro Alves.
Diretor de futebol do Timão projeta "crise geral" no futebol e acredita que cifras milionárias devem cair após pandemia; ouça podcast e leia entrevista exclusiva.
Duílio Monteiro Alves, diretor de futebol do Corinthians, em entrevista ao GloboEsporte.com. (Foto: Zoom/Reprodução) |
Diretor de futebol do Corinthians, Duílio Monteiro Alves projeta um grande sofrimento dos clubes ao redor do mundo para encontrar a cura da "ressaca" deixada pela pandemia do Covid-19.
Por isso, embora admita monitorar diariamente os passos de Jô, não pensa em trazê-lo sem antes saber o tamanho do prejuízo financeiro do Timão.
"Pés no chão" virou expressão de ordem.
Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, o dirigente fala sem receios sobre o interesse em Jô, explica como tem sido o trabalho para enxugar os gastos no clube, analisa o cenário mundial do futebol durante a paralisação e responde a perguntas sobre reforços, rotina e futuro (veja um trecho acima e ouça também o podcast clicando no player abaixo).
"Temos monitorado o mercado, é nossa função, mas hoje é uma situação diferente vivida no mundo. Responsabilidade e pés no chão. Estamos em uma redução de folha de pagamento desde o ano passado para esse. É preciso ter cuidado nos números até porque é impossível prever quando vai ser a volta do futebol, economia no mundo. Todas as empresas passam por dificuldades, e Corinthians não é diferente", explicou Duílio.
"Existe, sim, acompanhamento diário da situação dele (Jô). Ele começou aqui, fez muito sucesso aqui, teve excelente passagem em 2017. Se existir a chance dentro de valores compatíveis, sem fazer loucura, ele pode vir. Fora isso, não. Não dá para falar agora".
Nessa linha, Duílio diz que o Corinthians não pretende fechar nenhum negócio antes de saber quando voltará a funcionar de fato.
Segundo ele, o departamento financeiro tem trabalhado para adequar as despesas às receitas e, por isso, é impossível fazer previsões.
"Nesse período, a gente vem trabalhando bastante, acertando o fluxo de caixa e monitorando o mercado. Então, a gente não sabe ainda. Estamos fazendo um trabalho grande para ver o que pode ser cortado, adequando receitas, mas a verdade é que não sabemos ainda qual o tamanho da queda de arrecadação. Se voltar em junho é diferente de voltar em julho. Fica difícil prever. Ainda não temos claras as despesas. Trabalhamos com cautela e não concretizamos nenhum negócio por conta disso. Precisamos de um cenário melhor do futuro para fazer novas dívidas".
"Coloco isso em relação ao Jô, porque, independentemente da entrada de dinheiro, não sabemos o quanto vai demorar tudo isso. A ideia é quitar as coisas mais urgentes, pendências com atletas, o financeiro tem trabalhado nesse sentido. Pela falta de previsão de retorno, é difícil. Temos que ter cuidado com o que vai ser feito. É preciso ter responsabilidade".
Mudanças no mercado: O tamanho da crise é tão grande, segundo Duílio, que certamente vai influenciar no mercado de negociações ao redor do mundo.
Por exemplo: ele acredita na possibilidade de uma queda nas cifras das negociações milionárias.
"Não tenho dúvida. Particularmente, eu olho o mercado na China, que agora tem um teto de 3 mil dólares de salário anual. É uma crise geral que todos os clubes passam no mundo. Imagino que o mercado não será de valores absurdos que temos visto ultimamente. Meu entendimento é que o mercado comprador vai ser mais forte no Brasil esse ano. Europa, China, Arábia, pela força do câmbio, também voltarão mais fortes em cima dos jovens brasileiros", explicou.
O que não significa, porém, que o Corinthians já tenha recebido ofertas para vender seus jogadores.
"Consulta, sim, sempre teve, mas pouco agora. O que acontece agora é que a FIFA divulgou as janelas internacionais e tem algumas alterações até pela mudança de data de término de campeonatos. Tem campeonato que a janela era em julho e passou para setembro. Todos estão se atualizando nesse novo formato, com novas datas, países voltando o futebol. Esse tempo parado, a movimentação vai ficar para daqui um mês ou um mês e meio".
Confira a entrevista exclusiva com Duílio Monteiro Alves:
GloboEsporte.com: o que mais a torcida quer saber, Duílio, quando volta o futebol?
Duílio: "Ultimamente, a gente tem trabalhado muito. Em relação a volta do futebol, não há previsão. Deixamos claro em carta do presidente a nossa posição: voltaremos com todas as autorizações dos órgãos de saúde e quando governo municipal, estadual e federal entenderem que é hora de voltar, pandemia mais controlada. Estamos trabalhando muito do lado de cá para estarmos prontos. Mas, sem pressa, preservando vidas".
Como têm sido essas conversas com a Federação Paulista e os clubes do estado?
"Muito boa a união dos clubes. Já existe conversa constante entre todos os clubes que disputam o Paulistão com a FPF (Federação Paulista de Futebol). Conversas quase que diárias entre os presidentes. Todos têm claro a mesma ideia do Corinthians: voltar com o futebol quando a gente tiver uma ideia mais clara dessa pandemia que o país vive".
Recentemente, Tiago Nunes apareceu em uma live na casa do Andrés (Sanchez, presidente). Vocês conversaram sobre a crítica dele ao Cifut?
"Em relação as declarações dele, isso já está superado. A gente colocou na época a insatisfação sobre o que ele falou. Conversamos com ele esse dia, na casa do Andrés, falando de planos futuros. Não temos previsão e não forçamos a barra para volta, mas temos que estar prontos para o retorno. Tiago está trabalhando à distância, relação com os atletas, preparadores, fisioterapeutas, Corinthians tem passado treinos diários aos atletas. Acompanhado diariamente casos específicos tipo Ramiro e Léo Santos. Avelar. Por ferramentas como essa que estamos usando".
Como Corinthians tem trabalhado para a redução de gastos e o que você já pode adiantar sobre futuros cortes?
"É uma situação que o Brasil vive, que o mundo vive. Todas as empresas. Acho que vocês devem ter colegas afetados por cortes de salários ou demissões. Realidade que país e mundo vão viver. Temos que nos adaptar. É o que temos feito. Como os contratos do basquete venciam no mês de maio, o Corinthians não renovou, porque não tem um calendário para o ano. Não teria justificativa. Estamos analisando em todas as categorias. Competições para cada esporte para ter um cenário mais claro. Não vamos mexer com atleta de base, não perder jogadores. Ventilou-se atletas que seriam mandados embora ou demissões que já teriam sido feitas. Isso não é verdade. Temos que adequar o clube às receitas que vamos ter no futuro".
Como o futebol masculino pode ajudar o Corinthians na redução de gastos, já que os contratos dos jogadores, como você disse, não permitem cortes salariais tão altos?
"Fica muito difícil. O atleta profissional tem um regime diferente de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Rescisão é só pagando o salário inteiro, e essa chance não existe. Custo alto. Não temos muito o que fazer. Como eu coloquei, é avaliar muito bem o que vamos fazer de negócio daqui para frente para não sofrer no futuro. Alguns jogadores que não forem utilizados podem ser emprestados, que temos feito. Tivemos alguns jogadores que não foram bem, foram emprestados e acabaram jogando e voltando bem. Gustagol, Rodriguinho, Pedro Henrique, Camacho... E outros. Douglas foi comprado no ano passado, jogou pouco no Corinthians com a volta do Fábio Carille foi vendido a um valor bom. Temos que achar alternativas assim. Os que não forem emprestados, não vão poder rescindir. Trabalhar em cima de empréstimo para jogar e voltar mais pronto ou ficar na vitrine para ser negociado.
O Corinthians tem adotado um modelo de aquisição de jogador no fim de contrato, mas, mesmo assim, tem gastos com luvas e outros prêmios. Nenhuma negociação é só salarial e "grátis"?
"Quando você fala de nomes como Tévez, Jô, quando está livre, o passe passou a ser dele, vamos dizer assim, e isso tem um valor. Fica com 100% dos direitos dele e vai para algum clube, compõe luvas, ou pede que a multa não seja alta para uma possível saída. Cada negócio é de um jeito. Mas não necessariamente estando livre não significa que vem de graça. Na maioria das vezes, não".
Como fica o futebol feminino com esse trabalho do clube para redução de gastos?
"Eu não quero entrar na área da Cris (Gambaré, diretora de futebol feminino), ela vem participando de todas as reuniões. Estamos conversando, reduzindo tudo o que é possível. Funcionários que ganham abaixo de 3 mil reais o Corinthians vem completando. Matias (Ávila, diretor financeiro) está calculando para que quem tenha um ganho menor não seja tão prejudicado. Estamos estudando com bastante calma, mas com a certeza de que estamos trabalhando para sairmos fortes. Não temos todas as respostas, mas estamos atentos e trabalhando com diretores para reduzir o que for possível e que façam com que nossos funcionários sofram o menos possível".
O empresário do Yony González disse que ele poderia voltar ao Benfica no fim de junho, mas Corinthians diz que a compra é obrigatória.
Ele se equivocou?
"Não sei de onde tirou isso. Empresário do Yony se equivocou. Foi empréstimo com obrigação de compra. Essa chance não existe. Tem no contrato já acertada a compra. Foi uma obrigação".
Vagner Love e Boselli têm contrato até o fim da temporada.
Uma decisão a respeito de renovação ou não só vai ser tomada depois da quarentena?
Como ficam essas situações?
"Tanto a situação do Love, Boselli... Isso fica para uma avaliação mais para frente. Esse ano é um ano diferente. Vamos ter eleição em novembro. Como estamos aqui hoje, temos a obrigação de fazer o melhor para o clube. Uma condição boa. E que esse tipo de solução vamos pensar mais para frente. Depende de comissão técnica, momento, vontade dos atletas, ainda não é hora de falar disso. É algo que vai passar muito pelos valores, vontade do clube e treinador. Mais para frente vamos conversar".
Nessa linha de negociações, o que falta para Corinthians concluir a venda do André Luis ao Daejeon Hana Citizen, clube da segunda divisão da Coreia do Sul?
"O André Luis é um bom exemplo. Veio enquanto o Fábio (Carille, ex-treinador do Corinthians) ainda não estava. Não usou, então emprestamos. Vem fazendo um bom campeonato na Coreia. Tem opção de compra no contrato. Sinalizaram que tem interesse em comprar antes. Vamos ver se caminha e a gente recebe a proposta oficial para dar sequência. Por enquanto, só uma consulta".
Falando agora das eleições presidenciais do Corinthians, você pretende se lançar como candidato?
Quando isso vai acontecer?
"Eu sempre deixei claro que é uma decisão do grupo. Não é momento de falar de eleição. Ainda mais agora. Estamos trabalhando para que o Corinthians sofra o menos possível. Oposição vem trabalhando, fazendo o papel dela, que é criticar. Não acho que é o momento. Acho que é hora de o Corinthians estar unido. Mas é direito deles. Não acho que é momento de antecipar o processo eleitoral. Aguardo o momento certo para ver se teremos candidato ou não".
Qual o momento certo para falar sobre isso, então?
"Acho que historicamente no Corinthians começa quatro ou cinco meses antes. Depois das chapinhas, não se elege mais 200 conselheiros e sim oito chapas de 25 conselheiros, primeiro mandato assim. No dia seguinte à eleição do Andrés já tinha campanha eleitoral no clube. Acho que o clube está politizado demais fora do momento. Certeza que não é agora no meio da confusão. Não é hora certa, é hora de se unir e trabalhar. Quando as coisas melhorarem, começar a falar disso".
A visita dos presidentes de Flamengo e Vasco ao presidente da república Jair Bolsonaro, em Brasília, e a volta do time rubro-negro aos treinos de alguma maneira pressiona o Corinthians e outros clubes a também retomarem as atividades?
"Na carta que o presidente divulgou ficou muito clara a nossa opinião, opinião do clube. Vamos voltar a treinar quando autoridades de saúde decidirem que é o momento. Quanto ao Flamengo, não cabe opinar. A postura do Corinthians é clara".
O Corinthians vai receber um "socorro" ao antecipar o valor da venda do Pedrinho ao Benfica.
Quais valores estão em aberto e são prioridade?
Tem prazo para o dinheiro entrar nos cofres?
"Tem coisas em aberto com atletas, não sei precisar. Estamos conversando, aguardando a entrada desse dinheiro do Pedrinho para colocar em ordem. Se tudo correr bem, vamos zerar tudo e ficar em ordem com eles. Não é empréstimo, é antecipação. Pelo valor cambial, valorização do euro, acabou que o Corinthians tem um valor bom e a gente entende que é importante agora. Além da necessidade. O câmbio favorece. Não existe prazo exato. Estamos para finalizar".
Nesse contexto de cortes e readequação, como fica a categoria sub-23?
"A gente ainda aguarda a comunicação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para saber se terão campeonatos. Não sabemos quando e como vai ser a volta, se vamos jogar a cada dois dias. Categoria que pode nos ajudar se tiver maratona de jogos, estamos aguardando definição se haverá campeonato. Se não, emprestar atletas para que não fiquem parados até o fim do ano".
Para encerrar, qual o recado que você deixa para a Fiel torcida, que está morrendo de saudades do Corinthians?
"Deixar para o torcedor que toda a diretoria estamos trabalhando 24 horas por dia e confiantes de que, lógico que machucados como todos, vamos sair fortes dessa situação. Trabalhando muito, unidos. Se Deus quiser, nos próximos meses a torcida vai estar dentro do estádio nos jogos e Corinthians jogando lá em cima".
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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