terça-feira, 29 de novembro de 2022

Além da diplomacia

Torcidas de Irã e Estados Unidos mostram que futebol supera crises diplomáticas.

Clima pacífico entre torcedores iranianos e norte-americanos domina partida entre duas nações que não mantêm relações há mais de 40 anos.

Na diplomacia do futebol, não há fronteiras. 

Se há, são mais fáceis de romper. 

Dois lados opostos se unem por uma "selfie", um abraço, ou apenas viver a festa que é uma Copa do Mundo. 

E isso faz com que torcedores de duas nações que não têm relações diplomáticas há 40 anos se unam nas arquibancadas. 

Foi o que se viu em Irã 0 X 1 Estados Unidos.

Nada do clima de hostilidade prévio ao jogo desta terça-feira esteve presente entre os XX que estiveram presentes no estádio Al Thumama. 

Iranianos e norte-americanos compartilharam fotos, trocaram abraços e sorrisos e não levaram nada da tensa relação entre os dois países à partida da terceira rodada do Grupo B.

Na véspera da partida e o técnico Gregg Berhalter foram pressionados pela imprensa iraniana. 

A seleção asiática também ameaçou pedir a exclusão dos Estados Unidos após o perfil da equipe norte-americana nas redes sociais usar uma bandeira antiga do Irã, sem o brasão de armas, incorporado após a Revolução Islâmica de 1979. 

No Al Thumama, só o futebol importou.

O ambiente pacífico ficou representado no casal norte-americano Lee e Amanda Ibrahim, que ficou bons 30 minutos, parados, atendendo a cada iraniano que pedisse uma foto. 

Ambos estavam bem ornamentados com as cores da bandeira dos Estados Unidos nas roupas e no rosto. 

Ninguém lembrava que os governos de seus dois países não se bicam.

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"Está tudo muito amigável. Acho que a Copa do Mundo vem antes de qualquer política que esteja acontecendo, e acho que tudo mundo que está aqui está querendo curtir uma boa partida como torcedores desse grande esporte", disse Lee.

“Nós só estamos aqui para apoiar nosso time. Ninguém está pensando em política. Deixamos isso com os governos”, reiterou o torcedor norte-americano.

Só o futebol pode colocar as bandeiras de Estados Unidos, um aliado histórico de Israel, e da Palestina lado a lado. 

Foi o que fizeram os palestinos Aref, Wisaf e Belal, todos de Ramallah, mas que moram em Chicago. 

E estavam no Al Thumama para apoiar o país que os acolheu, vestidos com a camisa da seleção norte-americana.

O iraniano Javad Alizadeh era o fotógrafo de seu grupo. 

Os dois amigos tiraram várias fotos com norte-americanos. 

Um ambiente sem qualquer crise diplomática.

"É muito incrível todos esses dias aqui. Tudo foi bonito, todos os países juntos. Eu vi um clima muito bom, muito calmo. A política ficou lá fora".

Homenagens a Mahsa e torcedor detido: Entre os iranianos, como em todas as partidas anteriores, vários exibiram mensagens de apoio às mulheres do país e em memória da jovem Mahsa Amini. 

Na rodada anterior, contra o País de Gales, uma torcedora foi abordada por seguranças após mostrar uma camisa do Irã com o nome de Mahsa, morta pela polícia moral do país, o que levou aos protestos dos últimos meses.

Homens e mulheres exibiram o nome de Mahsa em camisas e em cartazes. 

Segundo a agência AFP (Agence France-Presse), a FIFA flexibilizou a orientação de coibir protestos políticos na Copa do Mundo no caso da jovem iraniana. 

Os jogadores do Irã, mais uma vez, murmuraram o hino do país, que é fortemente conectado ao regime. 

Parte da torcida asiática vaiou o momento.

Um torcedor norte-americano, no entanto, foi detido por portar uma braçadeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIAP+. 

Imagens mostram seguranças o agarrando pelos braços por portar a peça.

Em campo, os jogadores das duas seleções apenas cumpriram o protocolo inicial da partida. 

Apertos de mão, troca de flâmulas, e cada um para o seu lado. 

Não houve foto oficial juntos ou flores dos iranianos aos norte-americanos, como no famoso Jogo da Paz, da Copa do Mundo de 1998. 

A missão de selar a união ficou nas arquibancadas.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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