Josh Wander, da 777, projeta futebol do Vasco "jovem e agressivo" e confia no acesso.
Transferência dos 70% das ações da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) será concluída nesta sexta-feira (2).
Em entrevista ao Globo Esporte, dirigente vive expectativa de assumir o controle do clube.
A comitiva da 777 Partners está no Rio de Janeiro para pegar as chaves do futebol do Vasco.
Os executivos chegaram na quarta-feira (31) em visita que tem como objetivo a conclusão da transferência dos 70% das ações da SAF para o grupo.
É o ato final de um processo que durou pouco mais de seis meses e terminará provavelmente nesta sexta-feira (2).
Entre os membros da comitiva, está Josh Wander, um dos sócios-fundadores da 777.
Ele concedeu entrevista exclusiva ao Globo Esporte em hotel na Zona Sul do Rio, na tarde de quarta-feira (31).
Ele se mostrou animado para assumir o Vasco e confiante no acesso.
Josh também esteve em São Januário, onde à noite a equipe venceu o Guarani pela vigésima sétima rodada da competição.
Foi seu primeiro jogo local.
Simpático, usando um boné que já lhe é habitual, o empresário de 41 anos falou por quase 25 minutos sobre os planos para o Vasco que, no mais tardar na próxima segunda-feira, receberá o primeiro investimento de R$ 120 milhões da 777, o acordo entre as partes prevê outros R$ 510 milhões nos próximos dois anos, além da quitação das dívidas do clube em até R$ 700 milhões.
"Nós pensávamos que o processo seria concluído um pouco mais cedo", admitiu Josh Wander, que assinou o memorando de entendimento com o presidente Jorge Salgado ainda em fevereiro, em Miami.
"Mas estamos muito contentes com o fato de que tenhamos concluído. Estamos muito animados com o futuro, com o encerramento da transição nos próximos dias. Finalmente vamos mover o Vasco em direção ao progresso que imaginamos que ele seja capaz", acrescentou.
A presença dos executivos da 777 para conclusão do negócio coincide com um momento agitado do Vasco na Série B, embora a vitória sobre o Guarani tenha aliviado um pouco a pressão.
Existem cobranças para que o clube contrate um treinador, já que a equipe segue sob o comando de Emílio Faro, auxiliar permanente.
Hoje, porém, o cenário mais provável é que ele siga até o fim da Série B.
Josh acredita que a questão será discutida enquanto a comitiva estiver no Rio e aproveita para reforçar a confiança depositada em dois funcionários contratados até o momento pela 777: Luiz Mello e Paulo Bracks, respectivamente CEO e diretor esportivo da SAF.
A decisão de contratar ou não um treinador cabe a eles.
"Acho que o melhor que fazemos na 777 é contratar diretores muito competentes para tomar decisões. Tomamos a decisão de contratar o Luiz (Mello, CEO) e o Paulo (Bracks, diretor esportivo) para tocar o negócio e o lado esportivo do Vasco. Então, se o Paulo sentir que a troca de treinador é necessária, ele vai tomar essa decisão, e a 777 vai apoiá-lo. Até o momento, não tomamos nenhuma decisão, e o Paulo não nos indicou que deva haver nenhuma mudança", explicou Josh.
"É claro que vamos discutir os projetos no futebol enquanto estivermos no Rio, nós discutimos isso semanalmente como um grupo de futebol, e também internamente no Vasco. Nós colaboramos, juntamos todos nossos líderes globais para discutir como podemos melhorar cada uma das questões desse lado esportivo. Acho que esse é um dos valores realmente únicos do nosso projeto, no qual compartilhamos recursos do mundo todo no que diz respeito a performance esportiva, dados, treinos, desenvolvimento da base. Existem várias maneiras com as quais podemos ajudar esse negócio além de fazer mudanças pontuais imediatamente", acrescentou.
"De novo, a nível local, nós damos poder aos gerentes dos clubes em quem colocamos fé para tomar essas decisões. Se o Paulo sentir que a troca do técnico é necessária, nós apoiaremos", concluiu.
"Vamos conseguir o acesso"
Com a vitória sobre o Guarani, o Vasco ultrapassou o Grêmio na classificação, subiu para terceiro e manteve quatro pontos de distância para o quinto colocado da Série B, no momento o Londrina.
Uma situação ligeiramente confortável a 11 rodadas do fim, mas longe de garantir o acesso.
E se o Vasco não subir?
Antes de mais nada, Josh Wander acredita que, sim, o time vai conseguir o acesso. Mas, ainda que fique na Série B, não enxerga como o fim do mundo.
"Primeiro, acho que vamos conseguir o acesso. Mas o nosso projeto não é um projeto de seis meses, um ano ou cinco anos. É um projeto de 30, 50 anos. Não conseguir o acesso não significará o fim do Vasco, só significa que teremos que esperar outro ano para conseguir", ponderou o sócio-fundador da 777.
"Estamos assumindo nesta sexta-feira, a partir daí a 777 terá as ferramentas para tomar as decisões, vamos acessar todos os aspectos desse clube, no lado esportivo, nos negócios... Dessa maneira, vamos definir o que deve ser feito para que o Vasco atinja seus objetivos. E um deles é o acesso. Se vai ser este ano ou no próximo, não consigo te dizer. Mas eu acho que subiremos este ano e, claro, eu torço para que isso aconteça", prosseguiu ele, que dá o exemplo do que aconteceu com o Genoa, da Itália, um dos clubes que pertencem à 777.
"Mas, se isso não acontecer, não acredito que seja o fim do mundo. Na Itália, nós assumimos o Genoa, o clube foi rebaixado, e nós conseguimos enxergar isso quase como algo positivo porque temos a capacidade de fazer as mudanças necessárias, levando em consideração a cultura que já existia no Genoa. Hoje é um time muito mais saudável do que era um ano atrás. Nossa expectativa é de que, se o Vasco não conseguir o acesso, vai nos dar a possibilidade de reformar o clube e fazer tudo que sabemos que pode garantir a estabilidade e a performance do clube a longo prazo", arrematou.
"Futebol jovem e agressivo"
Por que o Vasco, com exceção de Alex Teixeira, já não fechou contratações de renome na última janela de transferências?
Josh Wander explicou que a empresa nada podia fazer antes que a transição fosse concluída.
"Não acho que tivemos essa escolha, não temos a possibilidade de aplicar investimentos adicionais até fecharmos o negócio. A 777 quer fazer o que é melhor pelo Vasco, quer fazer o que é melhor para o acesso e para o futuro a longo prazo do clube. Se pudéssemos aplicar mais dinheiro, nós teríamos aplicado. Ficou complicado por causa da transição, do negócio... então não aconteceu. Mas nós achamos que podemos conseguir o acesso com o time que temos agora", disse.
"Antes de mais nada, eu sou um grande fã de esportes. Então eu entendo o que os torcedores precisam. Quando estou assistindo aos meus times e vejo uma mudança de gestão, de direção ou de jogadores, eu fico igualmente animado e quero conquistar o campeonato no dia seguinte. Ao mesmo tempo, sou um empresário, um proprietário. Então tenho que fazer o que é prudente para construir algo na direção certa. Infelizmente não pudemos colocar dinheiro nessa estrutura que já existe, nós não possuímos o clube até sexta-feira (2)", completou.
O clube, portanto, só conseguirá aproveitar a melhora na condição financeira para contratar a partir da próxima janela, no fim do ano.
O plano, segundo Josh, não é trazer grandes estrelas, mas apostar em jovens talentos que possam vir a se tornar astros num futuro breve.
"Nós temos discussões sobre qual estratégia tomar, a 777 tem uma ideia do tipo de futebol que queremos jogar. Nossa marca será a de um futebol jovem e agressivo, vamos apostar nos talentos incríveis que existem no Brasil. É algo que fazemos ao redor do mundo. Naturalmente os jogadores que procurarmos selecionar deverão se encaixar nesse estilo de jogo. O Paulo concorda com isso. Não acho que seremos o tipo de clube que sai gastando um monte de dinheiro em uma grande estrela. Eu acho que seremos o tipo de clube que gasta muito dinheiro investindo em talentos que poderemos cultivar e desenvolver para que se tornem grandes estrelas", afirmou o executivo, antes de completar:
"Acho que o mais importante para que os torcedores do Vasco saibam é que vamos tomar cada decisão pensando nos interesses do clube. Pensando em como estará o Vasco depois do acesso no ano que vem, é claro que vamos trazer os jogadores necessários para competir na Primeira Divisão e, tomara, em algum momento conquistar o título. Nosso foco é construir um ambiente esportivo sustentável através do desenvolvimento dos riquíssimos talentos que existem no Brasil. Nós acreditamos que podemos fazer isso e conquistar títulos ao mesmo tempo, imaginamos que isso seja interessante para o clube e para seus torcedores pelos próximos 100 anos", finalizou.
Qual jogador o Josh, como um torcedor, gostaria de ter em seu time?
Ele desconversou.
"(Risos) Não tenho certeza se consigo responder a essa pergunta", disse, antes de responder: "Pelé (risos)".
Nomeação de Luiz Mello: A nomeação de Luiz Mello como CEO da SAF, no mês passado, gerou o primeiro atrito entre o Vasco e a 777 Partners.
Mello era o CEO do clube e não tem boa relação com vários diretores vascaínos, incluindo alguns vice-presidentes e o próprio presidente Jorge Salgado.
No dia seguinte ao anúncio, ele foi desligado de suas funções no clube.
A crise foi contornada depois de uma reunião de Salgado com seus VPs (Vice-Presidentes).
Ficou decidido que eles iriam deixar as desavenças de lado para concluir a transição.
Alguns ainda confiam, no entanto, que a 777 vai rever a nomeação de Mello em nome da boa relação com o clube. Mas Josh Wander não prevê essa possibilidade.
"Eu sei que foi dito que poderia haver um conflito com relação à escolha do Luiz para essa função. Na verdade, na visão da 777, nós pensamos que seria a decisão perfeita. Agora seremos parceiros da associação, seremos uma família. Quem melhor para dar sequência ao progresso que a pessoa que estava trabalhando para isso previamente?", disse ele.
"O Mello era a pessoa da associação que lidava com essas questões comerciais e de negócio. Quando falamos em continuidade no negócio, nós queremos uma pessoa em quem confiamos e que conhece o negócio para seguir com a transição. No processo de lidar com o Mello e todas as pessoas da negociação, (Carlos Roberto) Osório, (Jorge) Salgado, nós ficamos muito impressionados, nos deu muita confiança. Então nós confiamos nas suas habilidades para executar o que queremos executar. Não achamos que deva haver resistência, achamos que a associação devesse estar entusiasmada por contratarmos um deles para nos ajudar a levar o clube para o futuro", completou o executivo.
"De jeito nenhum (houve conflito). É algo bem comum em negócios de transações, compra e venda de empresas, o fato de manter os gerentes para dar sequência ao processo. Às vezes é por um período de transição, para que tenhamos certeza de que vamos ter acesso a tudo. E às vezes é a longo prazo, porque você acredita que aquela pessoa ecoa os valores e o sentimento que você pratica e que ela pode executar as coisas da maneira que desejamos institucionalmente. Não acho que deva haver conflito, realmente não entendi o que houve. Estamos muito animados com o fato de o Luiz fazer parte do nosso projeto e acho que todo mundo deveria estar, porque ele faz um trabalho fenomenal".
Organograma da SAF: Até o momento, além de Paulo Bracks e Luiz Mello, a 777 Partners acertou a contratação de Lúcio Barbosa para ser o diretor financeiro da SAF do Vasco.
A 777 tem cinco cadeiras de sete no Conselho de Administração e duas cadeiras de três no Conselho Fiscal.
Ainda não divulgamos esses nomes, mas vamos divulgá-los em breve.
Acho que não será surpresa para ninguém, limitou-se a dizer Josh, que também não falou muito sobre o que esperar da composição da diretoria de futebol do Vasco:
"Nós temos muita confiança no Paulo Bracks, e ele só está aqui há um mês, no mês em que ainda não estamos aqui, tecnicamente. Quando assumirmos, o que acontecerá na sexta, vamos definir o que é necessário para o futebol. Acho que, imediatamente, o lado do futebol no negócio se tornará bem mais robusto, porque o Vasco terá acesso a tudo que a 777 já implantou. Nossos dados, nossa equipe de análise, nossa habilidade de interagir com profissionais de todos os nossos clubes ao redor do mundo, a habilidade de conectar diretores, treinadores e até jogadores. Todos têm uma maneira diferente de fazer as coisas. Agora teremos a habilidade de convergir todos esses recursos para ajudar o Vasco".
A nível global, a 777 Football Group, que é o braço da holding que cuida dos clubes de futebol, tem Don Dransfield como CEO e o alemão Johannes Spors como diretor esportivo.
Josh confia na relação de todos esses diretores para que o ecossistema da empresa seja tocado naturalmente.
"Como é hoje, o Don é o CEO global do grupo do futebol, nós o contratamos, ele tem um talento incrível. Já fez mudanças que acreditamos que nos ajudarão nos próximos 10, 20 anos. Johannes Spors é o diretor esportivo global do negócio. O Paulo se reporta para o Johannes. Mas tudo que fazemos no nosso negócio conta com uma série de opiniões antes que a decisão seja tomada. Então é possível que o Paulo fale com o Johannes, em seguida um comitê esportivo tome uma decisão baseada nas recomendações do Paulo, e todos nós vamos nos reunir semanalmente para discutir o futebol de todos os nossos clubes e compartilhar nossas ideias", explicou o sócio-fundador da 777.
Planos da 777 para o futuro: O Vasco agora se junta ao Genoa (Itália), o Standard Liège (Bélgica) e ao Red Star (França) no cartel de clubes que pertencem à 777, que também tem uma participação minoritária no Sevilla, da Espanha.
Josh Wander contou que tem planos para obter mais ações do Sevilla e adquirir outros clubes ao redor do mundo.
"Sempre foi um plano adquirir mais ações do Sevilla, estamos no processo para isso. E, é claro, temos planos de adquirir outros clubes ao redor do mundo", disse.
"A intenção é de que nosso projeto seja global. Os pedaços desse projeto que pretendemos adquirir serão pedaços que acreditamos que podem trazer benefícios para nosso ecossistema. Pode ser que encontremos um clube numa parte diferente do mundo que seja capaz de providenciar recursos numa perspectiva de talento dentro do campo ou porque achamos que a base de torcedores daquele clube é interessante comercialmente. Talvez encontremos uma comissão técnica que seja atraente e vamos querer que ela faça parte do projeto e traga seus valores e visões para o ecossistema. Podemos encontrar clubes ao redor do mundo que tenham valores interessantes para o negócio como um todo, e aí tentaremos adquiri-los", completou.
Já havia sido dito anteriormente, em outras apresentações, que o Vasco será a "flagship" (carro-chefe) da 777 na América do Sul.
O que não garante, no entanto, que o clube será o único da holding no continente, explica Josh.
"Eu não diria que não temos planos de adquirir outro clube no continente, mas eu posso dizer que enxergamos o Vasco como nossa flagship na América do Sul. Acreditamos que o Vasco tenha uma importância transcendente, não apenas pela importância no futebol, mas também pela importância cultural. Isso é muito importante para nós como um grupo", garantiu.
Maracanã, São Januário, SAF...
Josh Wander concluiu a entrevista explicando os planos da 777 para o Maracanã, São Januário e também o que ele acha sobre o movimento cada vez mais frequente de clubes tornando-se Sociedades Anônimas do Futebol no Brasil.
"Ainda estamos avaliando o que vamos fazer com São Januário e Maracanã. Os dois estádios têm histórias e benefícios incríveis. Nós ainda vamos decidir o que fazer com São Januário, quais são os planos que fazem mais sentido. Ao mesmo tempo, sabemos que faz sentido jogar no Maracanã, que suporta muito mais vascaínos, e acho que isso é muito importante. Nós sabemos quantos vascaínos existem no Brasil e ao redor do mundo, queremos permitir a esses torcedores ver os jogos presencialmente. Tenho certeza de que vamos encontrar uma solução para os dois", disse.
"Eu acho (que a SAF é um bom caminho). Acho que representa um progresso grande. Também significa que existirão mais clubes preocupados em subir o sarrafo no Brasil. Quanto mais comercial o ambiente se tornar, melhor para o futebol brasileiro. Atrai mais dinheiro de patrocinadores, aumenta a habilidade desses clubes de se comercializarem. Quando essas coisas forem acontecendo, as pessoas vão começar a tomar decisões que contribuem para a valorização desses clubes a longo prazo, não apenas a curto. Essas decisões a longo prazo são criticamente importantes para que os negócios cresçam. Temos que pensar no que queremos para daqui a 25, 30, 50 anos, não necessariamente para um ou dois anos. Com a transição desses clubes, as pessoas vão tomar decisões focadas na estabilidade a longo prazo. O futebol brasileiro será muito mais feliz", concluiu.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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