Abertura das Paralimpíadas celebra inclusão e incentiva pessoas com deficiência.
Festa sem público tem homenagem ao Afeganistão e reforça importância da acessibilidade.
Pela segunda vez na história, Tóquio teve a honra de declarar abertos os Jogos Paralímpicos.
Primeira cidade a ter tal privilégio por ter sediado também o evento em 1964, a capital japonesa celebrou nesta terça-feira (24) o início das Paralimpíadas de 2020.
O evento vai até 5 de setembro.
Apesar de modesta em comparação a edições anteriores e sem público em virtude da pandemia de Covid-19, a festa emocionou ao homenagear o Afeganistão, ao promover reflexões sobre inclusão e igualdade e incentivar as conquistas de uma parcela tão expressiva da população mundial, mas ainda discriminada.
Todos nós temos asas: O enredo da parte artística teve como fio condutor a história de um avião de apenas uma asa.
Na metáfora lúdica, a pequena aeronave tinha desistido de tentar voar.
Ela se anima ao ver outros seis aviões com diferentes características/deficiências e ao deixar o "para aeroporto" e ver outros exemplos encorajadores.
É incentivada a sonhar, realizar e alçar voo independentemente de suas aparentes limitações.
O cenário montado para a abertura das Paralimpíadas pôs em prática a acessibilidade em pequenos detalhes.
A pira foi exposta em uma plataforma mais baixa do que na cerimônia das Olimpíadas, para que ficasse à altura dos olhos dos atletas, em grande parte cadeirantes.
O deslocamento sobre rodas, inclusive, se mostrou possível pela presença de rampas.
A entrada dos Agitos, símbolos das Paralimpíadas, foi emocionante.
Formados por balões vermelho, azul e verde gigantes, refletiram exatamente a ideia de sua essência, o conceito de "eu me movimento".
Os 22 esportes do programa dos Jogos, incluindo os estreantes parabadminton e parataekwondo, foram representados em vídeo.
Agitos paralímpicos entram no ginásio flutuando: Também foi celebrada a campanha "#Wethe15", "Nós os 15", na tradução para o português.
Ela lembra que 15% da população mundial, cerca de 1,2 bilhão de pessoas, têm algum tipo de deficiência e aspira ser o maior movimento de direitos humanos da história.
Afeganistão homenageado: A parada das nações, em que os membros das delegações desfilam no estádio, foi modesta, e muitas cadeiras ficaram vazias.
Por causa da situação política do Afeganistão, tomado pelo Talibã, o país não vai mais disputar as Paralimpíadas de Tóquio.
A bandeira do país, porém, esteve na abertura como homenagem aos atletas que não conseguiram deixar o país e em solidariedade a toda a população afegã.
A Nova Zelândia foi o único dos 162 países presentes nestas Paralimpíadas, com 32 atletas, a não participar da abertura por precaução contra a Covid-19.
Voluntários foram responsáveis por conduzir o pavilhão no Estádio Olímpico e Paralímpico de Tóquio.
Se no desfile como um todo foi respeitada a ordem do alfabeto japonês, as três últimas delegações foram Estados Unidos, França e Japão.
Os americanos receberão os Jogos em Los Angeles em 2028, os franceses sediarão o evento em Paris em 2024, e os japoneses encerraram a parada como os atuais anfitriões.
Mami Tani, do triatlo, e Koyo Iwabuchi, do tênis de mesa, foram os porta-bandeiras do Japão.
É a maior delegação dos Jogos com 254 atletas com deficiência.
Vale ressaltar o uso de máscaras por todas as delegações, sem exceção, diferentemente do que se viu nas Olimpíadas.
Noite de Petrúcio e Evelyn: Outros países, como o Brasil, optaram por levar grupos reduzidos à festa.
O Comitê Paralímpico Brasileiro selecionou Petrúcio Ferreira (atletismo) e Evelyn Oliveira (bocha) como porta-bandeiras, e Alberto Martins (diretor técnico do CPB) e Ana Carolina Alves (técnica da classe BC4 da bocha e staff de Evelyn) completaram o número mínimo exigido.
A alegria da dupla de atletas era evidente, e Petrúcio puxou uma dancinha animada para extravasar a emoção e foi tietado por um estrangeiro.
Vale lembrar que o paraíbano é o atleta paralímpico mais rápido do mundo e ostenta o título de campeão paralímpico dos 100m na classe T47 na Rio 2016, além de bicampeão mundial nas edições de 2017 e 2019 e recordista mundial na distância.
Evelyn também foi medalha de ouro na Rio 2016 nas duplas mistas da bocha na categoria BC3 ao lado de Antônio Leme, o Tó, Evani da Silva foi reserva.
Ao todo o Brasil terá 253 atletas competindo Tóquio, número menor apenas do que o dos anfitriões.
As diferenças que fortalecem: A abertura dos Jogos foi declarada oficialmente pelo imperador Naruhito, logo após discursos da presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Seiko Hashimoto, e do presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons.
"Nós agora vamos além das memórias dos Jogos Olímpicos para receber os Jogos Paralímpicos. (...) Todo mundo passou por enormes desafios na pandemia de Covid-19. Gostaria de expressar minha gratidão a todos, inclusive àqueles dos serviços médicos. Gostaria de agradecer a todos que trabalharam tão duro para que estes Jogos pudessem acontecer. Vamos continuar tomando todas as medidas de prevenção da Covid 19", disse Hashimoto.
Andrew Parsons também reforçou os desafios impostos pela pandemia e reforçou a necessidade de união entre os povos e para usar as diferenças como fator de inclusão, não de discriminação.
"Não posso acreditar que finalmente estamos aqui. Mas graças aos esforços de muitos o evento mais transformativo do planeta está prestes a começar. Os Jogos certamente são uma plataforma de mudança, mas apenas a cada quatro anos não é suficiente. Cabe a todos e a cada um de nós fazer a sua parte para fazer uma sociedade mais inclusiva".
Presidente do Comitê Paralímpico Internacional, Andrew Parsons discursa na cerimônia de abertura das Paralimpíadas:
"Quando a humanidade deveria se unir contra a Covid-19 houve um desejo destrutivo de quebrar essa harmonia. Vendo o que nos une, focar nos fatores que nos diferenciam, alimenta a discriminação. Isso enfraquece o que queremos alcançar como raça humana. A diferença é uma força, não uma fraqueza. O mundo pós pandêmico deve abarcar uma sociedade onde as oportunidades existam para todos".
Na parte final da cerimônia finalmente o fogo paralímpico entrou no estádio nacional. Foram reunidas chamas acesas em cada uma das 47 prefeituras do Japão e em Stoke Mandeville, no Reino Unido, berço do movimento paralímpico.
Três grandes nomes do esporte paralimpíco carregam a tocha, passam para profissionais da saúde até chegar nos três atletas que acendem a pira paralímpica:
Três trios conduziram as tochas dentro do estádio, com Yui Kamiji, do tênis em cadeira de rodas, Shunsuke Uchida, da bocha, e Karin Morisaki, do halterofilismo, sendo os responsáveis por acenderem, juntos, a pira paralímpica.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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