sexta-feira, 29 de maio de 2020

Arquibancasa

Da "arquibancasa", invadimos a live do Aarhus, da Dinamarca.
Torcida na Dinamarca. (Foto: Maquinadoesporte.com.br)
Acordo com o Zoom teve torcedores em casa e aparecendo em telões no estádio.

Eram 12h28 quando chegou o convite para a reunião no Zoom no meu e-mail. 

O pessoal estava adiantado. 

Afinal, o compromisso estava agendado para as 14 horas. 

Decidi clicar em "ingressar na reunião" para ver no que dava.

Naquela hora, fui transportado para Aarhus, cidade com cerca de 350 mil habitantes que fica a 187 quilômetros a noroeste de Copenhague, capital da Dinamarca. 

Passei a dividir a tela com Jens, Christensen, Gert, Brigitte, Peter e até algumas variações de Erich, como Erik e Erichsen.

Em comum, todos vestiam a camisa do Aarhus Gymnastik Forening, terceiro colocado no Campeonato Dinamarquês e que, a partir das 19 horas locais (14 horas de Brasília), enfrentaria o Randers, na reabertura do futebol no país nórdico.

A tela do computador virou uma arquibancada virtual. 

O Aarhus fechou um acordo com o Zoom para levar, virtualmente, torcedores do clube para o Ceres Park. 

No dia 11 de maio, consegui "comprar" meu ingresso para esse jogo.

Era hora de entender como seria a dinâmica. Como se daria a comunicação com o torcedor? De que forma eu poderia assistir à partida?

O pré-jogo foi interessante. 

Deu para ver como o Peter, um senhor de seus 70 anos, já estava ajustado na poltrona de casa saboreando um queijo e esperando o início da partida. 

Outros amigos se encontraram virtualmente e começaram a conversar amenidades, como já previa o departamento de marketing do Aarhus ao comentar sobre por que fazer essa ação.

O tempo passava com um misto da imagem dos jogadores se aquecendo no campo do Ceres Park, que era compartilhada pelo perfil do Aarhus, e o cotidiano dos torcedores em casa. 

Isso foi até 13h57. Naquele instante, a tela mudou para uma propaganda do banco Arbejdernes Landsbank, que pedia para adivinharmos o número de torcedores presentes no Zoom durante a partida. 

Quem acertasse, levaria a camisa usada por Mustapha Bundu, o camisa 19 do Aarhus, no duelo contra o Randers.

Às 14 horas, ouvi um apito soar e os gritos dos jogadores. 

A imagem da propaganda sumiu e, naturalmente, fiquei no escuro. 

Só quem era da Dinamarca poderia acompanhar o jogo pelo canal 9, que é quem detém os direitos de transmissão da Superliga do país. 

Não havia a opção de eu, em casa, ter acesso à câmera instalada na arquibancada.

A solução foi começar a ver como a torcida reagia a um jogo para o qual eu não tinha nenhum acesso. 

Estávamos em cerca de 80 participantes na "arquibancasa", termo bem inventado pelo Wagner Giannella para explicar a iniciativa.

A empolgação do torcedor durou exatos 35 minutos, quando, com um gol quase do meio-campo, o Randers abriu o placar. 

Meu passatempo se tornou, então, passar de um torcedor para o outro só para ver a cara de decepção da maioria. 

Teve uma mãe de família que desistiu e começou a fazer tricô e um outro torcedor mais idoso que cochilou. 

Outro, por sua vez, resolveu trocar o canal da TV. 

Os amigos que estavam no escritório simplesmente começaram a enfileirar latas de cerveja e praguejar contra o time.

Eu só sabia que alguém tinha aparecido na imagem do estádio quando uma das telas era ampliada e quem aparecia fazia uma festa. 

Mas isso foi se tornando cada vez mais raro com o time perdendo em casa e colocando em perigo o terceiro lugar no campeonato.

Ao longo de quase duas horas, tudo transcorreu como uma dessas incansáveis reuniões do Zoom que já fazem parte do nosso novo cotidiano. 

Muito falatório, nenhuma animação.

Até que, aos 47 minutos do segundo tempo, um cruzamento na área fez o Zoom ganhar vida. Mortensen recebeu a bola de frente para o gol e meteu o pé para empatar.

Os amigos empolgados com a cerveja passaram a berrar e até a balançar uma bandeira do Aarhus. 

Os casais se abraçavam, filhos e pais pulavam juntos. 

E, finalmente, o clima de uma arquibancada invadiu o Zoom.

É difícil imaginar que esse seja o "novo normal" para uma competição esportiva. 

Mas, pelo menos, as famílias e amigos mais íntimos encontraram um novo jeito de torcer. 

Eu, de qualquer forma, quando recebi o e-mail de agradecimento do Aarhus por ter participado da reunião de estreia, já cliquei no botão e comprei meu ingresso para o próximo jogo, que será na segunda-feira (1° de junho). 

O próximo passo é dar um jeito de encontrar uma camisa do time dinamarquês para torcer.

Reportagem: Maquinadoesporte.com.br

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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