Na onda do Grupo City, clube árabe faz parceria com time de São Paulo e mira revelações.
O Sharjah Brasil disputará a Copa São Paulo de Futebol Júnior em Alumínio, em uma das menores cidade-sede da competição.
A Copa do Mundo do Catar foi uma amostra que o futebol é uma prioridade para os árabes.
O forte poderio financeiro de alguns desses países já foi notado no esporte, que recebe muito investimento dos chamados petrodólares.
Mais um exemplo disso poderá ser visto nesta edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior, que começa no dia 2 de janeiro.
O grupo 22 terá um estreante bem peculiar: o Sharjah Brasil, clube-empresa que leva o nome de um tradicional time dos Emirados Árabes.
A jovem equipe paulista, na versão brasileira, fica na pequena cidade de Alumínio, segunda menor sede da Copinha, com pouco mais de 18 mil habitantes.
Os adversários nesta primeira fase serão o Ceará, o Rio Claro e o Madureira.
Outro exemplo da presença do país árabe no Brasil é a parceria do Bahia com o Grupo City, também com origem nos Emirados Árabes Unidos.
O alinhamento ao Sharjah Football Club, atual vice-campeão nacional, começou em 2020.
Além do nome, escudo e até a cidade mudaram.
O time era o Itapevi Futebol Clube, que viajou cerca de 40 quilômetros até Alumínio, na Região Metropolitana de Sorocaba.
Esta foi a segunda mudança no nome e de cidade do clube fundado em 2004 como Associação Atlética Cubatense, no município de Cubatão, na Baixada Santista.
Em 2008, mudou-se para Itapevi, na Grande São Paulo.
O presidente, desde 2008, é Marcelo Neres.
O objetivo, desde o princípio, foi disputar competições de base e revelar jovens jogadores.
A única vez que a equipe jogou um campeonato profissional foi em 2012, quando foi lanterna do seu grupo na Segundona do Campeonato Paulista, o quarto e último nível estadual.
A mudança para Sharjah Brasil foi concretizada em 2022, dois anos após o início das conversas com os Emirados Árabes.
Roberto Patressi, contratado para ser diretor de marketing do clube, lembra que os contatos com o Sharjah Football Club começaram impulsionados pela rede de contatos de Marcelo Neres, que, além de presidente do então Itapevi Futebol Clube, é dono de uma editora de livros e revistas, que publicou livros e traduções de diversos países do mundo, incluindo os Emirados.
Entre os contatos de Marcelo, estão integrantes do governo local, empresários e autoridades árabes, que fomentaram a concretização dessa parceria.
A matriz, o Sharjah Football Club, foi fundada em 1966, levando o nome de um dos sete emirados que formam o país.
O clube conquistou em 2019 o último dos seis títulos do campeonato local.
Atualmente, Caio Lucas, Luan Pereira e Caio Rosa são os três brasileiros que fazem parte do elenco.
Até agosto de 2022, Bernard, "alegria nas pernas", defendia o time árabe, que tem o governo local como o principal investidor, além das empresas da região.
Sem comportar a estrutura e os padrões necessários para um jogo de Copa São Paulo de Futebol Júnior, o município de Itapevi passou a ser não mais vantajoso para o novo Sharjah, que aumentou suas aspirações com a parceria árabe.
Por isso, foi viabilizada a viagem, sem passagem de volta, até Alumínio, uma cidade sem times profissionais e com a estrutura capitaneada por uma das maiores empresas da América Latina.
O município, inclusive, leva o nome do metal que é produzido maciçamente por esta fábrica desde os anos 1940.
A pequena cidade se desenvolveu em torno da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que se confunde com a própria história do município, que concluiu a emancipação em 1993.
O estádio municipal, inclusive, leva o nome de José Ermírio de Moraes, fundador da empresa e ex-senador.
A base de treinos do Sharjah Brasil fica também no clube que pertence a CBA, a Associação Atlética Alumínio.
A ideia é ampliar a capacidade do estádio de 1,7 mil para 4 mil pessoas, para ter condições de comportar jogos da Segundona do Paulista, futuramente.
A mudança de cidade foi simultânea com a reestruturação do clube, que concluiu o processo para a transformação em clube-empresa.
Segundo o presidente, Marcelo Neres, a base do modelo de administração foi inspirada em times da Europa e do próprio Emirados Árabes.
A transformação não para por aí, de acordo com o presidente do clube.
Marcelo revelou a intenção de fazer com que o Sharjah passe a ser de capital aberto.
Ou seja, entrar na bolsa de valores e vender ações do clube-empresa, daqui a cinco anos, segundo o planejamento traçado.
Na Europa, alguns dos gigantes do futebol têm capital aberto com ações vendidas nas bolsas de valores.
No Brasil, isso ainda não existe.
Outra possibilidade trabalhada pela diretoria do Sharjah Brasil é a transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), mas isso ainda dependeria da evolução da equipe em diversos quesitos desportivos e administrativos.
Fábrica de craques?
Os diretores são unânimes em dizer que o foco do Sharjah Brasil é na revelação de jogadores.
A longo prazo, discute-se a possibilidade do clube disputar a Segundona do Paulista, a quarta divisão estadual.
Já em Alumínio, o Sharjah disputou a Paulista Cup, um campeonato sub-20.
Entre 33 equipes, o time foi eliminado na semifinal, nos pênaltis, despedindo-se invicto do torneio.
A participação na Copa São Paulo de Futebol Júnior veio por meio de um convite da Federação Paulista.
O elenco para a competição terá apenas atletas brasileiros.
Muitos já jogavam no antigo Itapevi, outros vieram de clubes da Grande São Paulo, trazidos pelos membros da comissão técnica.
No total, o clube tem cerca de 150 jovens separados em cinco categorias (sub-11, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20).
O namoro entre árabes e brasileiros: O gerente de marketing do Sharjah Brasil, Roberto Patressi, esclarece que, apesar do uso do nome do clube árabe, a administração é feita totalmente pelos brasileiros, que ainda não receberam aporte financeiro dos Emirados Árabes.
"Não existe participação deles (Emirados Árabes) no clube. Existe um apoio institucional. Nesse período de conversa, houve a formalização. Estamos tendo conversas para aportes, desde a ampliação do estádio, concessão do estádio, participação na formação dos atletas, escolinhas", disse.
Patressi também falou sobre qual fase do "namoro" estão brasileiros e árabes.
"Já estamos de mãos dadas, mas para dar aquele beijinho, eles querem ver o potencial, para ver a gente caminhar com as próprias pernas".
O presidente do Sharjah Brasil, Marcelo Neres, avalia que a decisão de manter brasileiros na gestão do clube é crucial pelo domínio das particularidades do futebol nacional.
"É importante ter autonomia (na gestão), para mostrar a eles como funciona o mercado e o futebol brasileiro. A gente tem demonstrado e conversado sobre essas diferenças. A gente gosta dessa autonomia, porque dá liberdade. Mediante futuras propostas de aportes, aí que vai ser deliberado o caminho que vai ser tomado pelo clube. O objetivo principal é ter investimento do mercado externo", disse o presidente.
A parceria, que está no começo, prevê, futuramente, troca de atletas entre a matriz e a filial brasileira, além da mudança completa da identidade visual, que ainda mantém características do antigo Itapevi Futebol Clube no uniforme e no logo.
Entre os projetos está a criação do novo mascote do Sharjah Brasil, que será um falcão, animal bastante popular nos Emirados Árabes Unidos.
A aproximação entre brasileiros e árabes é mais uma demonstração que o futebol dos Emirados quer promessas brasileiras em seus primeiros anos de carreira.
Diferentemente do que foi feito anos atrás, quando jogadores mais renomados, alguns já em final de carreira, iam jogar no país.
"A missão é revelar potências para o futebol e internacionalizar essas potências. É ter a proximidade com os Emirados Árabes, região tem investido muito. O Brasil é um celeiro tão grande de atletas, que há o objetivo de pegar jovens promessas também. Não só celebridades. Eles querem estar no Brasil, no olho do furacão", afirmou o diretor de marketing, Roberto Patressi.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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