sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O melhor estádio

El Sadar: conheça o "melhor estádio do mundo", do Osasuna.

Arena eleita em 2021 e ainda dona do posto custou 23 milhões de euros e vai ser quitada em menos de quatro anos.

Sócios escolheram projeto que valoriza a experiência do torcedor.

Imagine ter um estádio moderno, relativamente barato (23 milhões de euros), fiel às tradições locais, amplificador da pressão da torcida, com índice de lotação de 87%, e que ainda ostenta o título de "melhor do mundo". 

Esse é o cenário do Osasuna, da Espanha, que tem como casa o El Sadar.

Sonhando com uma vaga nas ligas europeias, o Osasuna recebe neste domingo o Atlético de Madrid. 

A distância entre o sétimo e o quarto colocado em LaLiga é de apenas três pontos (31 a 28).

A reportagem do Globo Esporte conheceu a casa do Osasuna no início do mês. 

Ela não é imponente como o Camp Nou, do Barcelona, com capacidade para 99.354 pessoas. 

Sediado na cidade de Pamplona, famosa pela corrida de touros pelas ruas, o El Sadar consegue receber exatos 23.516 torcedores. 

Cerca de metade do Nilton Santos, por exemplo.

Como o clube conta atualmente com mais de 21 mil sócios com direito a assento e há mais 3500 na fila, só são vendidos cerca de mil ingressos avulsos por jogo para a torcida local.

O El Sadar tem fachada sóbria, área VIP que valoriza mais a cultura local do que possíveis extravagâncias, e vestiários compactos.

O estádio foi inaugurado em setembro de 1967, para comportar 23.283 torcedores (em pé e sentados). Houve outra reforma significativa a partir de 1988 para ampliar as tribunas e camarotes. 

A capacidade foi reduzida para cerca de 20 mil pessoas até o final do século XX.

Com o passar dos anos, a estrutura se deteriorou e ficou distante dos requerimentos da Liga Profissional de Futebol da Espanha (LFP).

A última transformação aconteceu então em 2019, ao preço de 23 milhões de euros, hoje, cerca de R$ 128,1 milhões. 

A conclusão das obras se deu em outubro de 2021. 

Como comparação: a futura casa do Atlético-MG, a Arena MRV, ainda não entregue, tem custo aproximado de R$ 1 bilhão.

Qual o segredo do El Sadar?

O atual projeto arquitetônico do estádio foi elaborado com o objetivo de enriquecer o mais importante do futebol: a experiência do jogo.

Os três andares de arquibancadas, por exemplo, estão precisamente alinhados em 40° de inclinação, para deixar todo torcedor o mais perto possível do campo. 

A sensação de estar a um passo do gramado acontece até para quem está no último andar.

O El Sadar foi o primeiro palco do futebol espanhol a incorporar parte das arquibancadas com barras de proteção para os torcedores poderem ficar de pé e em segurança. 

O clube também investiu em elevadores e espaços integrados para pessoas com deficiência (PcD).

A cobertura foi construída de tal maneira que o som gerado pelas arquibancadas é rebatido na direção do centro do campo. 

Algo que potencializa uma torcida já conhecida por ser ruidosa.

O recorde de decibéis (unidade para medir a intensidade de som) em um jogo de futebol na Espanha é do Osasuna. 

Foram 115.7 decibéis, quase um motor de avião, após o gol de Juanfran contra o Real Madrid, em 2009, que garantiu o time na Primeira Divisão.

Há outros detalhes do interior do El Sadar. 

Ao lado do banco de reservas está uma pequena imagem de São Firmino, padroeiro da cidade de Pamplona, protegida por um vidro. 

Quase toda a arena é de cor vermelha, incluindo o corredor para o campo.

A sala de imprensa leva o nome do ex-jogador inglês Michael Robinson. 

Ele não conquistou títulos pelo Osasuna, mas deixou como legado um espírito de inconformismo, segundo os funcionários.

Esse foi o primeiro estádio de LaLiga a implementar o sistema de acesso biométrico para sócios, através de reconhecimento facial.

Como parte das últimas obras se desenrolaram no contexto da pandemia de Covid-19, o estádio não pôde ter casa cheia logo depois de ficar pronto. 

A solução encontrada pelo Osasuna foi, durante dois meses, fazer visitas guiadas para os sócios.

Escolha democrática: E foram justamente os sócios do Osasuna que apontaram como seria o novo El Sadar. 

Em julho de 2018, o presidente do clube, Luis Sabalza, anunciou a convocação de um concurso para a reforma da arena.

Os escritórios de arquitetura e construtoras interessados deveriam apresentar propostas com limite máximo de 16 milhões de euros de investimentos. 

Os cinco finalistas foram conhecidos em outubro de 2018, e cada um teve a oportunidade para detalhar seu plano.

Todos os sócios maiores de 18 anos foram chamados a votar. 

De cerca de 11 mil afiliados na época com esse direito, mais de 75% participaram (8409 votos), seja presencialmente ou online. 

O projeto "Muro Rojo", da OFS Architects e da construtora VDR, ganhou com 45,3% dos votos.

"Com essa reforma, conseguimos situar o clube em outro status. Fizemos isso mantendo a essência que transformou o El Sadar num estádio diferente. Potencializamos a sua personalidade, nossa casa respira futebol autêntico. Aumentamos o número de sócios para mais de 20 mil e melhoramos nossas receitas, comentou o presidente Sabalza.

Em nova assembleia geral extraordinária, em março de 2019, os sócios aprovaram a contratação de um empréstimo de 16 milhões de euros, junto ao governo da comunidade autônoma de Navarra. 

A conta subiu para 23 milhões de euros depois de alguns ajustes no projeto inicial, e as obras começaram em junho de 2019.

Essas características contribuíram para o El Sadar ser reconhecido como o melhor estádio do mundo de 2021, pelo site "Stadium DB", especializado em arenas esportivas. 

A casa do Osasuna venceu na eleição popular, inclusive contra arenas utilizadas na Copa do Mundo de 2022.

A eleição para o melhor estádio de 2022 começa no dia 15 de fevereiro e envolverá 36 palcos. 

Para se candidatar, a arena precisa ter capacidade para mais de 10 mil pessoas, ter sido aberta no ano passado, ser usada para o futebol e ter sido construída do zero ou reconstruída.

Símbolo da reconstrução do Osasuna: O El Sadar é a peça mais concreta para se compreender a transformação do Osasuna na última década. 

O clube teve em 2014 o pior ano na história: crise econômica, escândalos de corrupção, um acidente grave nas arquibancadas e a quase queda para a terceira divisão espanhola. 

Em 2014/2015, caiu para a segunda divisão depois de 14 anos na elite.

Para sobreviver, a diretoria teve de vender o estádio para a região de Navarra, assim como o terreno do centro de treinamento Taxonar, como parte do acordo de 25 milhões de euros com as autoridades tributárias.

Em sete anos e meio, a instituição se recuperou esportivamente e financeiramente. 

A dívida, que chegou a bater 70 milhões de euros no pior momento, 10 vezes quando o clube ganhava num ano, foi reduzida para sete milhões de euros em quatro anos. 

O time voltou para a primeira divisão em 2015/2016 com a menor folha salarial da Segundona.

"Tínhamos muito claro o que necessitávamos, no momento em que quase desaparecemos: precisávamos recuperar credibilidade. Fomos o primeiro clube da Espanha com um escândalo de corrupção e compra de jogos. Patrocinadores fugiram. Tivemos que acreditar primeiro em nós mesmos e depois convencer os outros, demonstrar transparência. O mais importante não é o que você pensa, mas o que transmite aos demais, explicou Fran Canal, diretor-geral do Osasuna.

Ao final da atual temporada, faltará ao Osasuna quitar pouco mais de 2 milhões de euros (hoje R$ 11 milhões) do empréstimo de 16 milhões contratado para a reforma do El Sadar. 

A diferença para os 23 milhões vieram dos cofres do clube e de patrocínio. 

A reconstrução do estádio vai ser paga em menos de quatro anos.

*O repórter viajou a convite de LaLiga.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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