segunda-feira, 25 de março de 2024

Até jacuzzi?

Clubes inovam em camarotes nos estádios pelo Brasil e faturam milhões.

Grandes equipes adotam nova tendência em áreas exclusivas. 

Veja comodidades e valores.

O nome dele é Leonardo Rizzo.

Filho de pai técnico mecânico e de mãe professora, já dirigiu festas infantis, coquetelarias e hoje, aos 41 anos, mais da metade deles trabalhando no mundo de eventos, é dono de um empreendimento de milhões: os camarotes vips nos estádios. 

Um projeto que começou modesto, tirado do papel há nove anos, e que atualmente leva mais de 7 mil clientes por semana às arenas de todo o Brasil.

Para tamanho sucesso, há uma razão de ser.

"Eu gosto de trabalhar com galera. Sou um cara que tô no front com meu time, sempre com o radinho no pescoço", diz Léo Rizzo.

E do que se tratam esses empreendimentos? 

O Globo Esporte conta a partir de agora.

Os espaços são, antes de tudo, um nicho dentro de outro. 

Não se tratam (apenas) de uma área com vista diferenciada aos jogos, como assim são desenhados os camarotes nos estádios, mas sim de um serviço à parte.

Primeiro, porque exclusivo: nem todos os clubes têm. 

Os beneficiados hoje são oito, do Nordeste ao Sudeste: Náutico (Timbuzone), Bahia (Esquadrão Zone, estreia este mês), Botafogo (Firezone), São Paulo (Camarote ídolos), Palmeiras (Fanzone) , Corinthians (Fielzone), Grêmio (Imortal Sports Bar, estreia este mês), e Santos (Boteco Santista).

As áreas vip entregam música ao vivo, área de jogos, contato com ídolos dos respectivos times, tidos como embaixadores, salão de beleza, barbearia, flashs de tatuagem, além de open bar e open food, com direito até a pizza nas cores do clube e roda gigante de costela. 

Tudo isso por sete horas ininterruptas; quatro antes do início de cada jogo, duas no andamento da partida e uma após o final.

A alma do negócio: receber bem: Embora caminhe a passos lentos no futebol do país, a entrega do serviço a tanta gente envolve um conceito antigo: de hospitalidade. 

Que, em grandes eventos, significa local vip pago que ofereça conforto. 

E Léo Rizzo rodou cinco dezenas de países para importá-lo à brasileira.

"Durante minha trajetória também atendi à CBF no início dos camarotes, em 2008, nas Eliminatórias. Dali, vi algumas oportunidades de poder atender melhor. Viajei mais de 50 países para assistir softball, beisebol, futebol americano. Até campeonato de esgrima cheguei a ir, sempre tentando entender os conceitos. Eu estava no lugar certo, na hora certa e com pensamentos certos".

"Hospitalidade é você comprar um serviço e ele ser premium da hora da compra desse ticket até a hora de você ir pra casa. A hospitalidade traz prazer, tanto para quem entrega quanto para a pessoa que tá vivenciando".

Só que oferecer tratamento diferenciado "dá prazer", mas não é barato. 

Por cada camarote, são investidos cerca de R$ 4 a R$ 5 milhões. 

Na operação, os clubes cedem o espaço e ficam como sócios do empreendimento, rateando praticamente metade dos ganhos.

Em contrapartida, se fatura alto: a previsão para 2024 é de R$ 100 milhões, o dobro do registrado no ano passado. 

Ou seja, na divisão dos lucros, Náutico, Bahia, Botafogo, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Grêmio e Santos, somados, ganharão R$ 50 milhões ao todo.

"Em todas as nossas operações, os clubes são sócios. A gente ganha o estádio, a gente constrói, opera e entrega receitas para o clube. É um espelho do modelo americano revenue share (participação nos lucros), campeão hoje. Então, eu preciso ir bem para poder continuar no clube e o clube ir bem. A gente representa de 10 a 17% da renda das partidas".

Um desses jogos, diga-se, causou espanto.

Realmente...Esse dia explodiu tudo".

"Lembra Rizzo, em referência à final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo".

Léo Rizzo conta que os camarotes nunca deram tanto retorno em um dia quanto na decisão entre tricolores e rubro-negros, dia 24 de setembro do ano passado: algo em torno de R$ 2 milhões, quase 10% da renda (recorde) da partida que valeu o título inédito para o time paulista.

Piscininha, amor?

Na mesma São Paulo, os camarotes também deram o que falar, mas pelo Corinthians. 

Essa história, contudo, não é tão recente assim, embora Léo lembre seu enredo "tim tim por tim tim".

Há cinco anos, Rizzo viajou para a Flórida, nos Estados Unidos, para assistir a um jogo do Jacksonville Jaguars, da NFL (National Football League é a liga esportiva profissional de futebol americano dos Estados Unidos), quando enfim conheceu a famosa piscina construída dentro do estádio. 

Não demorou muito para seu telefone tocar na volta ao Brasil. 

Do outro lado da linha, era o diretor de marketing do Corinthians na época, Caio Campos:

"Por que você não faz isso aqui?"

"A Arena Corinthians (hoje Neo Química Arena) não tinha nenhuma atração de hospitalidade além das arquibancadas e camarote, mas a gente correu atrás. O pessoal falando: 'Ah, todo mundo sabe que o Léo Rizzo é maluco, que sai da caixa. Então eu disse que iria fazer'. Só que eu vou fazer uma black pool, e vou fazer um camarote dentro do camarote da Fielzone, e dentro dele tem uma jacuzzi".

Porém, gozar da "melhor área da balada", é preciso abrir o bolso. Porque, se o preço dos camarotes varia de R$ 200 a R$ 1000 por ingresso, incluindo a própria entrada dos jogos e o sistema de all inclusive -, a área reservada à jacuzzi corintiana, que comporta apenas 10 torcedores, pode chegar a até R$ 3 mil por pessoa.

Virou ponto turístico em dias de visitação ao estádio e point de personalidades. 

Uma delas, os MC's Ryan e Hariel, presenças constantes nos jogos.

"Quando postamos a foto, meu celular não parava com ligações e mensagens de jornalistas do Brasil e da América do Sul inteira me chamando. O cara literalmente tem o melhor camarote da balada, ele tá ali com toda a festa. Depois ele ganha um roupão com a marca do camarote, leva isso embora. Muita gente que faz o tour na arena tira uma foto dessa piscina, virou ponto turístico".

Interessados, aguardem na linha: Com os negócios em franca ascensão, os planos são por uma expansão do empreendimento. 

Uma expansão comedida, no entanto, embora o celular de Léo Rizzo, ele garante, não pare de receber mensagens de interessados.

"Temos uma fila de espera de pelo menos 15 clubes para ter as nossas operações", afirma o empresário

De certo, no segundo semestre mais dois camarotes serão entregues: um, na Arena das Dunas, em Natal, sendo o terceiro empreendimento desse tipo no Nordeste, e outro em Minas Gerais. Léo Rizzo ainda pensa em construir mais um camarote no Rio de Janeiro.

"Daí em diante, a proposta é abrir franquias do modelo de negócio para demais clubes brasileiros. Torná-lo um produto, de fato e de direito, nacional. Com a marca do "Rei dos Camarotes".

"Nós arrumamos dinheiro novo pros clubes. A gente conseguiu resgatar aquele torcedor que não ia para o estádio. Criamos um espaço de festa para ele vivenciar 100% sua paixão porque a gente faz o que o americano sabe fazer muito bem: entregar experiência".

"Eu exijo muita qualidade do meu time, mostro para eles que eles precisam estar entregando como eles gostariam de ser servidos. Eu amo o futebol e, quando você fala de paixão, você tem que entregar tudo. A gente tá aqui para fazer o cara realizar seu sonho. Tem gente vai para o estádio com 60, 70 anos. Então, essa experiência tem que ser inesquecível, porque o cara pode ter esperado uma vida toda para isso".

As capacidades de cada camarote:

Esquadrão Zone - 1.000 pessoas

Camarote dos Ídolos - 1.100 pessoas

Imortal Sports Bar - 300 pessoas

Timbuzone - 500 pessoas

Fanzone - 500 pessoas

Fielzone - 400 pessoas no camarote + 2.000 pessoas na choperia

Boteco Santista - 500 pessoas

Firezone - 1.000 pessoas

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário