Veja fatos marcantes da Final Caipira entre Bragantino e Novorizontino.
Equipes são semifinalistas do Paulista deste ano e, caso avancem à decisão, vão reeditar a final histórica do estadual de 1990.
Campeões mundiais e técnicos famosos disputaram a Final Caipira.
Em uma semifinal, Novorizontino.
Na outra, Red Bull Bragantino.
Para os mais novos, ver os dois times nas semis do Paulistão pode até não ser nada de mais.
Mas, para quem acompanha futebol desde os anos 1990 ou gosta da história do futebol paulista, ver os nomes dessas duas equipes juntas é lembrar da decisão do Campeonato Paulista de 1990, que ficou conhecida como a Final Caipira.
Nesta quarta-feira, 27 de março, o Red Bull Bragantino encara o Santos, às 20h30 (horário de Brasília), na Neo Química Arena.
Na quinta-feira, 28 de março, o Novorizontino faz a outra semifinal contra o Palmeiras, às 21h35 (horário de Brasília), no Allianz Parque.
Se o Massa Bruta e o Tigre avançarem para a decisão, haverá a reedição da Final Caipira em 2024.
Os clubes passaram por mudanças ao longo dos anos, como a mudança de nome (entenda mais abaixo), mas essa decisão segue gravada na história das duas cidades.
Final Caipira entre Novorizontino e Bragantino, em 1990: A decisão de 1990, vencida pelo então Clube Atlético Bragantino, ficou conhecida por ser uma das duas únicas da história do Paulista entre clubes do interior, sem contar o Santos.
A outra foi em 2002, quando nenhum dos quatro grandes participou.
Além disso, há outros fatos marcantes na Final Caipira, como as presenças de Vanderlei Luxemburgo e Nelsinho Baptista em início de carreira e ter sido disputada por atletas que depois chegaram a ser campeões mundiais.
O Globo Esporte relembra abaixo como foi a Final Caipira e os principais elementos que fez essa decisão ficar conhecida na história do futebol paulista.
Vanderlei Luxemburgo X Nelsinho Baptista: A Final Caipira colocou frente a frente os técnicos Vanderlei Luxemburgo, do Bragantino, e Nelsinho Baptista, à frente do Novorizontino.
Ambos estavam em início de carreira e passaram por vários clubes após a decisão.
Após a conquista, Vanderlei Luxemburgo foi contratado pelo Flamengo.
A partir daí, passou pelos principais clubes do país, como Palmeiras, Corinthians, Flamengo, Santos e Cruzeiro.
Tem cinco títulos do Campeonato Brasileiro. Também teve passagens pela seleção brasileira e chegou a treinar o Real Madrid.
Depois do vice, Nelsinho foi contratado pelo Corinthians, onde foi campeão brasileiro de 1990.
Também passou por Palmeiras, São Paulo e vários outros clubes de elite brasileiros, além de fazer carreira no Japão.
Filho de Nelsinho vai para possível Final Caipira 2024?
Eduardo Baptista carrega e sempre carregará a responsabilidade do sobrenome herdado de seu pai, Nelsinho, um treinador histórico no futebol brasileiro.
Fato é, no entanto, que o atual técnico do Novorizontino já fez o suficiente para escrever sua própria página no esporte.
Prova disso é o trabalho à frente do Tigre. Contratado no fim de 2022, ele assumiu um clube que fora rebaixado no Paulistão daquele ano e ficou a uma posição de cair também no Campeonato Brasileiro Série B.
Desde então, o cenário mudou completamente.
Além de um histórico quinto lugar, e um quase acesso, no Campeonato Brasileiro da Série B do ano passado, o Novorizontino vive sua melhor campanha no Campeonato Paulista, independentemente de chegar ou não à decisão.
Isso porque clube atual é diferente do antigo Grêmio Esportivo Novorizontino, treinado por Nelsinho, e que encerrou as atividades na década de 1990.
O atual foi fundado em 2010 e, desde então, jamais havia passado das quartas de final.
Será Eduardo capaz de repetir o feito do pai e levar o novo Tigre a uma nova final?
Campeões mundiais: A Final Caipira teve dentro de campo atletas que, posteriormente, foram campeões mundiais, seja pela seleção brasileira ou por clubes.
Bragantino:
Mauro Silva - campeão da Copa do Mundo de 1994
Pintado - campeão mundial com o São Paulo em 1992
Novorizontino:
Márcio Santos - campeão da Copa do Mundo de 1994
Paulo Sérgio - campeão da Copa do Mundo de 1994
A importância da Final Caipira: A presença desses atletas que, nos anos seguintes, vieram a conquistar títulos mundiais mostra o nível dessa decisão de 1990.
O ex-goleiro e técnico Marcelo Martelotte, campeão com o Bragantino na Final Caipira, é um dos que reforça a importância desse duelo para as carreiras de todos os jogadores e os dois treinadores.
"O Brasil vinha de uma campanha ruim na Copa do Mundo de 1990, uma derrota frustrante. O Falcão tinha acabado de iniciar o trabalho na seleção, estava fazendo uma reformulação e esteve presente nos dois jogos da final, em Bragança Paulista e em Novo Horizonte. Ele percebia uma possibilidade de iniciar uma reformulação com jogadores que estavam naquela final. Foi muito marcante para a carreira de todos. Foi muito marcante também para o futebol brasileiro, até porque vivíamos em um momento de mudança dentro do futebol. Foi muito marcante ver um treinador de seleção brasileira, que iniciava o seu trabalho, acompanhando as duas finais do interior de São Paulo porque entendia que ali estavam jogadores com capacidade para vestir a camisa da seleção", recordou.
Martelotte, à época com 21 anos, trata o título da Final Caipira como o mais importante da carreira.
Como goleiro, ficou sete anos no Bragantino e, depois, defendeu clubes como Santos, Santa Cruz e Sport.
Como técnico, foi auxiliar no Santos e dirigiu diversas equipes, como Náutico, Sport, Santa Cruz e Paraná.
Atualmente, comanda o Sergipe.
Segundo Martelotte, a chegada de Bragantino e Novorizontino naquela final foi uma surpresa para muitos.
Porém, segundo ele, no Massa Bruta havia confiança de que o time poderia chegar à decisão por causa da boa campanha em 1989, quando conquistou o Brasileiro da Série B.
Ele destaca que, até hoje, os atletas que participaram daquela campanha mantém contato. Martelotte também, sempre que possível, vai a Bragança Paulista assistir aos jogos do Bragantino.
Após a chegada da Red Bull ao clube, ele disse que era esperado que o Massa Bruta começasse a brigar para voltar a uma decisão de Paulista.
"Fui assistir à semifinal do ano passado, contra o Água Santa, e esperava que chegasse à final. Neste ano, tem um confronto contra o Santos, um confronto difícil, mas vejo uma possibilidade do Bragantino chegar. O Novorizontino foi uma surpresa, mas não uma surpresa no sentido de não ter capacidade. É um time que fez uma Série B muito boa no ano passado, tem se estruturado e tem condições. É uma das forças do interior de São Paulo. Não vejo o Novorizontino como um favorito contra o Palmeiras, já acho que o Bragantino tem mais chances contra o Santos. Mas são quatro times. Existe, sim, essa possibilidade da reedição da final", comentou Martelotte.
Do Tigre à Seleção: Além dos campeões do mundo, um personagem daquela final que também chegou à seleção brasileira foi o goleiro Maurício.
Titular da meta do Novorizontino na ocasião, ele vivia ali o começo de sua carreira, que seria marcada ainda por passagens por Santos, Corinthians e Fluminense, entre outros clubes.
O ex-goleiro relembra com carinho da campanha e, em especial, da final daquele campeonato, que acredita ter sido o grande propulsor da sua carreira.
"Foi um campeonato muito lindo. Eu tinha de 19 para 20 anos, cheguei da seleção de juniores e o Nelsinho me disse que no próximo jogo seria titular. Graças a Deus foi um campeonato maravilhoso, chegamos à final com o Bragantino e foi onde tudo começou para mim. Dali, deslanchei para os times grandes e consegui tudo a partir dessa decisão e cheguei até a Seleção. Eu devo muito a essa final e agradeço muito ao Novorizontino por tudo o que fez por mim".
Maurício diz ver muita semelhante entre o método de trabalho de Nelsinho e Eduardo e, na torcida pelo clube que o projetou para o futebol, elogia o trabalho do atual comandante aurinegro.
"O Nelsinho Baptista foi um dos melhores treinadores que tive. E ele (Eduardo) trabalha igualzinho ao pai. Tem uma tática, uma visão de jogo muito boa. Pode ser que tenha uma mística, pois o Nelsinho estava naquela campanha e ele agora. É muita competência, admiro muito o trabalho dele".
Formato de disputa: O Campeonato Paulista de 1990 teve 24 participantes, divididos em duas chaves de 12 clubes.
Todos se enfrentavam entre si e os três melhores de cada chave avançavam, além das outras seis melhores campanhas, independente da chave.
Bragantino e Novorizontino estavam no mesmo grupo, ao lado de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo.
O Massa Bruta terminou a primeira fase em terceiro lugar, com 28 pontos, enquanto o Tigre avançou na quarta posição, com 25 pontos.
As 12 equipes se dividiram, novamente, em dois grupos.
Os líderes de cada chave se enfrentariam em jogo de ida e volta na final.
Com sete vitórias em 12 jogos, o Massa Bruta terminou na ponta do grupo preto, enquanto o Novorizontino venceu cinco de seus duelos, empatou outros seis e liderou o grupo vermelho.
A Final Caipira: Até aquela época, a Internacional de Limeira era a única equipe fora da Grande São Paulo ou o Santos que havia sido campeã paulista.
Por isso, quando Bragantino e Novorizontino desbancaram os grandes do estado e chegaram à decisão, houve grande visibilidade e trouxe um clima especial à decisão.
Tanto Novo Horizonte quanto Bragança Paulista respiravam essa final.
Os dois jogos contaram com casa cheia e enorme pressão sobre os adversários.
Os resultados foram iguais: 1 a 1 na ida e na volta.
O Novorizontino chegou a ter a vantagem nos dois jogos.
Mas o Bragantino correu atrás do empate nas duas ocasiões.
Pelo regulamento, a igualdade geraria prorrogação.
Como a rede não foi balançada no período extra, o Massa Bruta ergueu o troféu por ter melhor campanha.
Mudanças nos clubes: Bragantino e Novorizontino passaram por muitas mudanças depois da Final Caipira.
O Massa Bruta, por exemplo, chegou à final em 1990 como Clube Atlético Bragantino.
Em 2019, o clube passou a ser gerido pela Red Bull e, no ano seguinte, passou a ser chamado de Red Bull Bragantino.
O escudo do time também mudou, assim como o uniforme ganhou a cor vermelha.
O Novorizontino também mudou de nome.
O time que chegou à final era o Grêmio Esportivo Novorizontino, que encerrou as atividades em 1998.
Pouco mais de uma década depois, em 2010, surgiu o Grêmio Novorizontino, que foi fundado utilizando as mesmas cores, usando o mesmo estádio e um escudo muito semelhante.
Em 2023, o clube passou a ser uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) e virou o Grêmio Novorizontino Sociedade Anônima do Futebol.
Embora essas mudanças tenham ocorrido, os dois clubes ainda tratam a Final Caipira como um fato que faz parte da história dos times, das cidades de Bragança Paulista e de Novo Horizonte.
Afinal, os clubes seguem como representantes do município nos campeonatos.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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