Conheça a história do atleta do Atlético-MG que ganhou a corrida de rua há 40 anos.
João da Mata relembra euforia da torcida, premiação e encontro com governador de Minas.A São Silvestre, maior corrida de rua da América Latina, chega a 98 anos de história neste domingo (31), 7h30 (horário de Brasília).
Muitos atletas tiveram a chance de conquistar o primeiro lugar no pódio, mas um vencedor marcou a história do Atlético-MG e de Minas Gerais.
João da Mata, nascido em 1954, em Diamantina, na região central do estado, ganhou há 40 anos.
Era 1983, a corrida acontecia no período da noite, durante a virada do ano.
Começou às 23h30 (horário de Brasília) do dia 31 de dezembro e terminou, para João, minutos após a chegada do ano de 1984.
Ali começava o período de comemoração e euforia que deixou o próprio corredor chocado.
"A São Silvestre realmente foi uma conquista. Mas, até que, pessoalmente, naquele momento, eu achava que era apenas mais uma competição, mais uma vitória, né? Só que comecei a receber as maiores sensações de alegria que as pessoas me relatavam. Às vezes tratam até hoje, falam que tiveram uma alegria muito grande com essa vitória".
"Aí, eu percebi que foi importante porque você causar uma alegria para muitas pessoas é uma coisa que é agradável para a gente também, né? "
João da Mata correu 12.700 metros.
Na época, a São Silvestre tinha quilometragem um pouco menor, e o percurso era diferente.
Da década de 1990 em diante, a corrida passou a ter os atuais 15km.
O corredor fez o percurso em aproximadamente 37 minutos, cerca de 2 minutos e 57 segundos por quilômetro.
Com o título, João recebeu cerca de 1.500 dólares.
Inauguração de aeroporto e encontro com o governador: O então atleta virou a sensação de Belo Horizonte.
Além de marcar a história conquistando um dos títulos mais cobiçados para corredores, João da Mata ainda teve a oportunidade de estrear o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins.
O voo que trouxe o vencedor da São Silvestre de 1983, junto com o troféu, a medalha e os prêmios, foi o primeiro da história do local.
"Na verdade, tudo conspirou a nosso favor, porque nós chegamos a Belo Horizonte, em Confins, na realidade, no dia da inauguração do aeroporto. Isso também foi bem interessante, né, o aeroporto estava sendo inaugurado naquele dia, porque até então a gente usava o aeroporto da Pampulha, e nós desembarcamos no primeiro dia que o aeroporto foi inaugurado".
O aeroporto estava repleto de torcedores que comemoravam a grande conquista de João da Mata.
De Confins, ele seguiu em carro aberto até encontrar com o então governador do estado, Tancredo Neves.
"Depois tivemos a recepção lá com o governador Tancredo Neves e uma série de recepções de homenagens que marcam muito, e isso realmente é o maior troféu que um atleta pode conquistar, é o conhecimento das pessoas pelo que ele fez, o resultado que ele fez".
As homenagens não pararam por aí. João foi reconhecido em uma missa, o que o deixou um pouco constrangido.
E ainda foi celebrado em Diamantina, cidade natal.
"Uma recepção muito calorosa dos conterrâneos, parentes, amigos. E quando você recebe homenagem em casa, é muito mais emocionante do que homenagem fora de casa. Você ser homenageado em casa é muito bom".
João da Mata, o torcedor que virou atleta: João da Mata era policial militar e atleta da corporação.
Ao final da década de 1970, o clube que pertencia à corporação, o Vila Rica, fechou as portas, e o Galo abriu espaço para os atletas se filiarem.
João é atleticano, e juntou a vontade de correr com o amor que sentia pelo time para poder fazer parte da equipe.
"Como eu já era torcedor do Atlético, eu falei: "Quero me filiar ao Atlético".
"E lá no Atlético, encontramos uma base boa para treinar. Eu tinha duas instituições que me apoiavam. Eu tinha a Polícia Militar, que me apoiava em todos os sentidos, me liberando para as competições, inclusive para treinamento, e tinha assistência técnica do clube".
"O clube contratou um técnico para nos treinar. A gente tinha uma equipe bem competitiva."
João se filiou ao Galo em 1978 e conquistou campeonato brasileiro de cinco mil metros e a corrida da Independência.
Além disso, disputou outras edições de São Silvestre, a maratona de Nova York, e correu na Alemanha. Até hoje, o ex-atleta é ligado ao Galo.
"Olha, na verdade eu fiquei filiado ao Atlético. Eu acho que ainda sou pelo Atlético. Eu não me lembro de ter desfiliado. Me filiei em 1977 ou 1978. Foi por aí, entre 1977 e 1978. Mas eu comecei a treinar com o Valdomiro no ano de 1981".
Valdomiro foi o treinador que ajudou João da Mata a conquistar os troféus e lutar por uma vaga nas olimpíadas.
"Valdomiro Montes, o nome do técnico. Ele tinha uma visão de alto rendimento e de conseguir melhores resultados. Foi com o Valdomiro Montes que nós conseguimos desenvolver bastante a nossa condição física, nossa capacidade competitiva".
Olimpíadas ficou no quase!
João da Mata era muito dedicado, ainda hoje continua correndo, com 69 anos, mas faz isso pela zona rural de Diamantina, onde mora e produz queijos e leite, e em 1984, ele ficou perto de ir às Olimpíadas, em Los Angeles.
Alguns chegam a dizer que o atleta foi impedido de correr pelo Comitê Olímpico, mas a história é outra.
"Hoje estão usando muito um termo aí que chama fake news, eu ouço falar muito de fake news, e às vezes os fatos não são relatados como de fato aconteceram. Não houve impedimento (...), houve um questionamento do Comitê Olímpico de que eu havia competido a São Silvestre com uma propaganda da Power. A Power era uma empresa que me patrocinava na época e eu havia colocado o nome da Power na camisa do Galo. Eles disseram que eu teria sido considerado profissional por ter competido fazendo propaganda para uma empresa".
O corredor tentou recurso, mas o que o impediu de ir ás Olimpíadas foi o índice olímpico.
"Até um jornalista daqui de Minas que chama Júlio Teodoro tentou um recurso para mim na época mostrando que vários atletas olímpicos competiam fazendo propaganda de material esportivo. Mas não foi por isso que eu não fui à Olimpíada"0.
"Eu não fui à Olimpíada porque eu não consegui o índice no dia que eu fui tentar. Eu tinha o índice A e o índice B. Depois eu tentei duas vezes (alcançar o índice olímpico). Tentei na maratona de Munique, na Alemanha, que também não consegui, por uma questão que não dava para conseguir mesmo. Depois eu ia tentar em São Paulo, mas acabou que eu nem tentei".
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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