Como os torcedores podem se proteger da onda de calor nos estádios.
A onda de calor que atingirá o Brasil nos próximos dias vem causando preocupação na população; nos estádios, população fica ainda mais vulnerável às altas temperaturas.
Institutos de meteorologia apontam que o Brasil será atingido por uma onda de calor extremo nos próximos dias.
É esperado que sejam registradas, na transição inverno/primavera, temperaturas máximas históricas em todas as cinco regiões brasileiras.
Uma bolha de ar quente, que atua entre entre o Paraguai e o Centro-Oeste brasileiro, é a razão do clima hostil.
Alguns estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão, Paraná e Mato Grosso do Sul, devem registrar temperaturas próximas ou maiores que 40ºC.
A MetSul Meteorologia, um dos principais geradores de conteúdo de informação meteorológica da América do Sul, aponta que a onda de calor tende a durar entre a parte final do mês de setembro e o começo de outubro, alcançando seu auge no fim de semana do dia 22 de setembro.
O calor extremo oferece grandes riscos à população, com possibilidade de causar mortes, a partir do desenvolvimento de quadros de hipertermia e insolação, em caso de prática de esforço físico intenso sob temperatura extrema.
Além disso, grupos de risco, como crianças e idosos, estarão ainda mais vulneráveis.
Separamos o texto em alguns tópicos:
O torcedor corre risco nos estádios durante a onda de calor extremo?
Riscos da insolação.
Cuidados a serem tomados com a alimentação.
O consumo de bebidas alcóolicas é perigoso nessas situações?
Crianças e idosos precisam de cuidados especiais?
Caso se sinta mal pelo calor, o que o torcedor deve fazer?
O que o poder público e as administradoras de estádios podem fazer para oferecer maior segurança aos torcedores?
O que os jogadores podem fazer para se protegerem das altas temperaturas?
Torcedores estão em risco?
Torcedores de futebol que frequentam estádios são, normalmente, expostos a situações climáticas no mínimo incômodas.
Transporte coletivo lotado, engarrafamentos, grandes caminhadas sem proteção do sol, filas a céu aberto e cadeiras sem proteção dos raios solares, além da proximidade com outras pessoas nas arquibancadas, são comuns na vida de quem acompanha os jogos in loco.
E se esses fatores já são prejudiciais à saúde em situações climáticas comuns, em um cenário de calor extremo, os efeitos podem ser ainda piores.
A Trivela conversou com duas profissionais da saúde para entender o que os torcedores “de estádio” podem fazer para se proteger e proteger pessoas próximas nos dias de onda de calor e, porque não, nos outros momentos em que acompanham os clubes. São elas:
Milena Marcolino, médica especialista em Clínica Médica e Cardiologia, pós-graduada em Medicina do Esporte e Exercício, professora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Julia Paes, médica de atenção primária na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Fonte Santa, em Teresópolis-RJ, formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Julia Paes explica que a onda de calor traz riscos em qualquer atividade onde haja uma aglomeração de pessoas, pelo fato desses ambientes sofrerem com novo aumento de temperaturas causado por trocas de calor pessoal.
Segundo ela, isso aumenta a sudorese (ato de suar) e a perda de água, o que pode causar problemas como desidratação e queda na pressão arterial, o que faz com que estádios de futebol sejam agravadores da onda de calor.
Ela apontou alguns cuidados essenciais nesse tipo de situação:
"Os principais cuidados para quem vai frequentar um ambiente cheio, aglomerado, é levar alguma garrafa de água, fontes de hidratação e consumir bastante água no local. Pode levar boné, boina, objetos para proteger a cabeça de exposição direta ao sol. Cuidados com a pele são, obviamente, importantes em ambientes com incidência de luz solar, por isso, é importante o uso do protetor solar. É necessário manter um nível de hidratação suficiente e frequente", apontou a médica.
É importante ressaltar que em grande parte dos estádios brasileiros é proibida a entrada com guarda-chuvas e sombrinhas, o que acaba limitando uma importante forma de proteção.
Insolação, uma grande vilã: Em dias muito quentes, um dos problemas mais graves que podem ocorrer é a insolação.
Milena Marcolino explica que, em casos mais graves, essa situação pode levar à morte.
De acordo com a médica, os mecanismos de transpiração do corpo passam a falhar e o corpo passa a ter dificuldades de resfriar novamente, causando sérios danos aos órgãos, alternando até mesmo os níveis de consciência.
"É uma condição bem grave, que precisa ser prontamente tratada. A pessoa precisa ser atendida, mas até o momento desse atendimento ela precisa, se possível, ingerir líquidos mais gelados, ficar na sombra. A insolação acontece quando a pessoa fica exposta ao sol, a calor mais intenso, durante um tempo prolongado. Por isso é importante preferir assentos na sombra, apesar de ser algo difícil de se conseguir em certas ocasiões", falou a médica.
"É importante mencionar a insolação porque é uma condição bem grave e pode até matar. Ela tem que ser prontamente abordada. O paciente precisa ser atendido por um médico", completou.
Cuidados com a alimentação: Milena Marcolino ressaltou outros pontos que podem apresentar riscos aos torcedores.
Segundo ela, as temperaturas que podem chegar a 45ºC nas próximas duas semanas, podem causar queimaduras na pele e aumentam o risco de ingestão de alimentos contaminados.
"É hábito dos torcedores consumirem alimentos em barraquinhas em torno do estádio, de alimentos que ficam expostos horas no calor, e podem levar a intoxicações alimentares", apontou a pós-graduada em Medicina do Esporte e Exercício.
Segundo Milena, a hidratação não deve acontecer somente quando se sentir sede.
Esta deve ser constante.
Ele ainda ressaltou que certos alimentos apresentam um risco maior de contaminação e devem ser evitados.
"Beber água, água de coco, chás ou sucos naturais, sem esperar sentir sede para se hidratar. Aplicar protetor solar antes de se expor ao sol e reaplicar a cada 2 horas. Não consumir alimentos de procedência desconhecida ou, caso vá consumir alimentos, preferir comer antes do início do jogo, evitando ia ingestão de alimentos proteicos que ficaram expostos ao calor durante muitas horas. Tomar muito cuidado com molhos e maioneses, que com frequência são fontes de intoxicação", disse a médica.
Cuidados com crianças e idosos: Milena explicou que é muito importante manter os cuidados quando se trata de crianças e idosos, públicos mais vulneráveis ao calor, mas que muitas vezes vão aos estádios acompanhar o time de coração.
"As crianças têm maior risco de desidratação, e quanto menor a criança, maior o risco, pois crianças mais novas têm superfície corpórea proporcionalmente maior que os adultos, aumentando a perda hídrica proporcional. Os adultos devem oferecer líquidos às crianças frequentemente durante a partida, e não deixar as crianças expostas ao sol sem proteção e em horários de pico de incidência de raios solares, entre às 10 horas e 16 horas", explicou.
Julia seguiu a mesma linha, ressaltando a importância de proteger as crianças do sol, mas para a médica, o melhor a se fazer nesses casos é não levar crianças em ambientes como estádios ou outros onde haverá incidência direta do sol ou aglomerações muito grandes.
"O ideal é não levar as crianças para o estádio em momentos de calor muito intenso. Elas têm mais riscos de desidratação, são menores, então o ideal é evitar a exposição dos pequenos em ambientes muito cheios e quentes. Elas correm mais riscos que os adultos. Se for levar, é importante manter a criança sempre hidratada e tentar procurar locais nos estádios, setores de arquibancada, que não fiquem tão cheios, que tenham uma boa ventilação e sejam mais tranquilos", disse Julia.
Para os idosos, as recomendações seguem a mesma linha das crianças, incluindo a de evitar expô-los a ambientes muito quentes e aglomerados, em especial os que possuem comorbidades, como por exemplo pressão alta, diabetes.
"Se o idoso estiver bem, for saudável, e não abrir mão de ver o futebol, é importante seguir as mesmas recomendações para adultos e crianças. Hidratação, água, proteção para o sol, evitar ficar muito tempo no sol, em filas. No mais, é importante evitar essas aglomerações em dias de calor extremo pelos fatores de risco", alertou Paes.
Para Marcolino, a atenção com a hidratação dos idosos deve ser redobrada, pelo fato destes desidratarem mais facilmente, porque têm menor reserva hídrica e menor sensação de sede.
"Eles têm alteração no centro de regulação da sede, que se torna ineficiente, de forma que a percepção de sede é muito menor. Então mesmo desidratados, eles podem não sentir vontade de beber água", explicou a professora da UFMG.
O consumo de bebidas alcoólicas é perigoso em dias de calor extremo?
A resposta de Julia Paes, para a tristeza de muitos apreciadores daquela cervejinha gelada, é sim.
A médica explica que diminuir o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja, é importante.
"Todo álcool estimula fazer xixi, o que resulta na perda de água. Se for beber, tomar mais água ainda. É importante não ficar só na cervejinha e beber bastante água. O equilíbrio é tudo", alertou Paes.
Milena Marcolino seguiu a mesma linha e sugeriu um controle maior no consumo de álcool e, para quem for beber, uma maior preocupação com a hidratação.
"Nestes dias tão quentes, o ideal é evitar ou pelo menos maneirar nas bebidas alcoólicas, já que elas têm ação diurética. Dessa forma, além da perda de líquidos pelo suor, há perda aumentada na urina. Se a pessoa consumir bebida alcoólica, deve redobrar os cuidados com a hidratação", apontou Marcolino.
Caso se sinta mal pelo calor, o que o torcedor deve fazer?
Milena Marcolino também apontou o que os torcedores devem fazer se passarem mal devido às altas temperaturas.
"Se o torcedor estiver tolerando a situação, a medida inicial mais importante é ingerir líquido imediatamente. Se estiver apresentando vômitos ou tonteira importante, o melhor é chamar por ajuda. Nesses casos, é importante a avaliação por profissional de saúde, pois pode ser necessária hidratação venosa", apontou a médica especialista em Clínica Médica e Cardiologia.
Como o poder público e as administradoras de estádios podem atuar durante a onda de calor?
Perguntada sobre as ações mais rápidas, que não exijam mudanças estruturais muitos grandes nos estádios, que o poder público e as administradoras de arenas podem tomar para minimizar os riscos dos espectadores, Julia Paes apontou que a instalação de áreas/estruturas de proteção, como tendas, nas filas de entrada podem ser importantíssimas para evitar a exposição direta ao sol.
Ela também apontou outros caminhos.
"Fornecer fácil acesso a água, tanto nas filas quanto no próprio estádio. Talvez uma fila mais rápida para esse acesso se for vender ou quem sabe até fornecer, gratuitamente, água, com mais bebedouros para as pessoas conseguirem se hidratar melhor. Se for viável, serem instalados ventiladores climatizadores em locais mais críticos, como as filas para entrada nos estádios", disse a médica de atenção primária.
Pensando a longo prazo, Julia afirmou que um passo importante para um país quente como o Brasil são reformas nos estádios que ofereçam uma melhor refrigeração e ventilação nos estádios.
Para Milena Marcolino, é essencial o fornecimento de água potável nos estádios, e que o ideal seria que as partidas fossem remarcadas para horários onde o sol já não incidirá diretamente sobre os estádios.
"Seria muito importante facilitar o acesso da torcida à água potável, com possibilidade das pessoas levarem uma garrafinha de água para encher no estádio. Idealmente, durante essas semanas com temperatura intensamente quente, seria melhor evitar agendamento de jogos em horários com incidência de sol, por exemplo, ao invés de 16 horas, agendar para 18 horas", apontou.
O que os jogadores podem fazer para se proteger das altas temperaturas?
As altas temperaturas causadas pela onda de calor também são perigosas para os jogadores de futebol. Pós-graduada em Medicina do Esporte e Exercício, Milena Marcolino explica que os atletas podem perder até três litros de suor durante uma partida e a desidratação nesses atletas tem várias consequências negativas.
Segundo ela, evidências apontam que uma perda acima de 2% do peso corporal já esteja associada a queda de performance.
"(A desidratação) Pode reduzir a performance física e cognitiva, acelerar o consumo de glicogênio, aumentar fadiga e a ocorrência de cãibras, dor de cabeça, tonturas e em casos mais graves, hipertermia, quando a temperatura do corpo sobe muito, podendo levar a problemas sérios nos órgãos, e inclusive levar à morte", alertou a médica.
Segundo ela, é necessário que os jogadores se hidratem bem, dentro de um planejamento de ingestão de líquidos, que deve ser personalizado e iniciado com uma hidratação adequada antes da partida.
"Em algumas partidas, quando está muito quente, há uma pausa para ingestão de líquidos. De qualquer forma, o trato digestivo não consegue tolerar o volume de líquido que seria necessário durante a partida. Dessa forma, a reposição das perdas de água e eletrólitos no período após a partida é fundamental no processo de recuperação, e é essencial garantir a ingestão adequada de líquidos entre treinos ou partidas de futebol realizadas em dias sucessivos quando o clima está quente. Recomenda-se repor 150% da perda de suor, com líquidos contendo carboidrato e sódio. Se a hidratação não for adequada, aumenta o risco de desidratação mais séria na partida seguinte", explicou Milena.
Reportagem: Trivela.com.br
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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