Atletas brasileiros retidos no Sudão pegam a estrada para tentar escapar do país em guerra.
Mais de uma semana após o início dos conflitos no país africano, o ônibus do time Al-Merrikh chegou para ajudar na retirada dos nove brasileiros que defendem a equipe.
O Fantástico conversou com alguns deles.
Mais de uma semana após o início dos conflitos no Sudão, o ônibus do time Al-Merrikh chegou para ajudar na retirada dos nove brasileiros que defendem a equipe, quatro jogadores e cinco membros da comissão técnica.
Eles deixaram a capital Cartum neste domingo (23) em direção à fronteira com o Egito.
Por mensagem de áudio, o técnico Heron Ferreira relatou ao Fantástico o início dessa jornada.
“Uma tensão muito grande. Muito grande mesmo. Passamos numa barreira ali, os soldados mandaram descer todo mundo do ônibus. A gente vai viajar a noite toda, a madrugada toda, para que, às oito horas da manhã, a gente esteja na divisa, na fronteira do Sudão com o Egito”, relata o técnico.
A reportagem também falou com o atacante Paulo Sérgio.
"Não tivemos em nenhum momento ajuda do Itamaraty, só para deixar bem claro; em nenhum momento. Sempre ficaram de ‘estamos com as outras embaixadas, estamos conversando’, enfim, e não resolveram nada", diz o jogador.
Por nota, o Itamaraty afirmou que "segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível" e que 15 dos 16 brasileiros que estavam em Cartum já deixaram a capital, incluindo três crianças que saíram em um comboio da ONU.
A nota diz ainda que "o governo brasileiro chegou a viabilizar evacuação mais ampla em coordenação com a ONU (Organização das Nações Unidas) e com países europeus, que não pôde ser concretizada por questões de deslocamento e segurança".
Time de futebol sudanês aluga ônibus para retirada de jogadores brasileiros que estão na capital do país.
Brasileiros reclamam da assistência prestada pelo governo brasileiro.
Itamaraty disse que registrou a presença de 16 brasileiros na capital do Sudão.
15 já deixaram a região conflagrada.
Ao menos 10 brasileiros, cinco deles cariocas, que fazem parte do Al-Merreikh, time de futebol sudanês, começaram a deixar a capital Cartum, no começou da tarde deste domingo (23) em um ônibus alugado.
Eles afirmam que o Itamaraty não deu nenhum suporte para que os cidadãos brasileiros deixassem a região que vive um conflito desde o último dia 15 de março.
Segundo os brasileiros, foi o time de futebol que alugou o ônibus, que os levarão até a divisa com o Egito.
O Itamaraty , por sua vez, disse que registrou a presença de 16 brasileiros na capital do Sudão e que 15 já deixaram a região conflagrada.
(Veja mais sobre o posicionamento do Itamaraty abaixo)
Os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF) concordaram com uma trégua de 72 horas em confrontos armados no Sudão por razões humanitárias, nesta sexta-feira (21).
A suspensão dos conflitos começou às 6 horas do horário local (1 horas em Brasília) deste sábado (22).
O ex-jogador do Flamengo Paulo Sérgio está entre os atletas que deixaram o país.
Mais cedo, antes de embarcar, ele criticou a postura do governo brasileiro na tratativa de retirar os cidadãos brasileiros do país africano.
"Não foi o governo brasileiro que conseguiu o ônibus que vai levar a gente para uma cidade afastada daqui, onde iremos dormir e viajar para o Egito amanhã. Esse ônibus foi fretado pelo clube. O governo brasileiro foi omisso", destacou.
No momento em que o grupo embarcava no ônibus, um grupo de rebeldes cruzou com os brasileiros.
No Brasil, a mulher de Paulo Sérgio, a empresária Blanca Bullos, destacou que "é um alívio" saber que o marido e os outros colegas de time deixaram a capital sudanesa.
No entanto, ela criticou a postura da diplomacia brasileira na tratativa para retirá-los do país.
"É um alívio saber que eles estão saindo de lá. Mas, é um absurdo como foi tratado tudo isso. É uma falta de respeito e uma incompetência do governo brasileiro. Eles deixaram lá a própria representante do país. Um representante das Relações Exteriores mandou um áudio para os meninos para que eles cuidassem da funcionária. É muito absurdo tudo isso", disse Blanca.
O grupo de jogadores brasileiros viajarão por cerca de 24 horas até a fronteira com o Egito.
Eles devem chegar ao local na tarde desta segunda-feira (23).
Paulo Sérgio deverá voltar para o Brasil durante os próximos dias.
Ele, nascido e criado no Tavares Bastos, mora em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
O que diz o Itamaraty: O G1 questionou o Itamaraty sobre as criticas dos brasileiros em relação à assistência do Governo do Brasil.
No entanto, o órgão não respondeu sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
Apesar disso, o órgão enviou uma nota em que diz que "o governo brasileiro segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível".
Ainda de acordo com o comunicado, "estabeleceu-se como prioritária a retirada dos brasileiros que se encontravam na capital, Cartum, onde houve grande parte dos conflitos nos últimos dias".
O Ministério das Relações Exteriores afirmou na tarde deste domingo (23) que registrou a presença de 16 brasileiros na capital do Sudão.
Desse total, 15 já deixaram a cidade nas últimas horas. De acordo com o governo brasileiro, entre elas 3 crianças que saíram da cidade "em companhia do pai, em comboio da ONU para o leste do país".
Segundo o governo brasileiro, "resta um cidadão na capital, que se presumia poder ser evacuado esta manhã, o que acabou não sendo possível.
Encontra-se em segurança e aguardando orientações".
O Itamaraty sustenta que "o governo brasileiro chegou a viabilizar evacuação mais ampla em coordenação com a ONU e com países europeus, que não pôde ser concretizada por questões de deslocamento e segurança".
Por fim, o comunicado diz que "o Brasil permanece em estreito contato com a ONU e com outros governos com nacionais no Sudão e continua a monitorar a situação dos demais brasileiros no país, que por estarem em localidades não conflagradas, estão em situação de menor risco relativo".
O conflito: Iniciados no sábado (15), os combates na capital do Sudão, Cartum, e nas cidades vizinhas de Omdurman e Bahri são os piores em décadas.
Especialistas temem que o conflito divida o país entre as duas facções militares que compartilharam a liderança sudanesa durante a transição política nos últimos anos.
Estes grupos são:
O exército, liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, que é comandante das forças armada.
Um grupo paramilitar, comandado pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, que é chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF).
Em 2021, as duas facções, então aliadas, orquestraram um golpe militar no país, que passava por um período de instabilidade desde 2019, quando o então líder do país, Omar Bashir, foi destituído do poder após protestos generalizados.
Com isso, al-Burhan passou a liderar um conselho de governo e Dagalo, conhecido como Hemedti, se tornou seu vice.
No entanto, desde então, diversos atritos surgiram entre os grupos, principalmente quanto à integração da RSF nas forças armadas e na futura cadeia de comando.
Além disso, as facções divergem acerca do apoio a partidos políticos e a grupos pró-democracia.
Quando os combates começaram em 15 de abril, ambos os lados culparam o outro por provocar a violência.
O exército acusou a RSF de mobilização ilegal nos dias anteriores, e a RSF disse que o exército tentou tomar o poder total em uma conspiração com partidários de Bashir.
Reportagem: G1.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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