quarta-feira, 22 de março de 2023

Libra: repartiria o dinheiro

Como a Libra propõe repartir dinheiro da liga entre clubes?


 Veja planilha com simulações.

Bloco defende equilíbrio das cotas de maneira gradativa, com proteção a Corinthians e Flamengo em pior cenário e melhor distribuição à medida que Campeonato Brasileiro gerar mais receitas.

Na discussão sobre a fundação da liga de clubes, dirigentes da Libra discordam do Forte Futebol em relação à distribuição dos direitos de transmissão entre os clubes. 

Enquanto o discurso do Forte é de equilíbrio imediato entre as cotas de televisão já a partir de 2025, a Libra propõe um equilíbrio que cresce gradativamente, durante o que chama de período de transição.

Essa transição obedece a dois fatores: um período de cinco anos, ou à medida que as receitas comerciais e de transmissão do Campeonato Brasileiro aumentem. 

Hoje, elas estão próximas de R$ 2 bilhões por ano.

Como funcionaria na prática a distribuição entre clubes? 

O Globo Esporte obteve com exclusividade a planilha formulada pela Libra, na qual os dirigentes fazem a simulação de como ficaria a divisão do dinheiro a partir de 2025.

A métrica mais usada para medir o equilíbrio entre as cotas está na discrepância entre primeiro e último, ou seja, quem mais e menos recebe. 

De acordo com cálculos da Libra, hoje essa diferença está em 6 vezes. 

A nova diferença dependeria da receita total do torneio.

Receita Diferença

R$ 2 bilhões 4,72

R$ 2,5 bilhões 3,85

R$ 3 bilhões 3,85

R$ 3,5 bilhões 3,59

R$ 4 bilhões 3,34

R$ 4,5 bilhões 3,34

R$ 5 bilhões 3,34

Fonte: Libra

Para fazer a simulação, a Libra assumiu algumas premissas, como as audiências registradas pelas transmissões em 2021 e as posições na tabela do Brasileirão nos últimos anos. 

Ambos os fatores são decisivos em relação ao montante que cada clube receberia por meio da liga.

A tabela se lê assim: caso o campeonato renda R$ 2 bilhões, o Flamengo ficaria com R$ 236 milhões, o Corinthians, com R$ 194 milhões, assim sucessivamente. 

Cenários mudam conforme a verba aumenta.

Na prática, todos os valores são variáveis e dependerão de outros fatores. 

Botafogo e Santos receberiam valores próximos dos R$ 80 milhões, por exemplo, mas podem elevar a participação sobre o total desde que consigam audiências maiores e/ou posições mais altas na tabela.

Receita (em R$) 2 bilhões    2,5 bilhões 3 bilhões 3,5 bilhões 4 bilhões

Flamengo-RJ                  236        249             299      338             375

Corinthians-SP          194        219              263      300             334

São Paulo-SP                  143        185              222      255             287

Palmeiras-SP                  138        178              214      246             277

Fluminense-RJ          122        158              189       219             249

Internacional-RS          111        144              172       201             229

Vasco-RJ                          107        138              166       193             221

Grêmio-RS                  104        134              161       188             215

Atlético-MG                    97        126              151       177             203

Athletico-PR                   93        120              144       169             194

Cruzeiro-MG                   89        115              138       162             187

Santos-SP                   86        112              134        157             181

Botafogo-RJ                   77        100              120        141             164

Bahia-BA                           73          94              113        134             156

América-MG                   68          88              105        125             146

Fortaleza-CE                   60         78                93        112             131

Goiás-GO                   52         67                81         98             115

Coritiba-PR                      51         65                79         95             113

Red Bull Bragantino-SP 50        65                78         95             113

Cuiabá-MT                 50        65                78         94             112

Diferença Primeiro Lugar e Vigésimo Lugar 4,72  3,85 3,85   3,593,34

Fonte: Libra

A visão da Libra: Dirigentes da Libra decidiram abrir esses números por algumas razões. 

Em primeiro lugar, porque seus antagonistas, no Forte Futebol, acusavam o bloco de não ter trabalhado com profundidade em planilhas.

Depois, e ainda mais importante, porque hoje a disputa entre os dois grupos de cartolas está sendo travada na esfera da opinião pública.

Enquanto o Forte Futebol adotou um discurso de equilíbrio imediato, a Libra vinha sendo tachada de defensora dos privilégios de Corinthians e Flamengo, que têm hoje as maiores cotas de transmissão.

Com a abertura das planilhas, a Libra pretende demonstrar que seu modelo também busca o equilíbrio dos valores da televisão, porém de maneira gradativa. Seus membros entendem que o período de transição foi condição para que os maiores clubes participassem da liga.

A intenção desses dirigentes é mostrar que, conforme o faturamento do Campeonato Brasileiro crescer, Corinthians e Flamengo serão os clubes que menos se beneficiarão do aumento, enquanto os demais repartirão os ganhos.

Outro argumento é o de que a Espanha, referência no assunto, também adotou regra de transição, quando decidiu rever a distribuição do dinheiro da televisão. 

A liga espanhola estabeleceu que Barcelona e Real Madrid não teriam suas partes reduzidas num período de seis anos, caso a receita do Campeonato Espanhol fosse menor do que em 2014/2015.

No caso da Espanha, a "cláusula de proteção" da dupla nunca precisou ser acionada, pois os valores arrecadados por meio do novo modelo, coletivo, cresceram imediatamente após a reformulação.

Cuidados com os números: Além da ressalva de que as receitas são variáveis, a depender de audiências e posições na tabela de cada clube em cada ano, é importante ter em mente que outros fatores deverão influenciar os valores finais.

A Libra concorda com o repasse de 15% do faturamento da liga para a Série B. 

Logo, para que os valores individuais da tabela acima sejam cumpridos, a receita da liga precisará ser ainda maior.

Também existe a possibilidade de vender parte do negócio para investidores, o que vem sendo colocado como condição para a fundação da liga. 

A Libra defende acordo com o fundo árabe Mubadala, enquanto o Forte Futebol avança com o americano Serengeti. 

Qualquer que seja o sócio, ele deverá ficar com 20% das receitas do campeonato no futuro.

É por isso que, na simulação, a diferença relativa entre cada clube é mais importante do que a cifra propriamente dita, uma vez que o cálculo final deverá levar em consideração os percentuais da Série B e do investidor.

Quem é quem:

São membros da Libra: Bahia-BA, Botafogo-RJ, Corinthians-SP, Cruzeiro-MG, Flamengo-RJ, Grêmio-RS, Guarani-SP, Ituano-SP, Mirassol-SP, Novorizontino-SP, Palmeiras-SP, Ponte Preta-SP, Red Bull Bragantino-SP, Sampaio Corrêa-MA, Santos-SP, São Paulo-SP, Vasco-RJ e Vitória-BA.

São membros do Forte: ABC-RN, Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí-SC, Brusque-SC, Chapecoense-SC, Coritiba-PR, Ceará-CE, Criciúma-SC, CRB-AL, CSA-AL, Cuiabá-MT, Figueirense-SC, Fluminense-RJ, Fortaleza-CE, Goiás-GO, Internacional-RS, Juventude-RS, Londrina-PR, Náutico-PE, Operário-PR, Sport-PE, Vila Nova-MG e Tombense-MG. 

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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