Como a Libra propõe repartir dinheiro da liga entre clubes?
Veja planilha com simulações.
Bloco defende equilíbrio das cotas de maneira gradativa, com proteção a Corinthians e Flamengo em pior cenário e melhor distribuição à medida que Campeonato Brasileiro gerar mais receitas.
Na discussão sobre a fundação da liga de clubes, dirigentes da Libra discordam do Forte Futebol em relação à distribuição dos direitos de transmissão entre os clubes.
Enquanto o discurso do Forte é de equilíbrio imediato entre as cotas de televisão já a partir de 2025, a Libra propõe um equilíbrio que cresce gradativamente, durante o que chama de período de transição.
Essa transição obedece a dois fatores: um período de cinco anos, ou à medida que as receitas comerciais e de transmissão do Campeonato Brasileiro aumentem.
Hoje, elas estão próximas de R$ 2 bilhões por ano.
Como funcionaria na prática a distribuição entre clubes?
O Globo Esporte obteve com exclusividade a planilha formulada pela Libra, na qual os dirigentes fazem a simulação de como ficaria a divisão do dinheiro a partir de 2025.
A métrica mais usada para medir o equilíbrio entre as cotas está na discrepância entre primeiro e último, ou seja, quem mais e menos recebe.
De acordo com cálculos da Libra, hoje essa diferença está em 6 vezes.
A nova diferença dependeria da receita total do torneio.
Receita Diferença
R$ 2 bilhões 4,72
R$ 2,5 bilhões 3,85
R$ 3 bilhões 3,85
R$ 3,5 bilhões 3,59
R$ 4 bilhões 3,34
R$ 4,5 bilhões 3,34
R$ 5 bilhões 3,34
Fonte: Libra
Para fazer a simulação, a Libra assumiu algumas premissas, como as audiências registradas pelas transmissões em 2021 e as posições na tabela do Brasileirão nos últimos anos.
Ambos os fatores são decisivos em relação ao montante que cada clube receberia por meio da liga.
A tabela se lê assim: caso o campeonato renda R$ 2 bilhões, o Flamengo ficaria com R$ 236 milhões, o Corinthians, com R$ 194 milhões, assim sucessivamente.
Cenários mudam conforme a verba aumenta.
Na prática, todos os valores são variáveis e dependerão de outros fatores.
Botafogo e Santos receberiam valores próximos dos R$ 80 milhões, por exemplo, mas podem elevar a participação sobre o total desde que consigam audiências maiores e/ou posições mais altas na tabela.
Receita (em R$) 2 bilhões 2,5 bilhões 3 bilhões 3,5 bilhões 4 bilhões
Flamengo-RJ 236 249 299 338 375
Corinthians-SP 194 219 263 300 334
São Paulo-SP 143 185 222 255 287
Palmeiras-SP 138 178 214 246 277
Fluminense-RJ 122 158 189 219 249
Internacional-RS 111 144 172 201 229
Vasco-RJ 107 138 166 193 221
Grêmio-RS 104 134 161 188 215
Atlético-MG 97 126 151 177 203
Athletico-PR 93 120 144 169 194
Cruzeiro-MG 89 115 138 162 187
Santos-SP 86 112 134 157 181
Botafogo-RJ 77 100 120 141 164
Bahia-BA 73 94 113 134 156
América-MG 68 88 105 125 146
Fortaleza-CE 60 78 93 112 131
Goiás-GO 52 67 81 98 115
Coritiba-PR 51 65 79 95 113
Red Bull Bragantino-SP 50 65 78 95 113
Cuiabá-MT 50 65 78 94 112
Diferença Primeiro Lugar e Vigésimo Lugar 4,72 3,85 3,85 3,593,34
Fonte: Libra
A visão da Libra: Dirigentes da Libra decidiram abrir esses números por algumas razões.
Em primeiro lugar, porque seus antagonistas, no Forte Futebol, acusavam o bloco de não ter trabalhado com profundidade em planilhas.
Depois, e ainda mais importante, porque hoje a disputa entre os dois grupos de cartolas está sendo travada na esfera da opinião pública.
Enquanto o Forte Futebol adotou um discurso de equilíbrio imediato, a Libra vinha sendo tachada de defensora dos privilégios de Corinthians e Flamengo, que têm hoje as maiores cotas de transmissão.
Com a abertura das planilhas, a Libra pretende demonstrar que seu modelo também busca o equilíbrio dos valores da televisão, porém de maneira gradativa. Seus membros entendem que o período de transição foi condição para que os maiores clubes participassem da liga.
A intenção desses dirigentes é mostrar que, conforme o faturamento do Campeonato Brasileiro crescer, Corinthians e Flamengo serão os clubes que menos se beneficiarão do aumento, enquanto os demais repartirão os ganhos.
Outro argumento é o de que a Espanha, referência no assunto, também adotou regra de transição, quando decidiu rever a distribuição do dinheiro da televisão.
A liga espanhola estabeleceu que Barcelona e Real Madrid não teriam suas partes reduzidas num período de seis anos, caso a receita do Campeonato Espanhol fosse menor do que em 2014/2015.
No caso da Espanha, a "cláusula de proteção" da dupla nunca precisou ser acionada, pois os valores arrecadados por meio do novo modelo, coletivo, cresceram imediatamente após a reformulação.
Cuidados com os números: Além da ressalva de que as receitas são variáveis, a depender de audiências e posições na tabela de cada clube em cada ano, é importante ter em mente que outros fatores deverão influenciar os valores finais.
A Libra concorda com o repasse de 15% do faturamento da liga para a Série B.
Logo, para que os valores individuais da tabela acima sejam cumpridos, a receita da liga precisará ser ainda maior.
Também existe a possibilidade de vender parte do negócio para investidores, o que vem sendo colocado como condição para a fundação da liga.
A Libra defende acordo com o fundo árabe Mubadala, enquanto o Forte Futebol avança com o americano Serengeti.
Qualquer que seja o sócio, ele deverá ficar com 20% das receitas do campeonato no futuro.
É por isso que, na simulação, a diferença relativa entre cada clube é mais importante do que a cifra propriamente dita, uma vez que o cálculo final deverá levar em consideração os percentuais da Série B e do investidor.
Quem é quem:
São membros da Libra: Bahia-BA, Botafogo-RJ, Corinthians-SP, Cruzeiro-MG, Flamengo-RJ, Grêmio-RS, Guarani-SP, Ituano-SP, Mirassol-SP, Novorizontino-SP, Palmeiras-SP, Ponte Preta-SP, Red Bull Bragantino-SP, Sampaio Corrêa-MA, Santos-SP, São Paulo-SP, Vasco-RJ e Vitória-BA.
São membros do Forte: ABC-RN, Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí-SC, Brusque-SC, Chapecoense-SC, Coritiba-PR, Ceará-CE, Criciúma-SC, CRB-AL, CSA-AL, Cuiabá-MT, Figueirense-SC, Fluminense-RJ, Fortaleza-CE, Goiás-GO, Internacional-RS, Juventude-RS, Londrina-PR, Náutico-PE, Operário-PR, Sport-PE, Vila Nova-MG e Tombense-MG.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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