Técnico da Bolívia leva base do pré-olímpico e planeja 60 dias para duelo com o Brasil.
Com futebol de clubes parado, César Farías estima 18 convocados da disputa de janeiro entre os 40 que vão iniciar preparação nos próximos dias: “Recuperamos a esperança”.
Remarcado por duas vezes e com mudanças de local para a estreia, Brasil e Bolívia têm encontro previsto para 9 de outubro, no estádio do Corinthians, pela rodada inicial das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022.
Se não bastasse a pandemia que causou tantas mortes pelo mundo e paralisou o futebol, a Bolívia vive situação ainda mais complicada.
O técnico venezuelano César Farías, comandante da La Verde desde agosto do ano passado, planeja para os próximos dias, no máximo até o fim da próxima semana, reunir cerca de 40 jogadores para iniciar treinamento de olho no jogo com o Brasil, de outubro.
Vai tirar do papel as ideias arquivadas depois de cinco meses de paralisação do futebol boliviano.
E não apenas por causa da pandemia.
Em novembro do ano passado, o país entrou em convulsão social com a deposição do presidente Evo Morales.
Na última semana, morreu Cesar Salinas, presidente da Federação Boliviana de Futebol, vítima de coronavírus.
Amigo que o conduziu à primeira passagem, de forma interina, na seleção boliviana em 2018.
Os dois acontecimentos impediram amistosos de fim de ano e atrasaram a organização do futebol local.
Farías, de 47 anos, de passagem marcante pela seleção de seu país, foi com ele que a Venezuela venceu o Brasil pela primeira vez na história (amistoso em 2008), obteve a melhor classificação na Copa América (quarta colocada em 2011, na Argentina, sendo superada nas semifinais nos pênaltis pelo Paraguai) e classificou pela primeira vez para Mundial na base, comandou o time sub-23 que fez bom duelo com o Brasil de André Jardine, no Pré-Olímpico, em janeiro, terminou 5 a 3 para os brasileiros.
"No pré-olímpico o povo se apaixonou de novo pela seleção, recuperou sua esperança", comentou Farias, em entrevista por Skype ao globo esporte.
Dois times diferentes para enfrentar Brasil e Argentina
O treinador planeja levar até 20 jogadores que disputaram o Pré-Olímpico de cerca de 40 que vão iniciar a sessão de treinos em Santa Cruz de La Sierra.
A Bolívia foi eliminado por causa de um gol nos acréscimos do Peru, depois de abrir 2 a 0, caiu no saldo de gols, depois de vencer também o Uruguai (3 a 2) e perder para Brasil e Paraguai.
"Para março, quando terminou cancelada a partida contra o Brasil, fizemos a convocação de 42 jogadores. Nossa ideia era levar uma equipe ao Brasil e deixar outra inteira aqui na altitude. Eram condições totalmente distintas, com rivais distintos (tem a Argentina, na segunda rodada). Naquele momento convocamos 12 do pré-olímpico. Agora, para esta nova etapa seguramente serão muito mais. Cerca de 20, creio que serão 18", contou Farías.
O plano para as primeiras rodadas é impensável na realidade brasileira, mas é claro na cabeça de Farías.
Serão dois times diferentes para enfrentar Brasil, em São Paulo, e a Argentina, em La Paz.
Duas equipes titulares totalmente diferentes para jogar cada partida.
"Vamos trabalhar nessas duas frentes, com base nos parâmetros físicos que necessitamos. Levamos em conta a viagem da segunda partida. Aqui, estamos falando às vezes de 12 horas em trânsito entre ônibus, aviões, aeroportos… Um desgaste muito grande que um torcedor ou uma pessoa comum não se dá conta. Precisamos que os jogadores estejam descansados para jogar na altitude e com boa organização tática para jogar com atrevimento como visitante. Não vejo nenhum problema que a seleção sub-23 possa competir como visitante. Com qualquer seleção. Utilizar jogadores que atuam nos grandes da Bolívia, como Bolivar, The Strongest, Wilsterman. Em La Paz, a altitude torna tudo diferente", lembrou.
De luto pela morte de Cesar Salinas, que foi seu presidente no The Strongest, foram campeões em 2017, “com 18 recordes batidos”, contou, Farías reuniu seu corpo técnico na última sexta-feira (31).
A federação busca as últimas autorizações para para iniciarem os treinos. Com o futebol boliviano ainda parado, o treinador espera ter à sua disposição todo o grupo por dois meses até os jogos de outubro, com exceção, pelo menos por enquanto, dos jogadores do Jorge Wilsterman e de Bolívar, que estão envolvidos com a Taça Libertadores da América (com reinício marcado para setembro).
É uma forma de compensação em relação ao futebol brasileiro, que retornou em junho.
"Obviamente (o Brasil) leva essa vantagem. Mas se concentrarmos nos próximos dias vamos ter dois meses antes da competição. É certo que não vamos ter ritmo de competição, mas vamos ter algo que não vai ter o Brasil ou Argentina: vamos poder trabalhar juntos. O Brasil vai se reunir três, quatro dias antes do jogo. Nós podemos utilizar nosso jogo, nossa metodologia, isso nos permite porque quase todos jogadores jogam aqui. Isso se potencializa com a altitude, com o convencimento e o desejo que esses jogadores têm. Estamos há um tempo conversando com eles quase que diariamente através de um coaching. Estamos com expectativa tremenda apesar das dificuldades. As dificuldades e as diferenças sabemos que existem e respeitamos, mas são 90 minutos dentro do campo", lembrou.
Na quarentena, reunião com Dorival: A postura corajosa da equipe em campo é reflexo do estilo de vida de Farías.
Aos 20 anos, deixou a carreira de jogador para treinar times de base na Venezuela, passou pelo Cerro Porteño, pelo futebol mexicano e treinou na Índia (onde enfrentou Zico).
Disputou duas Eliminatórias, cinco Taças Libertadores da América e diversos torneios nacionais.
Nos anos 1990, depois de curso da Fifa no Rio de Janeiro, passou um mês na cidade e viu de perto o trabalho de Paulo Autuori, no Flamengo, e de Antônio Lopes, no Vasco.
Recentemente, viu no Maracanã a vitória do Flamengo em cima do Boavista na final da Taça Guanabara.
Voltava de Recife, depois de aprovar o local de treinos com vistas ao duelo com o Brasil pelas Eliminatórias.
Durante a quarentena se dedicou aos estudos, o que inclui curso de inglês avançado por Oxford, voltado para o futebol, e outros da Barça University, e também trocou experiências com um colega brasileiro.
"Tenho grande amigo no Brasil. O Dorival Silvestre (Dorival Junior). Estamos na comissão de estudos técnicos da Conmebol. Era do The Strongest quando enfrentamos o Santos e nossos times passaram para as oitavas de final, na ocasião. Há duas semanas fizemos uma conferência de comissões técnicas. Dividimos ideias, situações táticas, tenho muito apreço por ele", contou, com o desejo de um dia treinar no futebol brasileiro, “o melhor do mundo”.
O desafio de enfrentar Neymar e Messi nas primeiras rodadas das Eliminatórias não lhe assusta.
"Poucos treinadores do mundo tem a possibilidade de enfrentar a dois monstros da América do Sul, que são Brasil e Argentina, que tem Neymar e Messi. Sou homem de desafio, assim fiz minha carreira, ganhei experiência com isso. Tenho algo a favor, tenho muitas partidas de Eliminatórias, muitas partidas de seleção e tenho que planejar isso muito também", conta Farias, que soma quase 100 jogos entre jogos da seleção venezuelana e boliviana no currículo.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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