Rival no Amazonas, 3B doa elenco inteiro ao Iranduba sobreviver no Brasileiro: "Futebol é união".
Diante de grave crise financeira do Iranduba, que entra em campo pelo Brasileiro feminino em três dias, 3B emprestou 19 jogadoras ao rival, sendo que 17 estão regularizadas.
Sabe aquela máxima de que "nunca será só futebol"?
O esporte conta dia após dia relatos que salvam esse lema.
Mais uma prova que a premissa é verdadeira aconteceu nesta quarta-feira (26).
Com o Iranduba em crise financeira devido a falta de pagamento da VeganNation, patrocinador master, o clube, até esta quarta-feira (26), tinha só quatro atletas regularizadas à reestreia no Brasileiro feminino, dia 29 de agosto, contra o Vitória.
O drama era incontornável, mas a ajuda veio de onde esperava: o 3B, grande rival no Amazonas.
O presidente das Feras da Amazônia, Bosco Brasil Bindá, deixou de lado uma rixa de quase quatro anos com o diretor de futebol do Hulk, Lauro Tentardini, e resolveu emprestar sem custos, inclusive pagando salários, alimentação, estrutura e hospedagem, 100% do seu elenco ao seu rival, além de membros da comissão técnica e até roupeiro.
Em carta à imprensa, Bosco justificou sua atitude.
"O Futebol é a união de vários propósitos e sonhos. É nele que assistimos realizações e superações, ainda mais em um ano tão desafiador para o esporte brasileiro. Através disso, anunciamos que o 3B e o Iranduba estabeleceram uma parceria para o desenvolvimento do futebol feminino amazonense. Com a iniciativa, o 3B cederá seu elenco principal para o Iranduba disputar a Série A1 do Brasileiro. A parceria é uma contribuição para o futuro de futebol feminino no Brasil, permitindo a divulgação e prática da modalidade, bem como a união deste esporte movido a tantos desafios e obstáculos. O futebol é superação. O futebol é união". Bosco Brasil Bindá, presidente do 3B.
Bosco disse que essa parceria vinha sendo elaborada há um tempo, mas tinha o receio de não poder trazer as jogadoras de volta à Série A2 do Brasileiro, competição que o 3B disputa a partir do dia 25 de outubro, sete dias após o fim da primeira fase da Série A1 e, consequentemente, também do término de contrato de empréstimo ao Iranduba.
O que preocupava Bosco é que, de acordo com o Regulamento Geral de Competições da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), uma mesma jogadora não pode atuar por três clubes diferentes na mesma temporada, como consta no artigo 46.
Apesar desse caso não se enquadrar na parceria, Bosco só ficou tranquilo após receber o aval da CBF.
Com tudo acertado, Bosco oficializou o empréstimo de 19 jogadoras (todas do elenco), do treinador Paulo Galvão, que exercerá a função de auxiliar técnico, além de staff e estrutura como alojamento, centro de treinamento e alimentação.
As atletas, inclusive, já constam no BID (Boletim Informativo Diário - confira cada uma no final da reportagem) e podem estrear contra o Vitória.
"Nossa meta é não deixar o Iranduba-AM ser rebaixado. Pelo futebol amazonense, pela história do Iranduba, pela bela torcida do Hulk e pela minha passagem que tive lá", concluiu o "bom samaritano", que terá como única vantagem o fato de manter suas atletas em atividade até a reestreia na Série A2.
O 3B foi parceiro do Iranduba em seus anos áureos, inclusive quando o Verdão chegou na semifinal do Brasileiro feminino de 2017, até que, após um racha na diretoria, os clubes desfizeram a parceria, o que culminou na fundação do 3B Sport como clube independente.
A partir de então, os times viraram rivais, com direito a provocações públicas e três finais seguidas entre ambos no estadual feminino.
Iranduba reconhece ajuda: O diretor de futebol do Iranduba, Lauro Tentardini, reconheceu a ajuda do 3B.
Ele chegou a afirmar que passou a maior parte do período de paralisação em busca de parcerias, mas que não obteve sucesso.
O dirigente elogiou a força do novo elenco e, principalmente, a atitude de seu antigo rival.
"Eu não acho que essa ajuda ocorre por marketing e nem por patrocínio. Ele (Bosco) quer ajudar o futebol amazonense. Houve três clubes que quiseram representar o Iranduba, mas a CBF veta desde o ano passado que um clube jogue fora do seu mando de campo. Pensei em pegar jogadoras de outros clubes, mas a situação do Iranduba não tem dinheiro para trazer atletas enquanto não sair a decisão judicial da VeganNation. Aí eu pensei no 3B. Não teria custos de transferência, só do contrato no profissional", disse.
Questionado, inclusive, sobre como iria proceder em caso de classificação à segunda fase, visto que o vínculo das atletas emprestadas é somente até o término da primeira fase, ele descartou essa chance.
Para Lauro, apesar do elenco ser competitivo, a briga é contra o rebaixamento.
"O objetivo do Iranduba é escapar do rebaixamento e ter tempo para manter o projeto vivo. Se articular para conseguir patrocínios, ajustar as contas. Se acontecer do Iranduba classificar, é outra situação. Já nos atentamos para essa possibilidade. Sei que o grupo é qualificado, muito forte, mas o objetivo é fugir do rebaixamento. Não estamos pensando em classificação", finalizou.
Jogadoras emprestadas pelo 3B:
Goleiras: Yéssica Velásquez, Sol e Stefane
Laterais: Giselinha, Geovana e Natasha
Zagueiras: Petra Cabrera e Hilary Vergara
Volantes: Nath Pitbull, Dayane, Margareth, Thaizinha
Meias: Cinthia, Gabi e Mayara*
Atacantes: Brenda, Paulinha, Marília* e Luana Grabias
*Não foram inscritas pelo 3B no BID
O 3B foi parceiro do Iranduba em seus anos áureos, inclusive quando o Verdão chegou na semifinal do Brasileiro feminino de 2017, até que, após um racha na diretoria, os clubes desfizeram a parceria, o que culminou na fundação do 3B Sport como clube independente.
A partir de então, os times viraram rivais, com direito a provocações públicas.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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