Competir em Paris, adiar ou não a maternidade...
Medalhões têm dúvidas com Olimpíadas em 2021.
Arthur Zanetti, Fabiana Claudino, Maria Suelen Altheman e Nicholas Santos são alguns dos veteranos que reprogramaram a reta final da carreira em função do adiamento de Tóquio 2020.
Os Jogos de Tóquio, que estariam acontecendo agora até o próximo domingo (9 de agosto), seriam um marco na carreira de todos que ali competissem.
Mas para um grupo em especial, a competição em 2020 representaria uma guinada após uma vida inteira como atleta de elite.
Com o adiamento das Olimpíadas, que agora estão marcadas apara começar dia 23 de julho de 2021, planos de aposentadoria e de formar uma família foram postos em xeque.
Agora, os veteranos se questionam: vale a pena repensar o futuro?
Alguns dos maiores nomes do esporte brasileiro se dividem sobre que decisão tomar.
Tem quem veja o ciclo ampliado como um incentivo para esticar logo a carreira até Paris 2024, como o ginasta Arthur Zanetti.
E quem ainda não saiba se é melhor parar até antes de ir para Tóquio, ou acrescentar mais uma edição dos Jogos no currículo, como a bicampeã olímpica do vôlei, Fabiana.
Zanetti está à espera do primeiro filho.
Com um ouro e uma prata olímpica na carreira, o brasileiro ainda segue com chances de pódio em Tóquio.
Especialista nas argolas, um dos aparelhos mais cruéis da ginástica, ele planejava seguir por duas temporadas após o retorno do Japão.
Agora já pensa diferente.
"O que eu estava pensando comigo: vou competir as Olimpíadas de 2020 e vou continuar treinando mais uns dois anos. Vai depender muito da situação do meu corpo, da cabeça. E agora mudou para 2021. Aí eu vou segurar mais dois anos treinando. Já vai ser 2023. No ano seguinte já é Olimpíada! Aí eu parei pensei: “ eu acho que dá pra segurar mais um ciclo sim", disse, em entrevista ao repórter Felipe Brisolla.
"Talvez dependa muito do meu corpo, se eu estiver bem ainda, a cabeça com certeza vai estar boa, mas se meu corpo tiver acompanhando. Pode ser sim que eu vá trabalhar pra 2024. Não tem como eu me aposentar no ano pré-olímpico. Segura mais um ano aí".
Da ginástica para a natação, Nicholas Santos vislumbrava seguir nas grandes competições até o Mundial de Desportos Aquáticos de Fukuoka, agora remarcado para 2022.
Hoje quarentão, ele sabe que cada ano pesa um pouco mais para manter o nível físico, mas prefere focar no lado positivo.
Ele ganhou mais tempo para fazer a transição dos treinos dos 50 metros borboleta, prova em que foi medalhista mundial no ano passado, terceira edição seguida no pódio, para os 50 metros livre, prova em que focaria na busca por índice para os Jogos.
Com o privilégio de poder treinar numa piscina de 25 metros no prédio onde vive, Nicholas agora tem maior margem para afinar a técnica.
"Foi uma prova que nadei em 2008 nos Jogos e ganhei um folego para treinar mais. (...) Eu tive que refazer o planejamento. Tem o lado bom que eu ganhei essa janela para melhorar a parte técnica, mas estou com 40 anos e vou estar um ano mais velho. A primeira coisa que pensei foi cuidar mais da minha cabeça. Conversei com psicólogo, me aprofundei mais na questão de meditação e deixei em controle tudo o que podia. Horário de acordar, comer, voltar para casa".
"Eu não tinha controle sobre quando terminaria o lockdown. Isso estava causando ansiedade em muitos atletas, e ter uma rotina me ajudou muito, controlar alimentação. Consegui fazer a rotina diferente de um atleta de alta performance, mas me mantive entre 70 e 80% do que estou acostumado".
Maria Suelen Altheman, aproveitou a quarentena justamente para estruturar melhor a transição da carreira.
Formada em Educação Física, a judoca da categoria +78 quilos usou o tempo extra para fazer uma pós-graduação em marketing esportivo no sistema de ensino à distância.
Conseguiu refletir não só sobre o que fazer quando pendurar o quimono, mas também sobre como se preparar para tal.
"Eu queria disputar a Olimpíada, competir mais um ano e ser mãe. Com o adiamento da Olimpíada as coisas mudaram. Faço um trabalho com coach e me reprogramei muito rápido, a aceitação, aquilo de que “quem esperou quatro anos espera cinco”. Penso que foi um ganho de mais um ano para amadurecimento e que foi bom. A transição para o atleta é difícil. Foi bom porque vi que ainda precisava estudar e fazer algumas coisas antes de ser mãe".
Maria Suelen está com 31 anos e é um dos principais nomes da geração mais vitoriosa do judô feminino do Brasil, tendo dois vice-campeonatos mundiais.
Outras judocas da mesma faixa etária, como a campeã olímpica Sarah Menezes, também compartilham o sonho da maternidade pós Tóquio.
Esta não é uma exclusividade do judô.
No vôlei, a situação é ainda mais extrema. Tem bicampeã olímpica sem saber sequer se entra em quadra em Tóquio.
É o caso da central Fabiana, que segue com bola para disputar mais uma edição dos Jogos, mas que vive o dilema de postergar por mais um ano a tentativa de engravidar.
Em entrevista ao podcast “Ubuntu Esporte Clube”, ela revelou ainda ter dúvidas sobre que decisão tomar.
"Por mais que você tenha o sonho de ser mãe, você quer estar ali na quadra, você quer estar jogando. E aí chega uma hora que também chega a idade. Hoje, eu tenho 35 anos. Talvez adiar isso, para mim, para o meu corpo, para a minha saúde, não sei se seria o ideal. A cabeça vira um mix de várias coisas. Lógico, estamos falando de uma Olimpíada, e eu amo estar ali dentro da quadra. Ao mesmo tempo, já fui a quatro Olimpíadas e eu tenho o sonho enorme de ser mãe".
"Então, sempre veio esse pensamento: “Quero ser mãe”.
Aí passam alguns dias e eu penso: “Não, eu quero ir para a Olimpíada, eu quero tentar”.
“Não, quero ser mãe”.
Sempre vêm esses sentimentos, não tem como.
Vai e volta.
Mas ainda não posso dizer que eu tenho uma decisão concreta.
Estou deixando as coisas acontecerem, deixando até o finalzinho para tomar uma decisão.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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