quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Prejuízos para os eliminados

Sem calendário, times eliminados das Séries C e D acumulam prejuízos. 

Especialista sugere reformulação.

Clubes como Santa Cruz, Remo, Brasiliense, Campinense e Paraná Clube tiveram "férias forçadas" e só voltam a jogar em 2023.

Mais uma vez o calendário do futebol brasileiro entra em discussão. 

Eliminadas de forma precoce nas Séries C e D do Brasileirão, equipes de tradição e massa, que já foram campeãs nacionais, podem ficar até cinco meses sem entrar em campo.

Clubes como Santa Cruz, Remo, Brasiliense, Campinense e Paraná tiveram "férias forçadas" e alguns só voltam a jogar em 2023 nos campeonatos estaduais (veja situação de cada um abaixo). 

Mas, qual o real tamanho do prejuízo? 

O Globo Esporte ouviu especialistas em economia e direito do esporte para mostrar que o déficit financeiro vai muito além das quatro linhas.

Prejuízos além do futebol: O economista e comentarista da rádio CBN, Pedro Neves, aponta que os prejuízos com a falta de calendário são financeiros para os clubes e econômicos para a região. 

Ele afirma que as principais fontes de receitas das equipes ficam zeradas, mas os custos se mantém.

"Basicamente, esses times ficam afastados por meses e perdem até 80% da receita, que vem de patrocínio, de anunciantes, da renda da torcida e da venda de material esportivo", argumenta Pedro Neves.

Para o especialista, a ausência de jogos também impacta toda uma região e vai além do âmbito esportivo, já que os clubes populares movimentam uma cidade inteira durante as partidas.

"Empregos de transporte, restaurantes, hotelaria... São alguns dos setores econômicos afetados pela ausência de jogos. Além dos trabalhadores informais, que também são afetados pela falta de calendário".

Já para Alan Rodrigo, advogado especialista em direito desportivo e vice-presidente da comissão de direito desportivo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Caruaru, os prejuízos também são sociais.

"Os atletas ficam um período sem uma renda salarial, o que por sua vez acaba tendo uma repercussão social nas vidas dos atletas e de alguns funcionários de clubes, prejudicando a continuidade de trabalho, sua preparação física e, em muitos casos, desistindo do futebol e buscando trabalho em outras áreas".

Como melhorar?

Os especialistas também apontam possíveis soluções para sanar ou reduzir os prejuízos. 

Para Alan Rodrigo, a reformulação dos regulamentos poderia ser uma saída, principalmente para equipes de massa. 

Ele acredita que equipes como Santa Cruz e Remo, por exemplo, precisam de um calendário maior para ajudar na movimentação econômica.

"Se você tem mais jogos, significa que mais torcedores estarão no estádio, pagando ingresso, consumindo e gerando negócios. A Série D, ao invés de mata-mata, poderia ser por pontos corridos, o que traria mais investimentos para os clubes e mais tempo de contrato para atletas, além de trazer mais equidade para equipes mais regulares. Na parte social, com contratos mais extensos, atletas e funcionários teriam a possibilidade de se dedicar mais ao futebol".

O economista Pedro Neves acredita que pensar em novas fontes de renda também pode ser uma alternativa.

"A saída para os clubes nem sempre é fácil. Quem tem estádio ou Arena pode tentar usar o espaço para eventos, fazer fontes de receita em razão da ausência da principal atividade. A partir da nova legislação, que permite a criação da SAF, podem tentar trazer investidores para reestruturar os clubes e fomentar um crescimento, já que estamos falando de clubes de tradição e popularidade."

A criação de novos torneios e ligas também foi uma saída apontada. 

Mas, o advogado acredita que esse movimento não seria bem visto pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

"É uma alternativa viável, mas para isso os clubes interessados devem se organizar e elaborar uma proposta junto a CBF ou realizar uma liga própria, independente da CBF, que a depender da organização poderia conseguir mais investidores, mais atrativos e uma divisão melhor dos recursos para quem se encontra participando. Os torcedores também estariam mais atuantes durante o ano".

Santa Cruz-PE: Campeão da terceira divisão em 2013 e com 24 participações na Série A, o Santa Cruz caiu nas oitavas de final para o Tocantinópolis e vai amargar mais um ano no porão do futebol nacional, será a quinta vez, em um intervalo de 17 anos, que o clube disputará a competição. 

O Tricolor iniciou profunda reformulação no elenco vislumbrando o próximo ano e aguarda posicionamento da CBF sobre a pré-Copa do Nordeste, inclusive para chegar a um acerto com o novo treinador.

A seletiva do Regional, alternativa mais próxima para preencher o calendário coral, não tem data definida para acontecer e, nos bastidores, ventila-se a possibilidade de só ocorrer no início do próximo ano. 

Ou seja, caso se confirme, o Santa Cruz teria "férias forçadas" por, no mínimo, cinco meses.

Paraná Clube-PR: O Paraná Clube perdeu para o Pouso Alegre por 1 a 0, também nas oitavas de final, e ficará sem calendário nacional até 2024, fato inédito até então. 

Tendo apenas a Divisão de Acesso do Paranaense para disputar o ano que vem, o presidente do clube, Rubens Ferreira da Silva, revelou provável retorno da Copa Sul-Minas, principal aposta do mandatário para preencher o calendário da equipe.

Remo: O Remo é outro que entra no hall de equipes campeãs brasileiras que terão férias forçadas em 2022. 

Eliminado ainda na fase de grupos da terceira divisão para o Botafogo-SP, o clube paraense vive situação parecida à de Santa Cruz e Paraná Clube. 

Mas com um alívio grande: a confirmação do retorno da Copa Verde, cuja competição o Remo é o campeão mais recente, para este ano. 

O anúncio foi feito pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e pelo diretor de competições da entidade, Júlio Avellar.

Campinense-PB: Um ano depois de conquistar o acesso à Terceira Divisão, o Campinense voltará para a Série D em 2023, amargando a terceira queda de sua história e se igualando ao rival Treze. 

O time paraibano empatou em 1 a 1 com o Floresta na última rodada da fase de grupos da Série C.

Sem calendário previsto para o restante da atual temporada, a Raposa, campeã do Nordeste em 2013 e atual bicampeã do estado, só volta a entrar em campo no Campeonato Paraibano do próximo ano, está classificada para a fase de grupos da Copa do Nordeste.

Brasiliense-DF: Outro campeão nacional que ficou longe de garantir uma vaga na Série C foi o Brasiliense. Campeão da Série B em 2004 e da terceira divisão em 2002, o Jacaré ostentou bons números na primeira fase da Quarta Divisão, tendo a segunda melhor campanha, só atrás do Retrô. Porém, já no primeiro mata-mata, terminou eliminado pelo Nova Venécia. 

Agora, vai ficar no "limbo" até 2023, quando volta a jogar o Campeonato Brasiliense.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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