sábado, 9 de novembro de 2019

Sociedade e esporte: Três décadas da queda do Muro de Berlim

30 anos da queda do Muro de Berlim: o que aconteceu com os times da Alemanha Oriental.

GloboEsporte.com separa três equipes que ficam em cidades da antiga parte soviética do país: um estreante na Bundesliga, um ocupante da terceira divisão e um enorme sucesso de 10 anos.
Brasileiro Matheus Cunha, atacante do Red Bull Leipzig, comemora um gol diante do Hertha Berlim. (Foto: Globoesporte.globo.com)
Era noite do dia 9 de novembro de 1989, quando o governo da Alemanha Oriental avisou para a população que não havia mais a proibição de sair do país. 

Depois de 40 anos e uma grande pressão social, o Muro de Berlim finalmente foi derrubado e as fronteiras foram dissolvidas, gerando o mais icônico acontecimento do fim da União Soviética.

Esse processo levou à reunificação da Alemanha, antes dividida entre o lado capitalista (ocidental) e o lado comunista (oriental).

Além de toda a junção econômica e social que a incorporação da Alemanha Oriental na Alemanha Ocidental gerou, houve também a adaptação do futebol disputado nos dois países.

O GloboEsporte.com separou três times que estão ativos hoje em dia para tentar contar um pouco como andam os clubes que são baseados nas cidades da antiga parte alinha ao bloco soviético: Dynamo Berlin, Union Berlin e RB Leipzig.

É importante ressaltar que desde o fim da divisão entre as duas Alemanhas, apenas cinco clubes que participavam da Oberliga (campeonato da Alemanha Oriental) chegaram a fazer parte da Bundesliga.

O exemplo mais recente é o Union Berlin, que faz sua temporada de estreia na primeira divisão alemã.

Na atual edição, dois dos 18 times que participam do campeonato são de cidades que faziam parte do regime comunista.

A diferença na economia persiste até hoje e tem reflexos políticos também.

É justamente no leste da Alemanha que o partido de extrema-direita cresceu consideravelmente, conquistando um número considerável de cadeiras no parlamento.

Alguns números ilustram essa diferença:

Desemprego: 4,7% Alemanha Ocidental x 6,5% Alemanha Oriental

Tamanho do apartamento: 95m² Alemanha Ocidental x 78m² Alemanha Oriental

Famílias com pais casados: 75% Alemanha Ocidental x 54% Alemanha Oriental

Famílias composta apenas por pai ou mãe: 17,5% Alemanha Ocidental x 24,9% Alemanha Oriental

(Dados retirados do Alumniportal Deutschland referentes a novembro de 2018)

DYNAMO BERLIN, O DECACAMPEÃO SEGUIDO QUE ESTÁ NA QUARTA DIVISÃO

Maior campeão do Campeonato da Alemanha Oriental, com 10 títulos seguidos, o Dynamo Berlin hoje está na quarta divisão.

A queda do clube da capital foi direto da principal divisão da Alemanha comunista para a terceira do país reunificado e desde então nunca conseguiu voltar para o primeiro pelotão do futebol alemão, muito por causa da falta do grande patrono do clube: a polícia secreta alemã.

Fundado por uma elite comunista, a ideia do regime era que o clube fosse um bastião da excelência do futebol da Alemanha Oriental.

Os jogadores seriam heróis socialistas e o time era destinado a competir em nível europeu, aumentando o prestígio e confiança do país.

Para isso, o Dynamo Berlin teria, com o passar dos anos, acesso aos melhores jogadores, treinadores e centros de treinamento do país.

A ideia era justamente tornar o clube uma referência internacional em vez de promover a competição interna, algo comum nos países comunistas que desejavam sempre demonstrar a força e o orgulho soviético.

Os 10 títulos nacionais em sequência (entre 1978/1979 e 1987/1988), algumas com arbitragens comprovadamente corruptas que manipulavam resultados, sempre contaram com o apoio da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.

Os jogadores do Dynamo Berlin tinham treinamento político, eram monitorados pela Stasi e contatos com o ocidente eram proibidos.

Qualquer deserção de um jogador do país para o vizinho capitalista seria considerada uma grande perda para o regime.

Tanto que jogadores tinham os telefones grampeados e eram observados de perto por informantes do serviço de inteligência comunista.

Porém, o sonho de ser a maior potência da Alemanha Oriental foi apenas dentro do país.

Na Liga dos Campeões daquele período, o melhor resultado alcançado pelo Dynamo Berlin foram as quartas de finais nas temporadas 1979/1980 (quando foi eliminado pelo Nottingham Forest) e 1983/1984 (eliminado pela Roma).

Quando a Alemanha Oriental foi agregada pela Ocidental, o clube passou para a terceira divisão nacional, já sem a força comunista, e desde então não conseguiu se reerguer.

UNION BERLIN, O ESTREANTE PATINHO FEIO

Disputando pela primeira vez na história uma Bundesliga, o Union Berlin tem sofrido neste Campeonato Alemão.

Perto da zona de rebaixamento, o time que ficava na parte oriental da capital alemã durante o período da Cortina de Ferro, tem três vitórias e um empate em 10 jogos.

O triunfo mais recente foi no primeiro clássico na Bundesliga contra o Hertha Berlin, que durante a divisão esteve no lado capitalista, quando venceu por 1 a 0 em casa.

Durante o período da Guerra Fria, o Union viu o maior rival, Dynamo, ser o principal clube da sua metade da cidade, ajudado com o patrocínio da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental.

Com indas e vindas entre a primeira e segunda divisão do campeonato alemão oriental, a maior glória do clube naquele período foi a conquista da Copa da Alemanha Oriental, em 1968.

Quando veio a reunificação das Alemanhas, o Union Berlin quase fechou as portas mesmo com o sucesso dentro de campo.

O clube foi campeão duas vezes da terceira divisão alemã nos anos 90, mas não conseguiu a licença para disputar a segunda divisão por causa dos problemas financeiros que quase faliram o clube.

O sucesso veio na virada do milênio, quando conquistou novamente a terceira divisão, obteve a licença financeira e chegou a ser vice-campeão da Copa da Alemanha na temporada 2000/2001 com o brasileiro Daniel Teixeira no time.

A subida para a primeira divisão veio na última temporada, quando derrotou o Stuttgart nos playoffs pelo acesso.

O Union Berlin é o quinto time oriundo da antiga Alemanha Oriental, e o primeiro de Berlim Oriental, a chegar à Bundesliga.

RED BULL LEIPZIG, O MAIS CAPITALISTA

Se existem coisas que o dinheiro não compra, uma delas não é um clube de futebol.

Com grande aporte financeiro da Red Bull, empresa austríaca de bebidas energéticas que também dá apoio financeiro ao Bragantino aqui no Brasil, o Red Bull Leipzig existe há 10 anos e é um tremendo sucesso esportivo.

Fundado em maio de 2009, o clube do leste alemão foi subindo um degrau de cada vez, até que estreou na Bundesliga na temporada 2016/2017, terminando na segunda colocação.

Hoje está na terceira posição do Campeonato Alemão e lidera o Grupo G da Liga dos Campeões, com nove pontos em quatro jogos.

O fato de ser um clube que não tem as mesmas raízes populares que outros, o Red Bull Leipzig também é bastante criticado por ser um time voltado apenas ao marketing e que tem no poderio financeiro o único mérito.

Para se ter uma ideia, outros clubes da cidade de Leipzig e que já existiam durante o regime comunista naquela parte da Alemanha, se mostraram completamente contrários à ideia.

Justamente por ser encarado como um clube diferente dos demais, o Red Bull Leipzig convive com protestos das torcidas adversárias quando vai enfrentá-las fora de casa.

O próprio Union Berlin é um dos mais contundentes nessa aversão.

Em 2014, os torcedores chegaram a ficar em silêncio por 15 minutos durante a partida.

Dois anos depois, não havia ninguém para assistir à partida pelos primeiros sete minutos de jogo.

Por mais que parte da torcida alemã não goste da forma que o Red Bull Leipzig tenha sido fundado, é ele o clube de maior proeminência do leste alemão.

Com grandes jogadores como Timo Werner e também os brasileiros Matheus Cunha e Luan Cândido, o time que conta com um dos maiores aportes financeiros em uma antiga cidade comunista é quem tem o maior sucesso entre os times das cidades da antiga Alemanha Oriental.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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