quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

IA em Campo

Inteligência artificial já ajuda na detecção, escalação e contratação de jogadores.

No futebol, uso de IA dentro e fora de campo já é realidade em clubes brasileiros como Palmeiras e Atlético-MG, além de dar resultados no exterior para Sevilha, da Espanha, e Liverpool, da Inglaterra.

Onde você vê crianças brincando em um parque, a inteligência artificial já enxerga potenciais atletas olímpicos. 

Hoje, também é possível postar um vídeo simples nas redes sociais e ser chamado para um teste em um clube de futebol na Europa. 

E, muito em breve, qualquer esportista amador vai ter ao alcance dos dedos o que antes só era possível em um aparelho de consultório médico. 

Pode parecer ficção científica, mas tudo isso já é realidade.

Se a inteligência artificial está mesmo em todo lugar, claro que chegou também ao futebol. 

Em grandes clubes como o Palmeiras, a IA já está presente no dia-a-dia.

"A gente participa das preleções do Abel Ferreira. Então, a gente sabe o que nosso técnico pede pros nossos jogadores. E aí você começa a formar: “Ah, beleza, então esse lateral tem que ter esse movimento... Um zagueiro na construção tem que ter esse movimento”. Quando você pega esse monte de dado, você olha só para onde a gente tá construindo. Eu volto do treino e falo com os meninos: “Preciso saber isso aqui, triangulação no corredor, ver se fulano tocou pra ciclano e que velocidade que teve”. Aí eles fazem a mágica de fazer os cálculos e a gente apresenta pra ver se isso tá dando resultado ou não", explica Emerson Oki, head de ciência de dados do Palmeiras.

É trabalho integrado com a comissão técnica e também com o departamento de mercado.

"A gente começou a utilizar a IA pra parte generativa. Assim, todos os vídeos dos jogos são gravados e a partir desse vídeo a gente tem a posição de cada jogador. Mas infelizmente a câmera não pega o jogador todo o tempo, então a IA generativa gera a posição desses outros jogadores que não aparecem na câmera. Isso ajuda a gente a entender que formação que ele tá jogando, que posição que eles jogaram e alguns tipos de movimento que eles executam. A gente tá utilizando a IA generativa justamente pra isso. Outra aplicação interessante que a gente utiliza é justamente pra saber a expectativa, opções de passe que você tem para aquele jogador. Então a gente consegue saber pra cada jogada se tinha uma opção de passe melhor e a gente utiliza a IA pra isso também", completa Oki.

Outros grandes clubes também estão neste estágio.

"Existem várias instituições que já estão principalmente em fase de treinamento tanto da equipe quanto do dispositivo pra inclusão da IA na sua rotina de saúde e performance, assim como o Vasco já tem o sistema, já tem o software que está em fase de desenvolvimento pra poder usar no seu dia-a-dia", diz Rodrigo Sasson, médico do Vasco e do Comitê Olímpico do Brasil.

Mas a inteligência artificial não é usada apenas do departamento de futebol dos clubes. 

A tecnologia já faz parte de muitos outros processos, como nos negócios para além da bola rolando em campo. 

Em alguns casos, como do Atlético Mineiro, está diretamente ligada a quem fica aqui na arquibancada. 

Só é possível entrar na Arena, por exemplo, usando o aplicativo do clube. 

E, com os dados captados ali, o Atlético começou a entender melhor o comportamento dos torcedores.

"Dentro de modelo de IA que a gente gerou, a gente consegue ser muito específico pro torcedor. Então, você é sócio-torcedora, e está, por exemplo, há um mês pra vencer o seu plano, a gente já começa a te explicar: "olha, você foi nos últimos dez jogos na Arena, o Galo venceu sete, você é pé quente, daqui a um mês você tem que renovar. Vamos indicamos a renovação e podemos te dar um desconto", afirma Leandro Evangelista, diretor de tecnologia da informação da Arena MRV.

"Nesses poucos meses, pensando um pouco na utilização, perto de sete milhões de reais podemos dizer como recuperados. Ou que a gente conseguiu trazer ao caixa de algo que não se tinha antes", complementa Débora Saldanha, head de inovação do Atlético-MG.

Mais dinheiro no caixa, mais talento no campo. 

O Atlético Mineiro também utiliza inteligência artificial para pré-selecionar vídeos e assim fazer testes para a base do clube. 

Peneira digital, aliás, que já é uma realidade no futebol. 

Tem até empresa com capital suíço e tecnologia brasileira trabalhando exclusivamente com esse mercado.

"O Footbao foi criado por dois suíços apaixonados pelo futebol e eles identificaram o Brasil como principal mercado para lançar essa ideia, que tem como objetivo principal conectar jovens talentos do futebol do mundo inteiro com oportunidades, sejam em clubes, marcas e o próprio desenvolvimento desse talento. O aplicativo tem como missão democratizar o acesso desses talentos a oportunidades. Nosso aplicativo é um local onde um talento cria o seu repositório de vídeos de futebol, com todas as habilidades. Ele cadastra o perfil, idade, peso, altura e sobe diversos vídeos de participações em campeonatos e outras habilidades técnicas que ele tenha. A partir daí, nós temos uma equipe de analistas de desempenho e um algoritmo de inteligência artificial que identifica na nossa plataforma quem são os talentos mais relevantes para uma demanda específica de um clube", conta Mariana Sensini, diretora-geral da Footbao no Brasil.

"Por exemplo, essa parceria que a gente fez com o Lecce, da Itália. O diretor de esporte olhou todos os perfis que nós encontramos no app, que se inscreveram para essa seletiva na Itália e ele validou. Em alguns casos pediu mais vídeos. Mas eu acho que um pouquinho antes, na seleção, a gente quer garantir que todo mundo tenha oportunidade. Mas nessa prova final que é o campo é o clube que vai dizer", conclui.

A decisão final sempre é do humano, mas a ajuda da máquina é que torna a escolha mais rápida. 

Na Espanha, o Sevilla usa inteligência artificial na contratação de jogadores desde o ano passado. 

Tudo com base nos milhares de informes de “scout” que o clube acumulou nos últimos 10 anos.

"Os informes de “scout” são nada mais nada menos do que escritos, em espanhol, onde um analista descreve sua opinião sobre um determinado jogador. É a opinião subjetiva de um analista. Então, esse “scout advisor”, esse produto, se nutre deles. Como se nutre? O que fazemos é identificar jogadores com base em opinião. Eu posso buscar um tipo de jogador, como um atacante "tanque" ou de referência, e o que a IA generativa faz é entender a que me refiro quando falo em "atacante de referência". A IA generativa entende: um atacante alto, forte, vai bem com a cabeça, consegue sair da marcação... Neste momento, somos capazes de comparar a descrição do que eu estou buscando. Eu cruzo o resultado do enriquecimento da IA generativa com todos os informes de “scout” que eu tenho. De tal maneira que me identifica em que informe de “scout” aparecem as qualidades de jogadores que eu busco. Me permite identificar jogadores com base na opinião do informe de “scout”. essa ferramenta, o que faz, é gerar valor sobre conhecimento humano", explica Elías Zamora Chief Data Officer, ou seja, o executivo sênior que lidera a gestão de dados do Sevilha, da Espanha.

"Se você não tem uma ferramenta que te ajuda a fazer a busca com muita velocidade, você acaba perdendo oportunidades. No caso do Sevilla, são mais de 200 mil fichas de jogadores que eles tinham, então é humanamente quase impossível você consultar as 200 mil, mas o computador consegue fazer isso com IA", completa Joaquim Campos, vice-presidente de tecnologia da IBM, parceira do Palmeiras.

Outros gigantes da Europa também usam a tecnologia pra decisões de campo. 

O Liverpool, por exemplo, treina escanteios com base em um programa de computador. 

E 78% das decisões sugeridas pela IA acabam em gols.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

 

Adaptação: Eduardo Oliveira

 

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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