Você é contra ou a favor do fim dos estaduais?
Apenas a primeira divisão do Distrito Federal e dos 26 estaduais reúne 267 clubes, que em 1º de março deste ano contavam com 8.863 atletas contratados.
Dessas equipes, 190 só têm calendário profissional até junho.
Ou seja, para 71% dos times da elite dos estados, o ano de competições dura no máximo seis meses.
A consequência é que para muitos atletas, o futebol é apenas um bico, um trabalho entre outros, o que compromete o preparo físico, o desenvolvimento técnico e a qualidade dos jogos.
A cada mês, menos clubes têm compromissos oficiais na agenda, e mais jogadores ficam sem emprego.
Em parceria com o site Rede do Futebol, o GloboEsporte.com analisou o tempo de validade dos 8.863 contratos registrados na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em 1º de março e identificou que 3.863 (43,5%) eram temporários, com prazo de no máximo seis meses (até 180 dias).
Sem os estaduais, a situação seria ainda pior.
As Séries A, B, C e D do Brasileiro ganham visibilidade a cada ano, movimentando as maiores torcidas do país.
Porém, dos 267 clubes que disputam as primeiras divisões estaduais, apenas 123 (46%, menos da metade) participam desses campeonatos.
A Série D poderia ser uma alternativa para preencher o ano dos clubes, mas das 68 equipes que iniciam a competição em abril, só 32 seguem na disputa em junho e apenas oito (12%) ainda têm compromissos a cumprir em julho.
Na Série C, os moldes são semelhantes, com 12 clubes caindo na primeira fase do torneio, encerrada no início de agosto, restando oito na disputa pelo título.
De modo geral, as competições disputadas no sistema de mata-mata, que na reta final tendem a ser mais emocionantes, não ajudam a melhorar a situação.
Presidente da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), Felipe Augusto Leite criticou a situação do calendário brasileiro.
"Nós estamos preocupados. Quando chega em agosto, apenas 5% da categoria está em atividade. Dos 68 clubes da Série D, 36 caem no primeiro mês de disputa. O ideal seria estender a competição. A Série D aumentou o número de clubes, mas diminuiu o tempo de trabalho. Então, não resolveu o problema. Muito pelo contrário", afirma Leite.
Outra alternativa para os clubes é a Copa do Brasil.
Porém, 60 dos 80 clubes que fazem parte das fases iniciais são eliminados ainda em fevereiro, nas duas primeiras fases do torneio.
Em meados de abril, apenas dez deles (13%) ainda estão no campeonato.
Série C pode adotar pontos corridos em 2019
Embora a Fenapaf defenda que o ideal seria estender o calendário de competições para que os clubes tenham atividade profissional por um período maior na temporada, a diretoria de competições da CBF informou que haveria problemas de planejamento caso as primeiras fases fossem alongadas.
A federação dos atletas informou ter enviado um ofício à CBF para que a Série C fosse feita nos moldes das Séries A e B, até o final de novembro.
Questionada, a diretoria de competições da CBF disse que analisa o ofício e que pode ser implementado na próxima temporada.
"Para 2018, toda a programação já está definida. A ideia fica para análise e eventual aproveitamento no desenvolvimento do calendário da temporada 2019", afirma Leite.
Calendário com um novo formato é uma fórmula diferente para as equipes. (Foto: Globoesporte.globo.com) |
Esta é a segunda reportagem de uma série sobre "bicos" no futebol: jogadores que jogam bola profissionalmente em um período do ano e, depois, desempenham outra atividade remunerada.
Mapa dos jogadores temporários no Brasil
De acordo com o levantamento feito em parceria com o site Rede do Futebol, as regiões Norte e Centro-Oeste têm as maiores concentrações de profissionais temporários (com contratos até seis meses) entre as cinco regiões no Brasil.
Apesar de a região Norte registrar a menor quantidade de profissionais registrados (1.006), é a que tem a maior proporção de atletas com vínculo de até seis meses: 76%.
Três de cada quatro atletas dos clubes da primeira divisão dos estaduais do Norte firmaram contratos temporários.
No Centro-Oeste, a proporção também é alta: cerca de 65%.
Já no Sul e Sudeste, essa margem é menor: 24,5 e 28,6%, respectivamente.
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, estados que dominam as competições nacionais, têm baixos números de contratos temporários na comparação aos demais.
Não por acaso, têm também os campeonatos estaduais mais competitivos.
Estado com menor proporção de temporários, São Paulo tem apenas 15% de contratos com prazo de até seis meses.
Já Roraima é o estado com maior concentração: 91% dos atletas são temporários.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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