quarta-feira, 4 de maio de 2016

Receitas dos clubes

Os clubes brasileiros costumam figurar como péssimos exemplos de administração de suas contas bancárias. 

Mas há boas notícias no balanço financeiro de 2015. 

Ocorreu aumento médio nas receitas, estagnadas desde 2012, e superávit histórico - por conta dos descontos do Profut. 

O resultado prático é a redução de 1,3% no somatório das dívidas dos 20 clubes de maior arrecadação no país mudança alavancada por cinco deles: Vasco, Flamengo, Botafogo, Inter e Bahia. 

A dívida geral dos 20 clubes era de R$ 1 bilhão em 2003. 

Foi subindo ano a ano. 

Exemplos: R$ 2,5 bilhões em 2008, R$ 3,9 bilhões em 2011, R$ 5,4 bilhões em 2013.

Os números fazem parte de um relatório elaborado por Amir Somoggi, especialista em marketing e gestão esportiva. 

Dos 20 clubes presentes no estudo, estes cinco (mais a Ponte Preta, com redução mínima da dívida, de R$ 200 mil) deram um indicativo de alívio no mercado do futebol brasileiro, puxando para o azul uma conta que os demais empurravam ainda mais para o vermelho. 

Detalhe: três são do Rio de Janeiro, normalmente a capital do déficit - Botafogo, Flamengo e Vasco são o primeiro, segundo e quarto maiores devedores, com apenas o Atlético-MG de "estrangeiro" ali, na terceira posição.

A dívida geral dos clubes analisados caiu de R$ 6,4 bilhões para R$ 6,3 bilhões. Desde 2003, é a primeira vez em que ocorre uma redução. 

A maior diminuição é do Vasco: de R$ 596,5 milhões para R$ 467,6 milhões (ou seja, R$ 128,9 milões, o equivalente a 22% do total abatidos). 

O Flamengo vem em segundo: reduziu de R$ 697,9 milhões para R$ 579,3 milhões (R$ 118,6 milhões). 

O Botafogo desceu de R$ 848,4 milhões para R$ 731,1 milhões (R$ 117,3 milhões). 

Os clubes que diminuíram suas dívidas alcançaram reduções de montantes expressivos. Com isso, abafaram o caminho contrário feito por outros clubes. 

O campeão brasileiro Corinthians, por exemplo, pulou de R$ 371,7 milhões para R$ 452,7 milhões - Palmeiras, Grêmio e Santos são outros clubes que apresentaram queda. 

Explicações

Em 2015, a divisão média de arrecadação dos clubes ficou assim: 38% em direitos de TV, 17% em transferências de atletas, 14% em patrocínio e publicidade, 14% em quadro social e amador, 10% em bilheteria e 7% em outros aspectos.
Existem duas justificativas básicas para a diminuição das dívidas: aumento considerável no faturamento (19% a mais que em 2014) e abatimento de dividendos pelo governo federal, por meio do Profut. 

Os clubes analisados arrecadaram R$ 3,7 bilhões no ano passado, melhor valor desde 2012, quando o mercado entrou em período de estagnação.

Dos 20 clubes observados no relatório de Somoggi, apenas quatro não tiveram aumento de receitas: Botafogo, Coritiba, Grêmio e Santos. 

Todos os demais tiveram incremento. Os que mais lucraram foram Cruzeiro, Flamengo, Palmeiras e São Paulo.

Os maiores aumentos em comparação com 2014 foram de Cruzeiro (R$ 141 milhões), Palmeiras (R$ 107 milhões), Inter (R$ 92 milhões) e São Paulo (R$ 78 milhões).

Mundo diferentes: o Cruzeiro arrecadou mais de dez vezes a mais que o Flamengo em venda de atletas em 2015 - R$ 142 milhões contra R$ 12 milhões.

O Cruzeiro ilustra bem a situação: ele é líder geral em arrecadação porque também foi quem mais lucrou nos dois pontos centrais da saúde financeira de um clube - negociação por direitos de TV e transferência de atletas. 

A Raposa teve receita total de R$ 363,8 milhões, com R$ 133 milhões saídos das negociações de televisionamento e R$ 142 milhões da venda de jogadores. 

Em nenhum outro clube o montante da receita saído da negociação de atletas foi tão expressiva quanto no Cruzeiro: 39% do que ele lucrou no ano foi assim (o Flamengo, por exemplo, tirou desse fator apenas 3% de sua receita). 

Se o cálculo fosse feito sem esse fator, os mineiros cairiam para quinto na tabela de arrecadação. Foi a consequência de negociar peças do elenco bicampeão brasileiro em 2013 e 2014. 

Custos com o Futebol 

O Botafogo, na Série B em 2015, diminuiu muito seu investimento no futebol: de R$ 121,2 milhões para R$ 76,3 milhões, uma queda de 37% (a maior entre os 20 clubes analisados).
O alívio financeiro poderia ter sido maior se os clubes não tivessem aumentado o investimento geral com seus departamentos de futebol. 

No balanço das 20 equipes analisadas por Somoggi, houve acréscimo de 11,6% na comparação com 2014. Só seis gastaram menos com o futebol em 2015 do que no ano anterior: Atlético-MG, Flamengo, Botafogo, Coritiba, Bahia e Figueirense.

Em valores brutos, a maior diferença foi do Cruzeiro, cujo investimento passou de R$ 193,5 milhões em 2014 para R$ 306,4 em 2015 (aumento de 58%). 

Em percentual, quem mais aumentou o investimento foi o Fluminense (60%), que se viu obrigado a injetar dinheiro no futebol depois da saída da Unimed.

O Flamengo, preocupado em sanar dívidas, foi disparado o clube que menos investiu, de sua receita total, no futebol: apenas 41%. 

O segundo mais controlado foi o Bahia, que colocou 53% de sua arrecadação no departamento. 

Grêmio e Santos, por exemplo, injetaram apenas no futebol mais dinheiro do que lucraram em todos os segmentos do clube.

Profut

As renegociações e descontos advindos do Profut são fundamentais para explicar o respiro financeiro de boa parte dos clubes. 

Nos 20 analisados, em 2015 houve superávit de R$ 147 milhões o maior da história. Sem ele, porém, a realidade seria radicalmente diferente: um déficit, segundo Somoggi, de R$ 538 milhões. Seria o segundo pior índice já vivido pelo futebol brasileiro.

Dívidas fiscais continuam pesando nos clubes. 

Flamengo e Botafogo são os que mais devem neste sentido: R$ 265,1 milhões. 

O Rubro-Negro, porém, diminuiu o valor em 25% em um ano, ao passo que o Botafogo viu o montante aumentar em 34%.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

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