Veja a louca carreira do ex-Botafogo Honda após deixar o Rio.
Atacante japonês comandou uma seleção à distância enquanto jogava pelo clube carioca, fundou uma equipe e assinou 2 contratos de um jogo com time do Butão, depois de dois anos sem entrar em campo.
Rumar de clube em clube, enfrentar desafios nas mais variadas ligas e ter história para contar: entre os muitos andarilhos da bola, Keisuke Honda, ex-Botafogo, consegue chamar a atenção.
Um dos grande nomes da história da seleção do Japão, ele trabalhou como técnico do Camboja à distância enquanto ainda era jogador, fundou um clube e voltou aos gramados após 2 anos parado para assinar um contrato de uma partida.
Agora, ele está aposentado de verdade, em carreira encerrada no mês passado (ao menos, por enquanto).
Honda teve uma longa carreira que começou em um clube de base do Japão e passou por doze times profissionais no currículo, como CSKA Moscou, Milan e Pachuca.
Em 2020, ele chegou ao Brasil para assinar com o Botafogo.
Mas a história no Rio de Janeiro não terminou tão bem.
O time vivia uma fase de crise, e a chegada do atacante trouxe esperança para os torcedores do clube carioca.
O jogador japonês não alcançou as expectativas em campo e chegou a discordar publicamente de algumas decisões da gestão da época.
Após 27 partidas e 3 gols, Honda pediu para deixar a equipe antes do previsto por "por motivos pessoais e profissionais", segundo ele.
O atacante fez uma carta de despedida em que explicava aos fãs que também se decepcionou com os rumos que teve na equipe.
O Botafogo foi rebaixado naquela edição do Campeonato Brasileiro e voltou à elite do futebol um ano depois, como campeão do Campeonato Brasileiro da Série B.
Aos 34 anos, Honda chegou a ser anunciado pelo português Portimonense depois de sair do Botafogo, mas um erro na interpretação do regulamento impediu que o contrato fosse para frente.
Oficialmente, o atacante japonês ficou 2 meses sem estar vinculado a nenhum clube.
Até que em março ele assinou com o Neftchi Baku, do Azerbaijão.
A trajetória foi ainda mais curta, com menos de 5 meses de trabalho.
Entre o campo e a comissão técnica: A primeira grande aleatoriedade é que durante todo esse tempo, mais especificamente desde 2018 (ou seja, antes mesmo de chegar ao Botafogo), Honda estava trabalhando como treinador e dirigente.
Sim, ele comandava a seleção do Camboja e exercia o trabalho remotamente, já que ainda atuava como jogador.
As funções presenciais da equipe eram realizadas pelo auxiliar do atacante, Felix Dalmas.
Enquanto era anunciado pelo time do Azerbaijão, Honda divulgou a renovação de contrato com a Camboja.
O projeto dele com a equipe visava uma campanha de destaque nos Jogos do Sudeste Asiático de 2023, que seria sediado no país da seleção.
A trajetória dentro dos gramados, entretanto, não tinha chegado ao fim.
Em 2022, depois de quase seis meses parado, Honda foi jogar no Suduva, da Lituânia.
Passou apenas 4 meses defendendo a camisa, disputou 6 jogos e fez um gol.
Outro detalhe importante na carreira de Honda no futebol é que em 2020 ele fundou o Edo All united, clube da primeira divisão amadora.
O time também possui categorias de base para desenvolver o esporte entre crianças e tem o objetivo de alcançar a J League, maior campeonato do Japão, com o conceito de “unificar o mundo a partir de Tóquio”.
Contrato de apenas um jogo (que se tornou 2) Uma grande aleatoriedade, quem sabe a maior, da carreira do japonês aconteceu na mais recente experiência no futebol.
Honda já havia deixado o clube lituânio e estava há quase 3 anos sem atuar quando divulgou que participaria de um jogo pelo Football Club.
Um clube do Butão, nação localizada no leste da cordilheira do Himalaia, montanhosa, de interior e conhecida por seus mosteiros.
O Paro é o maior campeão do humilde Campeonato Butanês, que conta com 10 equipes.
O objetivo do curto vínculo era que o atacante de 38 anos ajudasse o clube em uma partida decisiva.
Como líder da Premier League do Butão, o jogo valia vaga para a AFC (Confederação Asiática de Futebol) Challenge Cup, uma competição que equivale a terceira divisão do continente asiático.
O duelo era contra o Church Boys United, do Nepal, nas rodadas preliminares do torneio, e apenas a vitória servia.
Se o plano desse certo, essa seria a primeira vez que o Paro alcançaria uma competição internacional.
Honda entrou em campo na casa dos adversários com a braçadeira de capitão, meteu bola na trave, deu início ao lance do gol de empate do Paro e jogou os 90 minutos.
Viu o companheiro de equipe William Opoku virar o placar na reta final para 2 a 1 e terminou a partida sendo erguido pelo elenco do Paro, como herói do feito histórico.
O clube se classificou para a fase de grupos da AFC Challenge Cup, mas Honda não entrou mais em campo pela competição.
2 meses depois das preliminares, o japonês anunciou que jogaria mais uma vez pelo Paro, em um novo contrato de um jogo.
O motivo?
"Fiquei satisfeito com o resultado, fizemos uma nova história no futebol do Butão. Por outro lado, eu não estava satisfeito por não conseguir marcar um gol", publicou Honda nas redes sociais.
Desfecho de filme: Além de voltar para jogar, Honda desempenhou um papel de treinador no retorno ao Paro, a pedido da própria comissão técnica, dando dicas para organizar o time.
A partida escolhida para a despedida foi a última da Premier League do Butão e consagrava oficialmente o Paro como maior campeão do torneio, agora com 5 títulos.
O duelo foi contra o Thimphu City e mostrou mais uma vez porquê a história de Honda é digna de cinema.
O atacante se lesionou no duelo da AFC Challengers e ainda sim entrou em campo no segundo jogo e balançou as redes 2 vezes.
O primeiro foi de pênalti, para deixar o placar igual no final do primeiro tempo, e mais um de cabeça nos acréscimos, para garantir o empate em 2 a 2.
Honda ainda quase marcou o gol da virada em um belo voleio defendido pelo goleiro adversário.
Aliás, Honda só tornou público o problema na coxa após a vitória.
O importante é que o objetivo tinha sido cumprido.
O jogo foi em 20 de outubro, e Honda não voltou mais aos gramados desde então.
Em entrevista divulgada pelo clube, Honda garantiu que se não tivesse feito os gols que queria, voltaria em 10 anos para tentar novamente.
E não fechou as portas para a possibilidade de voltar a jogar no Butão ou em outra liga.
No momento, ele se dedica apenas aos negócios através do seu clube amador e do 4v4, outra equipe que ele comanda, mas com foco no futebol com 4 jogadores para crianças ao redor do Japão.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro