segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Superação

"Vamos passar por isso juntos": com apoio do time, técnico das Sereias supera câncer e mira título brasileiro.


Guilherme Giudice relembra batalha pela cura, enaltece força do grupo de jogadoras e coloca a conquista do Brasileiro Série A1 como meta no Santos: "A única pretensão é de ser campeão".

A jornada não foi fácil. 

Em meio uma grande oportunidade, substituir Emily Lima no comando das Sereias da Vila, uma batalha contra um inimigo fora dos gramados persistia. 

Uma história que já não era recente. 

Em 2019, Guilherme Giudice descobriu que tinha câncer em um dos testículos. 

Precisou passar por cirurgia. 

Voltou ao trabalho e, em janeiro deste ano, novamente o diagnóstico: câncer no pescoço e no retroperitônio (espaço anatômico atrás da cavidade abdominal). 

Quem lê esse trecho imagina alguém abalado. 

Não aconteceu com o treinador do Santos. 

Talvez, o sorriso e a objetividade ao encarar tudo isso foi seu combustível ao destino final: a cura.

"E não foi nada pensado "a partir de agora tenho que fazer assim". Foi uma coisa que foi indo. Foi acontecendo naturalmente. E uma das coisas que acho mais legais de mesmo durante o tratamento e depois e de chegar no clube e receber de todo mundo que trabalha no clube, não só quem trabalha no futebol feminino, vir falar: "Pô, Gui, você é um cara que passou por tudo isso com um sorriso no rosto". Acho que era essa imagem mesmo que queria passar. E estava tudo bem e que era uma fase que ia passar. Então eu estava muito feliz mesmo de estar ali no clube de poder estar trabalhando, de ter esse grupo próximo de mim que me ajudou bastante. Acho que fui frio sim em alguns momentos. Até quando me perguntaram se eu tive medo de morrer eu disse que não passou pela minha cabeça isso. Isso me fez ficar bem comigo, com uma cabeça boa e sem dúvida nenhuma ajudou no tratamento também", afirmou Guilherme Giudice em entrevista ao Dona do Campinho.

As jogadoras remanescentes do processo de 2019 começaram a notar o que estava ocorrendo. 

Foi então que Guilherme decidiu que era hora de contar ao grupo. 

A data escolhida foi a véspera do jogo diante do Iranduba, em Manaus, em fevereiro. 

Na partida, o retorno ao treinador e a vitória por 3 a 0 em campo.

"Nesse ano, com as remanescentes do ano passado, que passaram pelo processo de cirurgia, no começo desse ano, quando teve a metástase, elas começaram a perceber. Antes que eu falasse, elas estavam percebendo. No clube, na Vila Belmiro, elas moravam no alojamento, antes delas irem para o quarto delas, elas passavam pela minha sala. Elas passavam pela academia. Elas sempre estavam me vendo entrando e saindo de exames. Até o dia que eu cheguei com o cabelo raspado. Acho que a grande maioria já tinha entendido. Eu achei melhor falar para elas um dia antes do jogo contra o Iranduba, em Manaus. Não estava com o grupo todo, mas foi o melhor momento para falar. Tentei falar de uma forma positiva em que elas entenderiam pelo o que eu estava passando, mas eu também tentei me demonstrar forte. "Vamos lá e eu vou passar por isso aqui. Vocês vão me ajudar, vamos passar por isso juntos". Elas me abraçaram, foi bem legal, recebi muito carinho delas, força, mas também não fiquei falando disso. Só me viam com todo o processo de tratamento, das mudanças que um tratamento de quimioterapia traz para o corpo, percebiam, mas também não ficavam tocando nesse assunto. "Vamos para o treino, vamos para o jogo". E tentei levar isso da melhor forma possível. O que me ajudou muito também", disse.

Atualmente, o Santos é a equipe que briga com o Corinthians para chegar à liderança na tabela. 

Com um jogo a mais, a equipe comandada pelo técnico Arthur Elias soma 36 pontos na classificação. 

Com 30 pontos, as Sereias da Vila entram em campo nesta segunda-feira (5) diante da Ferroviária, às 19 horas (horário de Brasília), na Vila Belmiro. 

As mudanças foram grandes no grupo, e Guilherme diz que a equipe ainda não tem um formato ideal para atuar. 

Em razão do pouco tempo pela pandemia, ele optou por um estilo mais competitivo antes de assegurar um futebol mais vistoso. 

Paciência, palavra que ele conhece tão bem, é o segredo para chegar ao desenho ideal em campo. 

E isso segue em foco.

"Na verdade a gente ainda não tem um jeito formatadinho de jogar. A gente está em um processo ainda de estruturação e eu tenho conversado muito com elas. Acabou até sendo difícil esse ano porque a gente já está no mês 10, mas de trabalho está iniciando o quarto, talvez. Foi muito pouco tempo mesmo. E realmente. Os resultados que a gente consegue ter a gente não vê um futebol tão vistoso, mas sim uma equipe competitiva. Então primeiro estruturar a competitividade da equipe e agora a gente está formatando os esquemas. Eu tenho a ideia de ter mais de um sistema de jogo para a gente não ser uma equipe previsível. Tudo isso está saindo e eu peço muita paciência para elas que com trabalho e tranquilidade a gente vai conseguir fazer bem", declarou.

O objetivo está bem claro na mente de Guilherme Giudice. 

Com Cristiane, Thaisinha, Ketlen e outras grandes atletas no elenco, ele coloca a meta à frente: o título é a única pretensão.

"A única pretensão nossa é de ser campeão. Título. Nessa primeira fase é brigar com o Corinthians até a última rodada para ser líder, ter a melhor classificação possível e vamos disputar o título brasileiro, sem dúvidas", declarou.

Confira outras respostas do treinador:

A importância de ter Cristiane e Thaisinha no elenco: Tê-las na equipe é extraordinário. 

Não tem nada que eu possa falar aqui. 

Tudo é bom. 

O que elas trazem é bom. Tecnicamente, a liderança técnica que elas têm. 

Conversei com a Thaisinha antes desse jogo agora porque a Tayla é a capitã da equipe. 

A Cristiane já foi capitã uma vez. 

E a Tayla ficou fora por alguns jogos, teve uma lesão e eu conversei com a Thaisinha sobre as lideranças. 

É importante a gente ter vários tipos de liderança. 

E as duas são líderes técnicas. 

As outras jogadoras olham para elas e falam: "Pô, que bom que tem essas duas aqui no nosso time". 

É muito bom tudo que elas passam e representam para o futebol feminino brasileiro e mundial.

Aposta na base: Nós optamos por ter uma equipe esse ano com bastante meninas da base. 

São seis meninas que vieram da base. 

E elas terem Thais, Cristiane e outras jogadoras como exemplo é muito legal. 

Só trás coisas boas. 

A relação com elas é muito fácil. 

Elas estão muito para ajudar o grupo. 

São jogadoras de equipe mesmo, de grupo. 

Contribuem ao máximo para que tudo ande bem e preocupadas com a formação das outras jogadoras. 

A Ketlen acabou adotando as meninas mais jovens, está muito próxima delas. 

É uma referência aqui no Santos não só pelo centésimo gol que fez agora, uma marca histórica, mas por toda a história que ela tem no clube, de títulos e também chegou muito cedo no clube como essas meninas. 

Ela se vê muito no papel delas ali e ela pode contribuir muito com o desenvolvimento de cada uma dessas meninas.

Reformulação do elenco: Foi uma decisão importante nossa ano passado. 

Fazer a reformulação da equipe. 

Tínhamos atletas no Santos que já estavam lá há bastante tempo. 

Era importante renovar e reestruturar. 

Foram as coisas acontecendo. Eu e nosso gerente, o Alessandro, a gente conversou bastante. 

"Vamos usar isso como estratégia". 

Todas as equipes anunciando contratação e nós anunciando saídas. 

Todo mundo falando "o Santos não vai ter time", mas nós já tínhamos as jogadoras acertadas já. 

"Vamos usar de estratégia, vamos deixar o pessoal achar que o Santos não vai ter equipe e daqui a pouco a gente anuncia nossa equipe". 

Acabou sendo legal e acabou criando essa expectativa e a nossa torcida pegou no nosso pé. 

Conseguimos montar um elenco maravilhoso e que ajuda nesse processo que comentei. 

O fato de ter jogadoras no nível delas ajuda demais.

Reportagem: Globoesporte.globo.com

Adaptação: Eduardo Oliveira

Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro

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