Proibição de registros a ameaça de rebaixamento: entenda os riscos dos clubes com dívidas na FIFA.
Clubes enfrentam dívidas na FIFA e estão sujeitos a punições em caso de descumprimento de prazos. (Foto: Infoesporte) |
Sport, Cruzeiro, Atlético-MG, Palmeiras e Santos estão entre os times com questões judiciais que foram parar na entidade máxima do futebol.
Com € 1 milhão (cerca de R$ 6 milhões na cotação atual) pendente na Fifa, o Sport está em um momento decisivo para solucionar a dívida com o Sporting, de Portugal, referente à compra de André. Caso não efetue o pagamento, o clube pode sofrer sanções da entidade máxima.
A situação vivida pelo Rubro-negro, no entanto, não é incomum no futebol brasileiro.
Só neste ano, equipes como Cruzeiro, Palmeiras, Fluminense, Atlético-MG e Santos passaram pelo mesmo problema.
Fatos que suscitam questionamentos.
Como funcionam os processos na FIFA?
O que podem esperar clubes e torcedores quando uma dívida chega lá?
Antes de tudo, é preciso entender que nem todo processo vai parar na FIFA.
O clube credor precisa comprovar que tentou receber o pagamento por outras vias para ingressar com um processo.
Feito isso, a entidade máxima recebe o caso, e o trâmite segue um ritual, que começa podendo ser dividido em dois caminhos: Comitê de Status do Jogador (PSC) ou Comitê de Resolução de Disputas (DRC).
Essas instâncias não diferem em prazo, segundo os advogados especializados em direito desportivo, Rafael Botelho e André Sica.
Elas, por outro lado, têm competências distintas.
DRC conduz disputas entre:
Clubes e jogadores por manutenção do contrato;
clube e jogador de dimensão internacional por questões trabalhistas;
Clubes por discussões relacionadas a "training compensation" e ao "mecanismo de solidariedade"
Entre clubes que pertencem a diferentes associações;
Clubes da mesma associação, desde que a transferência do jogador envolvido ocorra entre clubes pertencentes a diferentes associações;
E o PSC trata de disputas entre:
Clube e treinador de dimensão internacional por questões trabalhistas;
Clubes pertencentes a diferentes associações que não se enquadram nos casos previstos.
O caso do Sport está sendo conduzido pelo PSC, pois o clube está ligado à CBF (Confederação Brasileira de Futebol), enquanto o Sporting é vinculado à UEFA (União das Associações Europeias de Futebol).
O Fluminense, condenado em cerca R$ 16,8 milhões pelas compras de Sornoza e Orejuela junto ao Independiente del Valle, do Equador, responde no DRC por ser um clube sul-americano.
Assim como o Palmeiras, acionado em $ 3 milhões pelo Atlético Nacional (Colômbia), sobre a compra de Borja.
O time alviverde diz que vai recorrer ao CAS/TAS.
Cruzeiro e Santos respondem em ambas as câmaras, até porque colecionam processos, que envolvem diferentes associações.
A Raposa, afundada em dívidas, tem R$ 81 milhões em débitos na FIFA.
Só em maio, precisa pagar R$ 26 milhões, e com pedido de adiamento dos prazos negado.
O Peixe é alvo de ações por contratações de atletas, falta de pagamento e discussão contratual.
Uma delas, inclusive, pela negociação do zagueiro Cleber Reis junto ao Hamburgo (Alemanha) (R$ 15 milhões), resultou na proibição do clube contratar reforços.
Relembre alguns casos:
Sport estoura prazo para pagar dívida por André e busca acordo para não ser punido pela FIFA.
Fluminense é condenado em R$ 16,8 milhões na FIFA por dívidas por Sornoza e Orejuela e costura acordo com Del Valle.
Atlético Nacional diz que decisão da FIFA obriga o Palmeiras a pagar dívida pelo colombiano Borja.
Santos coleciona processos milionários e se complica na Fifa; veja lista e os detalhes dos casos
FIFA não dá brecha em meio à crise, e Cruzeiro tem R$ 26 milhões a pagar até maio.
O que acontece em caso de punição: Caso punidos pela FIFA, os clubes podem recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte (CAS/TAS).
Mas, quando os motivos da decisão não são comunicados, por opção da câmara, a equipe pode solicitar a justificativa à entidade para poder recorrer.
De acordo com Rafael Botelho, é comum que os devedores se utilizem desse pedido para postergar o pagamento.
“Demora 60, 90 dias, e suspende o efeito até que a FIFA entregue os fundamentos. Quando chega, você pode apelar, e o prazo vai passar a contar a partir do momento que você recebê-los.”
O Sport, chegou a cogitar recorrer ao CAS/TAS para discutir juros e multa, mas havia o receio de que a pena fosse ainda mais dura.
Sem recorrer da decisão, o clube punido tem 45 dias para quitar a dívida.
De acordo com o Artigo 15 do Novo Código Disciplinar da FIFA, caso não cumpra, será multado e receberá um prazo final de 30 dias para pagar.
Não obedecendo ao limite, a equipe terá a proibição de transferências pronunciada.
De acordo com Rafael Botelho, no entanto, essa ordem geralmente é seguida para clubes que são réu primário.
Quando há recorrência, a tendência é de que, após os 45 dias, exista uma sanção mais grave que uma multa.
Em geral, é a proibição de registrar atletas, mas a entidade também pode determinar punições como perda de pontos e rebaixamento.
“Houve uma mudança na regra. Antes, eu acusava, você respondia, eu tinha direito a réplica e você a uma tréplica. Eram duas comunicações, e a Fifa demorava muito. Agora, se entrei com uma ação e você respondeu, a menos que alegue uma contradição grande, a FIFA parte para a decisão. Cortou metade do prazo.”
Mesmo em meio à pandemia causada pela Covid-19, a entidade afirmou que não vai abrir exceções para o cumprimento de decisões.
Assim, depois de aplicada uma sanção, o caso só será encerrado apenas com o pagamento da dívida.
Neste processo, o CAS é considerado o órgão máximo em que se pode recorrer das decisões da entidade.
No entanto, os advogados explicam que, em algumas situações, é possível levar ainda ao Superior Tribunal Federal da Suíça, sede da FIFA.
Mas raríssimos casos chegam a esse ponto, diz Botelho.
“Você não pode apelar contra o mérito da decisão. Se não tiver um erro processual, nada acontece. Porque ele não reverte a decisão. Se tiver um erro, ele cancela e vai ser julgado de novo.”
Notificado da decisão da FIFA em 4 de março deste ano, o Sport corre contra o tempo em meio ao prazo de 30 dias para quitar a dívida.
Sem negociação com o Sporting, que negou proposta de parcelamento e concessão de direitos dos pratas da casa Juninho e Adryelson, o Rubro-negro tenta uma composição através da CBF para evitar punições.
Reportagem: Globoesporte.globo.com
Adaptação: Eduardo Oliveira
Revisão de Texto: Ana Cristina Ribeiro
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